CAPÍTULO 13

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RISADAS VINHAM do andar de cima. Katrina sorriu ao ouvi-las. Sammy merecia sair da nuvem de tensão que o envolvera nos últimos dias.
Ela seguiu o som até o lounge abobadado, onde ela encontrou Sammy e o tio Julian brincando de bola. Percebendo que eles não haviam reparado na presença dela, Katrina ficou assistindo a cena. Eles estavam sentados no chão de frente um para o outro, com as pernas abertas, jogando a bola um para o outro. Ou melhor, duas bolas. Enquanto Katrina assistia, Julian curvou-se para o lado para pegar uma bola que havia lhe escapado.

– Pedeu – riu Sammy.

– Porque você trapaceou – informou Julian.

Ele havia tirado a jaqueta e os sapatos e enrolado as mangas da camisa. À primeira vista, parecia tão relaxado quanto o garotinho sorridente. Só uma averiguação mais próxima indicava fadiga na expressão dele.

Ele ergueu a bola.
– Vamos tentar de novo. Esta é sua bola – ele a rolou na direção do menino. – E esta é minha. – Ele ergueu a outra, que estava entre as coxas grandes e fortes dele. – Você manda a minha para mim enquanto eu jogo a sua.

Você não manda as duas ao mesmo tempo.

– Mais bola. – Sammy levantou-se e correu para o sofá. Ele abriu uma gaveta e encontrou outra que tinha duas vezes o tamanho da bola de beisebol que eles estavam usando. O garoto então empurrou a gaveta quase até fechá-la e sentou-se na frente de Julian. Com a bola em mãos, Sammy recuou como se estivesse se preparando para arremessá-la. Ela ficou tensa, pronta para intervir, mas Julian apontou um dedo para o menino.

– O que acontece se você jogar a bola?

Sammy abaixou os bracinhos.

– Cabô.

– Isso mesmo. – Julian não delongou a quase infração. – Você acha que pode me vencer com três bolas, mas eu sou bem rápido. Prepare-se para perder.

– Já! – Sammy rolou as duas bolas na direção do tio, enquanto Julian retribuiu com apenas uma. As bolas continuaram rolando ao som da tagarelice de Sammy, até Julian fingir que se atrapalhou e as bolas saírem da barricada formada pelas longas pernas dele.

– Ganhei! – Sammy balançou as mãos no ar.
Katrina sorriu, adorando ver a interação. Então ela mordeu o lábio inferior, perguntando-se se devia deixar os dois sozinhos. Quando Sammy acordara, 43 minutos atrás, ele fizera questão de acordá-la, também. Ela se aprontou e ao menino e foi até o lounge, onde encontrou Julian trabalhando no computador. Não queria perturbá-lo, mas ele se ofereceu para cuidar do menino um pouco. Ela lhe indicara a gaveta de brinquedos e desapareceu prontamente. Depois, usou o tempo livre para fazer algo apenas para si mesma: sentou-se em uma poltrona e leu um livro por meia hora.
Pelo visto, Sammy ainda estava se divertindo.

– Quer se juntar a nós, srta. Vicente?
A pergunta dele eliminou o dilema. Ela adentrou o lounge, fechando a gaveta antes de se sentar.

– É bom ver vocês dois se dando bem.

– É, isso me surpreendeu também. – Ele arqueou uma sobrancelha para ela.
Sammy correu na direção dela, contando com animação sobre a brincadeira com o tio. Ela só
entendeu uma ou duas palavras.

– Que garoto bonzinho você é. Eu trouxe um suco para você. – Ela o colocou na curva do braço do
sofá e lhe entregou uma mamadeira.
Com o coração acelerado, ela ousou tocar em um assunto de maior preocupação para ela.

– Perdoe-me, meu senhor. Sei que o senhor não tem experiência com crianças, mas, ainda assim,conseguiu acalmar Sammy. Eu só estava me perguntando se há alguma afeição genuína da parte do
senhor, ou se isso é meramente parte dos seus deveres.

Julian levantou-se lentamente.
– Você passou dos limites, srta. Vicente.
O gelo no olhar dele quase a deteve. Mas por Sammy, ela devia aguentar.

– Talvez, mas nós conversamos sobre as necessidades especiais de Sammy, devido ao fato de ele ser um príncipe, e isso é verdade. Preciso salientar que ele é uma criança como outra qualquer, e precisa de amor e afeto.

– E você duvida das habilidades do Príncipe de Gelo.

Oh, não, ela tocara em um ponto delicado.

– Eu tenho observado que em famílias proeminentes a estrutura, a disciplina e o decoro geralmente têm precedência diante do apoio emocional, na educação de uma criança. – Ela deu uma olhada no
menino, que bebia o suco.
– Eu não quero isso para Sammy.
– Samson – corrigiu ele. – Eu sobrevivi a essa infância, srta. Vicente – afirmou o príncipe com frieza,voltando-se para ver a paisagem que passava pela janela. – Posso garantir que as lições de decoro e protocolo foram úteis por toda minha vida.

– Eu entendo a importância dessas lições. – É, ela o ofendera. Mas Sammy merecia que alguém
lutasse por ele, mesmo que ela não fosse estar muito tempo ao lado dele. – Eu só acredito que abraços e risadas compensam todas as exigências da posição dele.

– Com um pouco de sorte ele não precisará sofrer por muito mais tempo com minhas tentativas
desajeitadas de afeição. – A postura rígida dele desmentia a leveza das palavras dela.
O coração de Katrina afundou quando ela percebeu o que ele queria dizer. Ela estava falando como se os pais de Sammy já estivessem mortos. Culpa dela, pela falta de tato.

A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora