CAPÍTULO 8

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Não, não, não. Ela deixara um homem tocá-la. Pior ainda: ela estava de beijos com o príncipe!

– Mon Dieu, sinto muito. – Ela se afastou e olhou para Sammy, que havia sido amassado entre os
dois.

Ele franziu a testa, juntando as sobrancelhas minúsculas, mas não acordou. Em alguma hora da
noite, ele havia passado para o colo de Julian. Sem olhar para o príncipe, ela pegou Sammy com
cuidado e o levou para o berço. Antes de sair ela acendeu a luz e verificou as pupilas dele, suspirando
de alívio ao ver que elas estavam normais.
Sem poder enrolar mais, ela voltou para a sala, onde encontrou Julian atiçando as brasas na lareira.

– Sua Alteza – começou ela.

– Pare. – Ele colocou o atiçador no chão e virou-se para encará-la, mantendo as mãos atrás das
costas. – Você já pediu desculpas. Agora é minha vez.

– Não, por favor. – Que constrangimento. – Eu o beijei. Foi culpa minha. Eu acordei em seus braços,
e foi muito doce de sua parte deixar Sammy dormir. Achei que você era meu antigo namorado. Meu Deus. O cheiro era diferente, mas a sensação tão boa...

– Você está tagarelando, mademoiselle. – Ele suspirou, um ato de exasperação, para ela. – Qual o seu nome completo?

– Katrina Lynn Carrere Vicente. – Ela fez uma careta assim que as palavras saíram de sua boca.

– Carrere? – Claro que o nome chamou a atenção dele. – Você é parente de Jean Claude? – O tom
dele tornou-se mais sério. – Por favor, diga que você não é parente do príncipe.

– Distante – confessou ela. – Por parte de mãe. – Ela não mencionou que o pai dela era um amigo íntimo do príncipe. Não era preciso piorar as coisas.
A cabeça dele pendeu para frente. Ele murmurou algo como:
– A situação está ficando cada vez melhor.
E ela achava a mesma coisa.
Mas a exibição de sentimentos durou apenas um instante. Ele rapidamente endireitou os ombros e se recompôs.

– Mademoiselle Vicente, aceite minhas sinceras desculpas. Eu jamais deveria tê-la tocado.– Sua Alteza.
Ele balançou a cabeça.– Vou demonstrar meu arrependimento para o príncipe pela manhã.

– Não. – Os olhos dela se arregalaram de choque. Ela sentiu o estômago revirar. A última coisa que
queria era que a família real soubesse que ela se insinuou para um convidado. Não conseguiria lidar
com outra desgraça. –Prometa-me que não fará isso.

– Eu devo. Eu ofendi um membro da família dele.

– Não ocorreu nenhuma ofensa. Nenhuma – garantiu ela. – Você foi um perfeito cavalheiro.
Os olhos dele se estreitaram, censurando-a.

– Eu coloquei minha língua na sua boca. Uma atitude que está longe de ser a de um cavalheiro.

– Mas você manteve suas mãos acima da minha cintura. Eu as quis em mim... – Ela parou de falar quando os olhos dele se estreitaram ainda mais, sombriamente. O que ela estava fazendo?

– Prometo que não estou ofendida. Os últimos dias foram duros para todo mundo, e encontramos um momento
de conforto entre nós. Foi só isso que aconteceu.

– É assim que você vê? – Os ombros dele relaxaram um pouco.
Era tudo em que ela podia acreditar.

– Sim. Você segurou Sammy e eu enquanto dormíamos, algo que nós dois precisávamos
desesperadamente. E algo de que você precisa, também. O beijo veio do conforto desse gesto. Você vai embora pela manhã. Não podemos esquecer que isso aconteceu?
Ele a estudou em silêncio por tanto tempo que ela começou a ficar nervosa. Finalmente, ele fez um aceno.

– Venha aqui.
Desconfiada, ela forçou-se a deixar a apreensão de lado e aproximou-se lentamente, até precisar erguer a cabeça para olhar para ele. Ele a encarou, seu olhar penetrante. Novamente ele a deixou aturdida por tamanha intensidade. Será que ele esqueceria a indiscrição dela?

– Sim?

– Só checando suas pupilas – afirmou ele. – Como você se sente? Náusea?
A pergunta a confundiu até ela se lembrar da concussão.

– Não – afirmou ela. Ele achava que o ferimento havia afetado o raciocínio dela? Não, apenas as
ações. Era a única desculpa em que ela conseguia pensar para justificar aquela atitude tão peculiar. –Estou bem.

– É o que parece. Bom, Tessa está no quarto ao lado. Você pode usar a cama no quarto de Samson.

– Obrigada. – À menção da cama, a fadiga veio com tudo. – Eu verifiquei Sammy ao colocá-lo no
berço. Ele está bem.

– Que bom. – Ele então se voltou para a lareira, claramente dispensando-a. Mas Katrina não podia ir embora sem saber se ele iria falar com o príncipe pela manhã ou não. A
perda de sua carreira era a última de suas preocupações. Ela respeitava e honrava as pessoas do palácio e não desejava nenhum tipo de constrangimento a eles. Não de novo.
Ela não iria suportar se o pai ficasse sabendo. A desgraça poderia prejudicar a amizade dele com o príncipe.

– Por favor, Sua Alteza – ousou perturbá-lo. – Eu preciso saber se planeja revelar minha indiscrição ao príncipe.
Ele não se virou.

– Farei como deseja. Nós simplesmente compartilhamos um momento de conforto.

– Obrigada. – Katrina então se afastou, louca para deixar o encontro deles para trás. A reputação de Julian não lhe fazia justiça. Naquela noite, ela estava muito agradecida pela misericórdia dele.

O SONO fugiu de Julian. Ele se preocupava com Donal, com o pai dele, com Samson, enquanto o senso de dever batia de frente com sua inclinação de ficar nos bastidores. Cada instinto de seu ser se rebelava contra a ideia de perder o irmão.
Às 5h ele desistiu de tentar dormir e pediu um belo café da manhã e uma série de itens para Samson
e a babá. Em antecipação à viagem, pediu que Tessa fosse acordada para arrumar as coisas dela e de Samson.
Ele já estava pronto quando ouviu uma batida na porta. Olhou de relance para a porta do outro quarto. Não ouvira sons vindos dali, um sinal de que Samson estava tendo o descanso de que precisava.
Abriu a porta e encontrou o café da manhã e a senhora do palácio.

– Bernadette. – Ele curvou-se. – A esta hora, a que devo tal honra?
Ela adentrou graciosamente o quarto.

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