A Arte Da Paixão (Arlequin )

CAPÍTULO 15

Katrina caminhou nervosamente pelo quarto enquanto Sammy via um filme no DVD. Ela sabia que
ele logo dormiria. Desde a chegada do tio, ele começara a se comportar maravilhosamente.
Ela girou o anel em seu dedo, sentindo-se perdida enquanto esperava para descobrir a natureza das notícias que Julian recebera. O fato de ser o presidente ligando parecia ser significante. Ela queria estar
com ele, mas, pelo comportamento de Julian,
deveria deixá-lo sozinho.
Igualmente importante era não deixar que Sammy ouvisse nada que não deveria. Todos já haviam aprendido a lição. Que pena ela não ser boa em aprender as próprias lições, como o fato de não
conseguir permanecer imparcial.
A mãe dela mostrou-se preocupada quando Katrina anunciou pela primeira vez que queria ser babá
no palácio. Katrina tinha só 8 anos na época. Ainda assim, ela se lembrava das palavras da mãe:

- Você tem um coração tão grande... temo que irá se machucar. Uma babá precisa tomar cuidado para não se apegar. Você, minha querida, se importa demais com as pessoas.
Esse sempre foi seu problema. Sammy já conseguira conquistar o coração dela e, pelo visto, o do tio dele. Mas a mãe dela estava certa - Katrina não podia se dar ao luxo de se apegar.

Katrina quase tirou o anel, de tanto girá-lo. O problema com ela e Julian é que eles sempre se
esqueciam que ela era a babá. Ela, por se aproximar demais, e ele, por vê-la apenas como a afilhada de Jean Claude. O ressurgimento dos modos estoicos dele era um indicativo de que ele recobrara o bom
senso. Agora era a vez dela.
Ela abriu a porta ao ouvir uma batida e deparou-se com Neil no corredor. Ela afastou uma pontada de decepção.

- Vossa Alteza gostaria de falar com você no lounge - anunciou ele.

- São más notícias? - sussurrou ela, ansiosa para saber o que estava acontecendo.

- Não discuto assuntos reais - respondeu ele inexpressivamente.

- Claro. - Ela encarou a descrição dele como um lembrete de que aquele não era o reino ao qual
estava acostumada. Era hora de começar a se separar emocionalmente de Sammy. E do tio dele. - Você
pode olhar Sammy? Ele não vai dar trabalho, acho que dormirá logo.
Neil concordou e entrou. Katrina limpou as mãos nos quadris e foi para o lounge.

Julian estava parado olhando a janela, com as mãos nas costas. Ao experimentar um déjà vu, ela
diminuiu o passo e recordou sua nova resolução. Olhou para a vista, que consistia em muita neve e um borrão de árvores. Duvidava que ele estivesse reparando em alguma coisa.

- Sua Alteza. - Ela parou a uma distância respeitável.
Ao som daquela voz a postura dele ficou ainda mais rígida, se é que isso era possível.

- Donal e Helene estão mortos.
Katrina fechou os olhos, lutando contra as lágrimas que ardiam. Embora esperada, aquela era uma notícia que feria. Porém, logo ela se recobrou e focou em Julian. As palavras eram secas e ásperas, como se ele tivesse engolido um punhado de granito.

- Minhas condolências - sussurrou ela. E então, porque parecia ser o mais adequado, ela
acrescentou: - Em que posso ser útil?

- Nós vamos fazer uma parada para pegar os corpos antes de chegarmos a Kardana. Haverá um atraso enquanto aguardamos por eles. Pode levar alguns dias para eles serem transportados pela montanha. Jean Claude aprovou o uso do vagão para a viagem toda.

- Claro, meu senhor. - Tão contido, tão impassível. Ela fincou as unhas nas mãos para conter a vontade de se envolver. - Mais alguma coisa?
Ele virou-se, e ela prendeu a respiração. O maxilar teso, e o lustre de desespero naqueles olhos dourados indicavam a luta para se manter composto. Ele era um homem que acabara de perder o irmão.

- Sim. Sei que é extremamente inapropriado perguntar isso. - Ele fixou o olhar em um ponto sobre o ombro dela, incapaz de encará-la nos olhos. - Você, é claro, tem a liberdade de recusar.
A hesitação atípica dele partiu o coração de Katrina.

- O que posso fazer?
Os olhos dele encontraram os dela, e ele engoliu em seco.
- Você pode segurar a minha mão?