CAPÍTULO 10

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A recuperação foi uma jornada longa, com Donal e Julian assumindo cada vez mais as
responsabilidades do pai.
O pai de Julian encolheu diante de seus olhos ao saber do ocorrido. Seu primeiro pensamento foi Samson. Ele mandara o filho viajar imediatamente para Pasadônia.
– Não vou mentir. – Embora ele ainda devesse manter as aparências. – Foi um golpe duro. Como você pode imaginar, ele está louco para ver o neto.

– Sim, claro. Como está Samson? Creio que não tenham ocorrido complicações depois da concussão.
Ela devia estar por dentro de tudo que acontecia ali no palácio.

– Ele e mademoiselle Vicente estavam bem quando eu chequei, noite passada. Ranhetas, mas bem.
Outra risada sonora.

– Com certeza não é divertido ser acordado no meio da noite. Pobre Julian. Os últimos dias foram difíceis. Você tem notícias da França?

– Ouvi dizer que a tempestade está começando a diminuir, mas não na altitude em que eles
imaginam que o avião caiu. A equipe de elite vai chegar ao local em breve.– Eu verifiquei os horários de trem, e eles vão atrasar de uma a duas horas, para a limpeza de
algumas seções dos trilhos. Também verifiquei que muitas estradas estão fechadas. O trem é sua única escolha.

– Que decepcionante. – O atraso abalou os nervos dele.

– Jean Claude ordenou que nosso vagão particular de trem fosse preparado para sua viagem. Isso
também ajudará você a lidar com a imprensa. Sei que não é isso que você deseja ouvir, mas pelo menos o atraso dará tempo para Katrina fazer as malas.

– Malas? – perguntou uma voz sonolenta. Julian virou-se e deparou-se com Katrina caminhando na direção deles. O corpo reagiu à visão de seu cabelo vermelho desgrenhado e a beleza recém-desperta. –Para onde eu vou?– ACHA QUE é uma boa ideia? – Katrina girava nervosamente o anel na mão direita enquanto questionava a sanidade da princesa. Elas estavam no quarto da suíte dela. Katrina estava sentada na
cama, lutando para ter compostura enquanto procurava argumentos contra a calma insistência de Bernadette.

– A imprensa está à toda. É o momento perfeito para alguém causar algum dano
irreparável, não só para a Casa Carrere, mas também aos kardanianos.

– É a oportunidade perfeita para você aprender que não tem nada a temer. Nós nos preocupamos
com você, Katrina. Você não pode se esconder no palácio para sempre, minha querida.
Bernadette dobrou um suéter verde-limão e o colocou na mala. – Samson precisa da sua ajuda. Claro que estamos
esperançosos, mas é provável que a pobre criança vá precisar de uma boa companhia nos próximos dias.
– O risco não é válido. A família dele...
– ...precisa de você. – Bernadette foi até a cama e tomou as mãos dela entre as suas. – Dizem os
rumores que o rei Lowell está com a saúde muito debilitada, e a rainha está com mais de 80 anos. Se o príncipe Donal faleceu na queda, Julian será posto para reger o país. Eu temo que eles percam o foco em Sammy em meio ao luto.

– A equipe do palácio... – Katrina mudou rapidamente o discurso ao ver o desapontamento nos olhos de Bernadette. – ... não é um substituto para a família.

– Não. E talvez caiba a você lembrá-los disso. Embora perder membros da família seja terrível, eles ainda têm a Sammy. Querida, eu sei que sua preocupação não é apenas consigo mesma.

– Eu jamais faria algo para prejudicar Jean Claude – garantiu Katrina à amiga e mentora.

– Eu sei. – Bernadette segurou com força as mãos dela. – E ele sabe. Nós acreditamos em você.
Agora... – Bernadette levantou-se e voltou para o guarda-roupa.
– ...vamos terminar sua mala. Julian não é um homem paciente.
Não, paciência não descrevia o príncipe visitante. O que só tornava o desafio diante dela mais difícil. Mas não ousou argumentar mais. Até mesmo ela sabia que havia um limite para testar a boa vontade
da realeza. Até mesmo ela? Especialmente ela!
Ela nunca fora boa com as regras de decoro. Teve muita liberdade quando criança, correndo pelos
corredores do palácio. Jean Claude adorava a afilhada, então a menina sempre teve livre-arbítrio. Ela
aprendeu a lição três anos atrás, quando o mau uso dessa liberdade e do bom senso resultou em dor àqueles que ela mais amava.
Com o rabo entre as patas, refugiou-se no lugar onde ela mais se sentia segura. O palácio. Mais especificamente o berçário do palácio, onde ela tentava ser um bom exemplo de decoro para a próxima geração.
Seu estômago revirou ao pensar na possibilidade de envergonhar seu lar novamente.
Independentemente do que Bernadette dissesse, Katrina sabia que ela decepcionara Jean Claude, e pior, o próprio pai. Não desta vez, prometeu ela, endireitando a coluna. Ela estava viajando com o príncipe Julian para cuidar de Sammy, e iria ser o modelo do mais perfeito decoro.
Se ela ficasse nos bastidores, não havia motivo para alguém notar sua presença.

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