CAPÍTULO 16

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- JULI-AN. - A voz dela tremeu. Sem hesitação, ela se aproximou e segurou as duas mãos dele entre as suas. Estavam frias, trêmulas. - Sinto muito.

- Eu não estava acreditando, até agora. Eu sabia das probabilidades, mas elas não eram reais. Meu
irmão mais velho se foi.

- Ele está em um lugar melhor - consolou ela, sabendo que ainda era muito pouco. Ela apertou as
mãos dele, desejando poder aplacar sua dor. Aquele não era mais um príncipe preocupado com os deveres, mas um homem ferido pela perda de um querido irmão.
Ele balançou a cabeça, desconsolado. A testa dele quase roçou a dela, e Katrina levou a mão para completar a conexão e acariciar o rosto dele. Um som estrangulado escapou da garganta de Julian ao
mesmo tempo em que ela lhe segurou o rosto.

- Ele sempre esteve do meu lado. Um valentão, mas com um coração imenso. Não quero que ele se vá.

- Eu sei. - Ela acariciou as costas dele, e ele estremeceu sob aquele toque. - Ele sempre estará em seu coração.
Ele não disse mais nada, apenas ficaram abraçados. Ele tinha tanto pela frente. Ele vinha se
preparando para isso - inclusive se sentindo culpado por tal atitude - pois muitas pessoas dependeriam dele agora. Assim como o rei Lowell deixou o posto para seu herdeiro quando se retirou o ano passado,para cuidar da saúde. Posto que cabia a Julian, agora. Essa viagem de trem talvez fosse a única
oportunidade de ele ficar de luto com relativa privacidade.
Pobre rei Lowell. Perder o filho e herdeiro. Ela não conseguia imaginar a dor dele. Com certeza a presença de Julian e Sammy lhe traria um pouco de consolo.

Lágrimas e mais lágrimas desciam pelo rosto de Katrina. Ela não fazia esforço algum para detê-las.
Abraçando Julian com mais força, ela colocou o rosto no peito dele, permitindo que a fina seda da camisa absorvesse suas lágrimas. Ele também a abraçou com mais força.

- Meu pai desabou no telefone - sussurrou ele. - Ele desatou a chorar. - Ela podia sentir como a dor do pai dele destruía Julian.
Certo, aquela não era uma boa forma de se distanciar dele. Mas ela não se importava. Só uma pessoa muito fria ignoraria o apelo dele por conforto.

- Que bom que ele está chorando - garantiu ela, caso as lágrimas o estivessem envergonhando. -
Todo rei tem o direito de lamentar a morte dos filhos.

- Ele odiaria que alguém ficasse sabendo.- O segredo dele está a salvo comigo. - Ela afastou-se gentilmente e limpou o rosto dele com um lenço que tirou do bolso. - Seu segredo está a salvo comigo.

- Como vou contar para Sammy? - quis saber ele, com a voz rouca.

- Espere - sugeriu ela. - Ele não precisa saber agora. Espere até ele chegar em casa e estiver cercado por pessoas que ele conhece e que o amam. Acho que assim será menos traumático.

- Talvez. - Ele fechou os olhos, como se o peso da decisão exigisse toda a sua concentração.

- Não sou bom em tomar decisões rápidas. Gosto de obter informações, de planejar.

- Tomar uma decisão rápida não é difícil. Você só precisa usar a informação que já tem. Então você obtém mais informações, para a próxima vez que precisar tomar a mesma decisão.

- Que sábia. - Ele beijou as costas da mão dela, fazendo com que ela se distraísse
momentaneamente. O gesto antiquado definitivamente não deveria ser compartilhado entre alguém da posição dele e uma babá. Então ele virou a mão dela e beijou a palma.
Ela prendeu a respiração. Minha nossa. Ele ganhou a atenção dela novamente ao segurar seu rosto, inclinando-o para poder encará-la.

- Obrigado. - Os polegares dele roçaram as bochechas dela, coletando as últimas lágrimas. - Você é uma mulher muito generosa.

- Ninguém deveria estar sozinho em um momento desses. - Ela ergueu a mão e envolveu o punho dele com os dedos, sem saber se era para segurá-lo ou para afastá-lo.

- É uma qualidade perigosa. - O polegar da mão que ela segurava continuou a acariciá-la, embora
ele parecesse não notar.

- Por quê? - sussurrou ela.

- Alguém pode tirar vantagem de você. As entranhas dela reviraram. Alguém já tinha tirado vantagem dela. A lembrança triste ameaçou
destruir o momento. Ela deveria se afastar, voltar aos seus afazeres. Mas não o fez. Por causa do flash de vulnerabilidade que ela viu nos olhos dele.
Ao invés, ela mordeu o lábio inferior e, pela primeira vez, conseguiu ficar em silêncio. Talvez porque
ela precisava daquele momento tanto quanto ele.

- Só estamos eu e você aqui. - Ela piscou, notando que o brilho no olhar dele havia mudado.

- Você vai tirar vantagem?

- Sim - Julian inclinou a cabeça. - Eu vou. - E colocou a boca junto à dela. Passou a língua pela linha
formada pelos lábios dela e mordiscou o lábio inferior. - Você me atormenta quando morde seu lábio. Ela abriu a boca para protestar, mas Julian aproveitou o movimento e a selou com um beijo. O calor
subiu conforme as sensações iniciavam as chamas da paixão. O grande corpo dele era como uma armadura contra a loucura dos últimos dias. Ele a puxou para mais perto, alinhando seus corpos. Por longos momentos ela se rendeu ao toque dele, ao calor e à necessidade dele. Na ponta dos pés, ela o enlaçou pelo pescoço com os braços e perdeu-se em um mundo sem destino, sem dor, sem
protocolo.

O polegar dele encontrou outro lugar para descansar, e o mamilo dela enrijeceu-se em resposta,
conforme o desejo a devorou por dentro. Cedo demais a mão dele mudou de lugar, indo para a parte

A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora