JULIAN CORTOU um pedaço de pão distraidamente, incapaz de focar na deliciosa refeição oferecida pelo
talentoso chef do palácio.
Ele ficava revivendo o instante em que seu sobrinho se afastou dele com um choro desesperado. Isso partiu seu coração, fosse como provável guardião da criança, fosse como homem. Julian e o pai eram os parentes mais próximos. Samson deveria procurar conforto nele, e não nos braços de uma estranha.
Mesmo que aqueles braços fossem macios e com aroma da florada das macieiras. Ou que a estranha o protegesse ferozmente, com um olhar violento e uma juba de ricos cachos. A mulher mal alcançava a altura dos ombros de Julian, mas, mesmo assim, estava pronta para arrancar a cabeça dele por perturbar o sono de Samson.
Provavelmente uma consciência pesada. A fúria incendiou os nervos já aflitos ao pensar que aquela maluca intrometida tinha causado algum trauma em Samson por dizer que os pais dele não iam voltar mais. Mesmo que isso se provasse verdade,
era uma notícia que ele teria que ter dado, com o menino no conforto da família. E depois que Julian tivesse tido a chance de discutir o assunto com um profissional, para descobrir a melhor forma possível
de abordar a questão sem o risco de causar o dano que Samson já estava sofrendo.– Meu amigo, você deveria comer. – disse Jean Claude, príncipe de Pasadônia. – Os próximos dias
serão difíceis. Você precisará de todas as suas forças.– A refeição está deliciosa. – Julian separou um camarão suculento do prato apetitoso. – Desculpe pela minha falta de apetite.
Ele geralmente sabia apreciar uma refeição requintada, mas a
preocupação o estava impedindo naquela noite. Mesmo assim, ele estava grato pelos esforços do casal real. Além disso, eles haviam fornecido um lar seguro para Samson nos últimos dois dias.
Fisicamente falando. Eles obviamente precisavam de babás com melhor treinamento.
Ao sentir um toque suave sobre os dedos, ele descobriu o olhar complacente de Bernadette.– Sei que sua mente está lotada de coisas nesse momento. Não imagino como você está aguentando.
– É difícil – concordou ele, perguntando se deveria deixar a mão onde estava ou retirá-la. Ele
respeitava a oferta dela de apoio, mas o toque estava lhe deixando desconfortável. Era por causa de
situações embaraçosas como aquela que ele preferia evitar eventos sociais.– Espero que saiba que estaremos ao seu lado, não importa qual seja o resultado das buscas – afirmou Jean Claude. – Claro que esperamos que o resgate seja um sucesso, Donal e Helene estão em nossas preces, mas sei que você está também se preparando para o pior. Se há algo em que eu possa ajudar,
não hesite em pedir.– Você me conhece muito bem, meu amigo.
Ele o conhecera quando tinha 14 anos. A família de Julian estava visitando Pasadônia para presenciar a coroação do novo regente, o príncipe Jean Claude Antoine Carrere. Ele fora gentil com uma criança envergonhada em uma ocasião em que ele poderia ser perdoado pela agenda abarrotada. O relacionamento dos dois cresceu ao longo dos anos, e Julian via em Jean Claude um de seus amigos e conselheiros mais próximos.
– Estou atordoado com tudo que precisa ser feito. Mas na verdade não consigo focar em nada além
de encontrar Donal.– É compreensível – assentiu Jean Claude. – Meus especialistas estão de olho no tempo e me avisarão
assim que tiverem alguma atualização.– Eu agradeço. Estou ansioso para voltar a cuidar das operações.
– Sim. É uma pena que a condição de Sammy o tenha atrasado. É admirável da sua parte colocar as necessidades dele antes das suas.
Julian cerrou os dentes.– Foi inquietante saber que ele descobrira sobre o desaparecimento.
– Não foi intencional. – Bernadette apressou-se para garantir.
– Tessa...– Com licença, Sua Alteza. – O assistente de Jean Claude apareceu e lhe entregou uma pasta. – O boletim meteorológico. E a ligação que o senhor estava esperando.
– Eu não devo demorar. – O príncipe olhou para o boletim e o entregou para Julian. – Nenhuma
mudança. Preciso atender essa ligação. Vamos conversar antes de você partir pela manhã. Bernadette.
A princesa circundou graciosamente a mesa e deu um beijo na bochecha de Julian.– Fique e termine a comida. Nosso assistente lhe mostrará seus aposentos.Ele limpou a garganta.
– Não se preocupe comigo.
Ela suspirou.– Mas eu me preocupo. Boa noite, mon ami. Se deseja tomar um pouco de ar fresco, use o jardim de inverno. A imprensa está por toda parte.
O príncipe e a princesa saíram de mãos dadas para resolver o que quer que fosse.
Por um instante Julian teve inveja de seu amigo. Ia ser bom ter alguém com quem conversar naquele instante. Devido à condição frágil do pai, Julian não podia sobrecarregá-lo com preocupações e não seria apropriado discutir assuntos familiares com estranhos.
Sem fome, ele seguiu o assistente até o quarto. Quando a porta do elevador se abriu, o choro de
Samson lhe indicou o caminho.
Ele correu até a porta e esperou impacientemente até o assistente abri-la. Lá dentro ele encontrou
Tessa ninando o menino, ambos vertendo lágrimas.– Qual o problema? – exigiu ele saber.
– O médico mandou que eu o acordasse para verificar as pupilas dele. Só que ele não quer voltar a dormir. E nada faz com que ele pare de chorar.
– K-Katina – chorou Samson, e sua mensagem foi clara.
– Ele fica chamando por ela – revelou Tessa, a súplica nos olhos dela tão desconcertantes quanto as lágrimas de Samson.
Julian cerrou os punhos. Aquela mulher lhe causara problemas; recorrer a ela por ajuda ia contra
tudo em que ele acreditava.
Ele tentou achar uma solução, mas sua falta de experiência em lidar com crianças e mulheres o
deixou perdido. Considerando a distração como uma opção, ele tentou pegar o menino.– Não! – Samson gritou, afastando Julian. – Katina!
Desamparado, Julian ligou para o porteiro pedindo informações sobre Katrina, e descobriu que ela possuía aposentos no palácio. Sorte dele, senão estaria procurando-a nas ruas de Pasadônia. Em pouco tempo estava diante do quarto de Katrina. Ele desejava uma maneira mais formal de apresentação, mas, em meio a toda aquela confusão, não haviam sido apropriadamente apresentados.
Uma empregada atendeu a porta, curvando-se.
– Sua Alteza.– Preciso falar com Katrina. – Ele passou pela porta e pela empregada.
–Ela está dormindo. Estou seguindo as ordens médicas. Eu a acordei há meia hora para ver se ela estava bem.
– Não estou aqui por causa do ferimento. _Pela porta entreaberta do quarto ele viu a ruiva. A luz que vinha da sala recaía sobre a cama e a
mulher adorável. Cílios longos sobre o rosto pálido. As olheiras eram uma violação da perfeição de porcelana dos traços dela. Independentemente do que Katrina tinha feito, ele não podia negar que ela dera tudo de si para cuidar de Samson.
De repente pareceu-lhe errado perguntar mais coisas sobre ela. Mas, em nome de Samson, ele
precisava.
– Desculpe incomodar, mas preciso que Katrina venha comigo. Meu sobrinho precisa da ajuda dela.– Oh. – A mulher pareceu incerta, e depois assentiu. – Eu vou acordá-la. – Ela então entrou no
quarto e fechou a porta.Ele caminhou impacientemente pela sala, desejando estar em qualquer lugar que não ali.
As pessoas o chamavam de frio. E talvez ele fosse, desde que preferir ordem e calmaria fosse um atributo de uma pessoa fria. Ele precisava das duas coisas para fazer seu trabalho. Gerenciar o tesouro
de seu país, incluindo a parte financeira e a segurança, exigia uma mente clara e focada em um
propósito. Julian podia trabalhar sob pressão, mas raramente o fazia. Ele tinha a capacidade de ver o plano maior, de traçar padrões e tendências. Então ele criava e diversificava planos de contingência. O que lhe
permitia agir antes do mercado.
Alguns diziam que era mágico, outros o chamavam de vidente. Que nada. Era só a maneira como a mente dele trabalhava. Ele gostava de aprender coisas, e o cérebro dele absorvia conhecimento como
uma esponja. Ele se surpreendia com os fatos que conhecia, às vezes. As pessoas, por outro lado, eram um mistério para ele. Assim como a tendência delas de
demonstrarem emoções.
Solteiro aos 30, ele era feliz em seu papel de herdeiro sobressalente. Embora o pai ocasionalmente mostrasse o desejo de que ele encontrasse uma mulher adequada para começar uma família, a pressão
diminuíra depois que Donal se casara com Helene e Samson nascera.
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A Arte Da Paixão (Arlequin )
Roman d'amour~ʙᴇɪᴊᴏ ʀᴏᴜʙᴀᴅᴏ ᵉⁿᶜᵃʳʳᵉᵍᵃᵈᵃ ᵈᵉ ˢᵉʳ ᵃ ᵇᵃᵇᵃ́ ᵈᵒ ʰᵉʳᵈᵉⁱʳᵒ ᵃᵒ ᵗʳᵒⁿᵒ ᵈᵉ ᵏᵃʳᵈᵃⁿᵃ, ᵏᵃᵗʳⁱⁿᵃ ᵛⁱᶜᵉⁿᵗᵉ ᵗᵉʳᵃ́ ᵈᵉ ᵉⁿᶠʳᵉⁿᵗᵃʳ ᵘᵐᵃ ᵗᵃʳᵉᶠᵃ ᵃⁱⁿᵈᵃ ᵐᵃⁱˢ ᵈᵉˢᵃᶠⁱᵃᵈᵒʳᵃ: ᶜᵒⁿᵛⁱᵛᵉʳ ᶜᵒᵐ ᵒ ᵃᵗʳᵃᵉⁿᵗᵉ ᵗⁱᵒ ᵈᵃ ᶜʳⁱᵃⁿᶜ̧ᵃ, ᵒ ᵖʳⁱ́ⁿᶜⁱᵖᵉ ʳᵉᵍᵉⁿᵗᵉ ʲᵘˡⁱᵃⁿ. ᵈᵉˢᵉˢᵖᵉʳᵃᵈᵃ ᵖᵃʳᵃ ᵐᵃⁿᵗᵉʳ ᵉⁿᵗᵉʳʳᵃᵈᵒˢ...