CAPÍTULO 6

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Ainda assim, ela torcia pelo melhor. Milagres aconteciam todos os dias.

- Mamãe? Papai? - Samson chamou tremulamente.
Mordendo o lábio por dentro, ela balançou a cabeça.

- Nós não sabemos ainda.
Lágrimas verteram dos olhinhos dele.

- Quero a mamãe.

- Eu sei. Ela também quer estar com você. E veja... - Ela caminhou até a lareira, onde o príncipe Julian estava. - ... o tio Julian veio te buscar. - Os olhos castanhos e sérios os observavam.
O descontentamento dele com aquela conversa era visível na tensão dos ombros dele. Ele logo aprenderia que Sammy reagia melhor a informações do que conversinhas fiadas. - Ele veio para te levar para casa.

- Tio Julian. - O menino estudou o homem por um minuto, e então a surpreendeu ao estender os braços, indicando que queria ir para o colo do tio.
Julian arregalou os olhos quando ela colocou o menino nos braços dele. Ele então pigarreou,
claramente sem saber o que fazer com o sobrinho.

- Isso é bom - sussurrou ela, para não atrapalhar o momento. Mas ela ainda ficou perto o suficiente
para ser engolfada pela essência masculina dele e o cheiro de xampu de bebê.

Aquela era a primeira vez que Sammy ia voluntariamente para os braços de outra pessoa. Era uma demonstração de confiança que viria a ser boa no futuro.

- Mamãe? Papai? - perguntou ele para o tio.

Julian olhou para ela.
Katrina deu de ombros e cruzou os braços sobre o peito.

- Fale com ele. Esse menino é muito inteligente. Ele não conversa muito, mas entende mais do que você imagina.
O ceticismo espalhou-se pela expressão dele antes de voltar a atenção para Sammy. Ele ergueu a criança, para ambos ficarem cara a cara.

- Samson - começou ele, e por um instante ela achou que ele ia dar uma lição no jovem príncipe
sobre dever e decoro. Mas o olhar intenso de Sammy deve tê-lo distraído. - As melhores equipes de busca estão atrás deles. Eu também quero vê-los.
Mais lágrimas escorreram pelas bochechas de Sammy. Ele agarrou as orelhas de Julian e aproximou- se, juntando sua testa com a do tio. Os dois compartilhavam um momento de perda e esperança.
O momento comovente fez Katrina secar o próprio rosto.
A emoção deve ter falado mais alto em Julian, fazendo-o apertar Sammy com tanta força que ele
esperneou. Ele virou e estendeu os braços para ela.
Ela olhou para Julian, detestando ter que acabar com aquele momento de proximidade, mas ele parecia feliz em lhe entregar a criança. Esperando que Sammy finalmente voltasse a dormir, Katrina o levou até o quarto onde o berço fora montado.
Ele balançou a cabeça freneticamente e começou a chorar.

- Não. Não quelo.
Ao invés de forçar a barra, ela recuou. E deu de encontro com um corpo forte e masculino.

- Oh! - Ela virou-se, mesmo ele tendo colocado as mãos na cintura dela, e de repente ela descobriu- se nos braços do príncipe. Ela olhou para cima, acima daquele queixo obstinado, dentro de olhos feitos
de ouro derretido. Ah sim, com certeza aquele era o irmão mais bonito.

- Desculpe. - Ela recriminou-se mentalmente pelo guincho que sua voz produziu e se afastou. Ou
melhor, tentou. Os dedos dele prenderam com força a cintura dela conforme o olhar lascivo dele viajava do decote do roupão para o ponto pulsante do pescoço dela, passando pelo lábio que ela mordia e finalmente chegando aos olhos. Ela ficou fria, mesmo sentindo um arrepio na espinha e o pulso acelerado.
Hora errada.
Lugar errado.
Homem errado.
Mulher errada.
Ele obviamente concordava, pois as mãos dele a soltaram e ele se afastou.
Suspirando de alívio, ela passou por ele. Julian foi até a lareira, atiçar o fogo. Homem erradíssimo. Se
um dia ela conseguisse resolver seus problemas de confiança, desejaria um homem bondoso e uma vida simples. Dois pontos contra o príncipe Julian.
Certo, ela não estava sendo justa. Aquela não era a melhor das circunstâncias. Ele obviamente estava sob muita pressão.
Os braços dela estavam começando a arder de cansaço, então ela sentou-se no sofá antigo e confortou Sammy em seu ombro. Ele não queria, mas estava muito cansado. Lembrando-se de uma das
historinhas favoritas dele, ela começou a contar sobre um trem chamado Thomas, enquanto acariciava lentamente o fino cabelo louro da criança. Depois de tudo que ele passara, esperava que ele não demorasse muito a dormir.
Graças a Julian. Ele podia ser brusco e rude, mas ganhou pontos por colocar as necessidades de Sammy antes das próprias. Ela sabia que ele preferia deixar Pasadônia e nunca mais olhar para ela.
Ainda assim, ele a procurou ao invés de deixar que Sammy chorasse até dormir de exaustão.
Ela abafou um bocejo, forçou os olhos a ficarem abertos e pulou uma parte da história.
Talvez existisse mesmo um pouco de bondade oculta em algum lugar do príncipe frio.

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