CAPÍTULO 35

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O que ele queria dizer? O coração dela saltitava. Com medo? Com desejo? Ela não sabia mais
distinguir uma coisa da outra.

– Não brinque comigo, Julian. Não sobre esse assunto. Isso é muito importante.

– Por que você acha que estou brincando? – Ele segurou o queixo dela e inclinou a cabeça dela para cima, forçando-a a encarar seu olhar. – Eu já menti para você?

Ela não conseguiu pensar em nenhuma vez.
Uma sinfonia acrescentou fundo sonoro ao pequeno drama dos dois, quando o baile começou. As
notas cadenciadas do “Danúbio azul”, de Strauss, deram início ao evento com uma valsa.

Ele a segurava próxima o suficiente de seu corpo para valsarem, mas nenhum dos dois se moveu. Ela escaneou o rosto dele, em busca de pistas, mas encontrou sinceridade e honestidade. Ousaria acreditar
nele?

– Volte para casa – pediu ele, agora totalmente sério. – Seu lugar é em Kardana. Comigo. E com Sammy.

– Eu amo Sammy, mas ele não pode ser o único motivo para a minha volta para Kardana. –
Bernadette estava certa: Katrina merecia ser desejada por quem ela era, e não por suas
habilidades com crianças.

– Então volte por mim. Sei que esse problema com a mídia é culpa minha. Eu jamais deveria ter chamado atenção para nós. Achei que estava sendo esperto, mas eu apenas a machuquei. Desculpe.

– Não precisa se desculpar. Se tem uma coisa que eu aprendi em minha estada em Kardana foi que todos estavam certos. Eu havia me colocado em uma espécie de ostracismo, me escondendo na crença de que, se eu não pudesse ser vista, não poderia ser ferida.

– Você é mais forte do que imagina.

Errado. Mas ela não ia mais viver com medo. Ela estava cansada de se esconder, de viver em sua
própria prisão.

– Você acreditou nisso antes de mim. Eu deveria ter dado ouvidos a Jean Claude, e confiado em mim mesma. Vocês me proporcionaram uma paz de espírito que eu jamais teria conseguido sozinha.
Sou muito grata por isso.

– Fico feliz. Mas Deus sabe que eu não conseguirei encontrar paz de espírito sem você. Eu preciso de
você, Katrina. Não consigo pensar claramente sem você.

– Isso é por que você não está acostumado a ser desafiado por alguém – observou ela. – Você vai
superar isso.

– Não acredito que conseguirei – murmurou ele. – Preciso de você para me desafiar, para me ajudar
a pensar. Preciso de você para ter paciência para lidar com o resto do mundo.

– Só há um motivo pelo qual eu voltaria para Kardana.

– Você só precisa me dizer o que é, que eu providenciarei – instruiu ele.

Mas o motivo dela não estava ao alcance dele. Não havia maneira de forçar o amor. Ele deve ser
dado livremente, do contrário, não se trata de amor.

– Você quer que eu o ajude com Sammy – afirmou Katrina.

– Ja. Eu quero. Mas fui tolo em pensar que esse era um bom motivo para nos casarmos. Papai
colocou essa ideia em minha mente, e quando eu vislumbrei um futuro ao seu lado, isso me pareceu tão certo que acabei apressando as coisas e a pedi em casamento focando nos motivos errados. E meu orgulho ficou machucado quando você me rejeitou.  

Ele inclinou a cabeça e beijou a curva do pescoço dela. Katrina estremeceu, mas recusou-se a ser
distraída.

– Continue – sussurrou ela.

– Eu te amo, Katrina. Posso ter um QI de gênio, mas as emoções não dependem do intelecto. Eu
sinto demais a sua falta. E mal consigo me concentrar ou mesmo dormir. Não consigo tirar você da minha mente. Você é a única coisa mantendo minha sanidade no lugar. Você roubou minha paz ao ir embora.

– Julian.
– Demorei um tempo para perceber que a falta que eu sinto de você tem a ver com meu amor por você, e não com meu orgulho. – Ele levou as mãos dela até a boca e beijou as palmas delas.

– Você realmente me ama? – A esperança borbulhou dentro dela como o champanhe que ela tomara mais cedo naquela noite. Ainda assim, o medo a fez perguntar: – Você não está dizendo isso só para eu
me casar com você, está?

Ele sorriu para ela, um gesto cheio de carinho.
– Estou dizendo isso porque quero que você se case comigo. Mas não posso esperar até você
finalmente acreditar em mim. Eu estava tão sobrecarregado com meus deveres para com o reino que não estava prestando atenção no que acontecia comigo. Eu me apaixonei, mas estava com medo de admitir meus sentimentos porque isso seria mais um problema com o qual eu teria que lidar.

– O que fez você mudar de ideia? – O coração dela se acelerou ao ousar acreditar nele.

– Ver as fotos nos tabloides, saber que eu a magoei. O fato de eu não poder ajudá-la nesse momento difícil quase me matou. Você disse que estava bem, mas eu sabia que você estava sendo corajosa.

– Mas eu estou bem – corrigiu ela. – Decidi que meu medo de aparecer na mídia não ditará mais minha vida.

Os olhos castanhos dele brilharam de emoção.

– Estou feliz por você. – Ele lhe deu um beijo que foi de gentil a passional em um flash. – Você
precisará dessa atitude para ser minha princesa.

Princesa? Meu Deus. Ela estava em sérios problemas, pois essa ideia só a deixou mais assustada. Ela balançou a cabeça.

– Você não vai parar de correr atrás de mim, vai?

– Não. Vou amá-la e começar uma vida juntos é a coisa mais importante do mundo para mim.

– Então oui.
A expressão dele tornou-se incrédula.
– Sim, você deixará que eu a corteje?

A felicidade era grande demais para ser contida. Ela sorriu e tomou o rosto dele entre as
mãos.

– Oui, eu me casarei com você.
Ele fechou os olhos e descansou a testa junto à dela. Seus braços apertaram-na quase ao ponto de
Katrina perder o fôlego, e ela o abraçou de volta. E então ele a ergueu e rodopiou com ela no ar.
Mas de repente ele parou e a colocou no chão, segurando o rosto dela entre as mãos. Ele limpou as lágrimas dela.

– Você está chorando.

– Lágrimas de felicidade. – Ela abraçou o pescoço dele. – Estas são lágrimas de felicidade.

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A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora