CAPÍTULO 20

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– Aquele é meu pesente da Gigi? – Ele ficou sobre os joelhos e apontou para uma grande sacola que estava na sala.

– Sim – confirmou Julian. – Pode abrir, se quiser.

O menino atravessou a sala em um instante, tirando um grande caminhão de brinquedo em meio ao mar de papel de embrulho.
– Um caminhão! – E sentou-se para brincar.

Lágrimas ameaçaram Katrina. Agora ele estava distraído, mas logo se lembraria que os pais se foram,e ela estaria ao lado. Por doloroso que fosse ser, era melhor do que vê-lo dopado.

– Ei. – Dedos quentes envolveram a mão dela. – Ele está bem.

– Eu sei. – Ao invés de olhar o peito nu dele, ela olhou para o encontro de suas mãos. – Desculpe ter
dito aquelas coisas, mas vê-lo letárgico daquela forma me assustou.

– Você estava certa em me chamar. Eu não deveria ter deixado chegar a este ponto.

– Toda vez que nos vemos, eu me descubro pedindo desculpa por alguma coisa.

Ele ergueu o rosto dela com um dedo, até ambos trocarem um olhar. Baixando a cabeça, ele a beijou suavemente, sorvendo os lábios dela até ela querer jogar os braços ao redor do pescoço dele e exigir mais.

– E eu me descubro beijando-a. Nós deveríamos parar com essas coisas. – Ele olhou para Sammy. –
Não precisa se desculpar. Agradeço por você chamar a minha atenção para este problema.

Houve uma batida na porta, e Neil entrou com um senhor mais velho, de expressão arrogante.
Ela afastou-se discretamente do príncipe. Por sorte os dois não achariam o movimento suspeito.
Como anteriormente, o médico lançou um olhar de desprezo para ela.

– Meu senhor, em que posso ser útil? Ja. Vejo que a criança está acordada. O senhor deseja que eu
dê outra dose de calmante para ele. – Ele deu um tapinha na maleta de couro preta antiquada.

– Não. Quero que você junte suas coisas e vá embora. Está dispensado do seu cargo.

– Sua Alteza, eu não entendo – disse dr. Vogel. – O que eu fiz para merecer isso?

– Você recomendou sedar Samson sem me advertir dos efeitos colaterais perigosos. Além disso, eu autorizei uma sedação, quando ele estava em crise. Não sabia que você iria continuar medicando-o dessa forma.

– Pensei em poupá-lo do estresse – defendeu-se o médico.

– O luto é parte natural do processo de cura – disse Katrina. Pelo jeito como ele a encarou,
provavelmente queria acabar com ela.

– Quieta, servente – vociferou ele.

– Não é a sua hora de falar – Para Julian, ele disse: – Senhor, não
ouça essa estrangeira. Ela não é uma médica profissional, e não deveria interferir no tratamento do garoto. Eu sirvo à sua família há anos.

– Considere-se sortudo por ela ter me procurado. Eu tenho estado insatisfeito com os cuidados ao meu pai. Depois desse incidente, tenho certeza que estou fazendo a coisa certa. Quero sua resignação
até às 17h.

O homem ficou tão vermelho de raiva que Katrina chegou a se preocupar com a saúde dele.
Já na porta, o médico finalizou:
– Príncipe Donal jamais teria me tratado com tamanho desrespeito.

– Não – retrucou Julian sem pestanejar. – Se ele tivesse visto o filho uma hora atrás, ele teria te
matado.
Sem mais nada a dizer, o médico desapareceu.

– Meu senhor, suas roupas. – Grimes surgiu à porta.
Julian olhou para o torso nu, surpreso ao lembrar-se de que estava sem roupas. Katrina é que queria se esquecer da seminudez dele. Fantasias brincavam com a mente dela. Mesmo enquanto dr. Vogel vociferava, ela desejava que aquela toalha tivesse caído.
Depois de uma última olhadinha, ela pegou Sammy e foi para a sala, para dar a Julian um pouco de privacidade.

Minutos depois, impecavelmente vestido, ele passou pela sala para dizer tchau ao menino.

– Srta. Vicente, vejo você no jantar. E foi embora.

Katrina ficou olhando para a porta fechada. A formalidade de Julian parecia errada, ainda que
necessária. Ela acreditava que o pai e a princesa Bernadette teriam aprovado as ações dela em relação à condição de Sammy. Todavia, não o beijo que ocorreu depois.
Julian estava certo. Eles tinham que parar com essas coisas.

– O QUE são esses rumores sobre você saracoteando com a empregada de Pasadônia? – exigiu saber rei Lowell na manhã seguinte.

Julian sentou-se diante do pai na sala de estar pessoal, antes de responder. Ele não deveria estar
surpreso. Seu pai mantinha informantes por todos os lados, um dos quais era Grimes.

– Saracotear infere um pouco de diversão. Posso garantir que não houve nada de divertido. – Ele
explicou as circunstâncias, terminando com a demissão do dr. Vogel. Não era necessário mencionar o beijo. Isso era entre ele e a por demais desejável srta. Vicente.

– Foi necessário demitir o médico?

– Acredito que sim. Pedi recomendações para o Hospital Real de Kardana, e tenho três entrevistas marcadas para esta tarde. Eu gostaria que o senhor me acompanhasse nelas.
Lowell franziu o cenho, mas fez um gesto com a mão, concordando.

– De volta ao assunto da menina. Julian, você geralmente é um exemplo de decoro. Agora não é o momento de relaxar com seus deveres. O mundo todo está de olho em você. A maneira como agimos agora determinará a forma como o mundo nos encarará no futuro.

– Estou ciente disso. – Julian realmente não precisava do sermão. – Não há nada entre mim e a empregada. – Ele franziu o cenho. Parecia errado considerá-la uma mera funcionária. – Entretanto, eu
gostaria de convidá-la para estar com a família durante o funeral.

– Não considero isso apropriado – protestou o pai dele. – Isso só alimentaria os rumores.

– Eu discordo. A iniciativa teve início com a vovó, tratando Kat... a srta. Vicente como convidada
durante as refeições. Isso seria meramente uma extensão desse gesto. O dia promete ser longo e difícil. Samson pode dar trabalho. – Ela é uma ninguém. Não pode estar em meio à família real.

Julian hesitou, sabendo que Katrina não gostava que os outros soubessem de sua associação com o príncipe Jean Claude. Ele também sabia que ela não colocaria o próprio conforto antes do de Samson.
– Ela não é bem... uma ninguém. Katrina Vicente é parente do príncipe Jean Claude Carrere, e
afilhada dele.

– Mesmo? – perguntou ele em tom de interesse. – Ela te contou isso?

– Relutantemente. Ela não gosta de fazer alarde sobre isso. A princesa Bernadette confirmou o fato em uma conversa particular. Aparentemente Jean Claude gosta muito dela.

– Muito bem, então. Ela pode ficar conosco. Mas espero total decoro da sua parte.

– Sim, senhor. – Julian curvou-se antes de sair. Era bom ver um pouco de cor nas bochechas do pai.

– Chame meu mordomo. É melhor eu trocar de roupa, se vou participar dessas entrevistas.

– Claro. – Incerto sobre o que provocara aquela melhora de humor no pai, Julian saiu. O que quer que fosse, ele estava feliz com os efeitos.

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