CAPÍTULO 18

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– Gigi? – perguntou Samson quase às lágrimas, distraído pela menção ao nome da avó. – Ela vai me dá pesente?

– Aposto que sim. – Julian lançou um olhar para Carl, que pegou o celular e começou a digitar uma
mensagem.

Com Katrina, o menino conversou sobre seus brinquedos favoritos.
Julian voltou seu olhar para a janela. Pensamentos de seu encontro com o pai ocupavam a mente dele.

Ele esperava que o pai estivesse mais calmo. Julian não suportava a ideia de encontrá-lo destruído.
Temia que isso também destruísse suas próprias forças.

KATRINA ENCAROU sua mão sobre o assento de couro preto, e a mão mais morena ao lado dela, mas sem tocá-la. Julian a confundia. Ele obviamente achava o toque dela reconfortante – fato que lhe dava
muita satisfação. Era bom saber que ela estava ajudando alguém em um período tão difícil.
Ainda assim, ele estava contido. O que a levou a se perguntar: foi o toque dela que o acalmou, ou a
conexão entre dois seres humanos? Ela gostaria de saber, mas isso não importava de verdade. A intimidade forçada da viagem de trem terminara. Era melhor cada um ir para o seu canto.

O palácio real de Kardana era um castelo de contos de fadas no meio da capital do país. Cercada por lindos jardins e feita de pedras rústicas, a imensa moradia possuía duas torres de cada lado da casa principal. Uma grande escada de dois níveis levava até um portão com lanças de ferro.

Katrina virou o pescoço para apreciar a vista conforme o carro fazia a curva da entrada principal.

– É lindo – disse ela.

– É o meu lar – respondeu Julian. Ele inclinou-se na direção dela e baixou o tom de voz. – Vamos
encontrar muitas pessoas durante o trajeto pelo palácio. Elas podem estar chateadas e não prestar atenção no que vão falar. Por favor, tome cuidado.

– Farei o meu melhor – prometeu ela.

Todavia, agora que eles estavam ali e a logística estava sendo
implantada, parecia-lhe que prolongar a demora para contar a Sammy sobre os pais não era a melhor opção.
Ao mencionar sua preocupação para Julian, ele deu de ombros.

– Tarde demais para mudar as coisas agora. Nós vamos nos certificar que ele fique bem.

Ouvi-lo colocar os dois no mesmo time lhe causou uma sensação boa. Ela guardou para si mesma
aquele sentimento enquanto seguia Julian pela bela residência real. Ficou maravilhada com as
antiguidades e peças de arte dignas de um museu. Ela gostaria de ter tempo para explorar e admirar o local.

Os empregados do palácio que passavam por eles apenas acenavam com a cabeça respeitosamente, mostrando complacência para com Sammy, mas sem mencionar os pais dele ou o acidente.

– Katina, quelo descer.

– Ainda não, querido. Primeiro vamos ver o seu avô.

– Meu senhor... – Um homem corpulento vestindo um terno preto formal os recebeu no salão
principal. – Sua Majestade e a rainha-mãe estão no Salão Formal.
Ele se curvou e os levou até um longo corredor. Então, anunciou:

– Príncipe Julian e príncipe Samson. E a babá, srta. Vicente.
Carl parou à porta, o que fez Katrina hesitar, mas Grimes, o mordomo, fez um aceno de cabeça encorajador, e ela seguiu Julian pela sala opulenta. Um misto de antiguidades incríveis e conforto moderno, a sala creme e bordô era elegante e acolhedora.

Lowell Ettenburl, rei de Kardana, estava sentado em uma cadeira creme e dourada. Um homem
imponente com a cabeça coberta por cabelo grisalho, seu luto era evidente nos ombros caídos e nos
olhos castanhos cansados.

– Julian. – Um brilho surgiu nos olhos do rei, que se levantou para abraçar o filho remanescente.Os dois se abraçaram, e Katrina ouviu palavras abafadas. Lágrimas ameaçaram verter quando a
garganta dela apertou. Katrina então desviou o olhar para lhes dar privacidade para se recompor.
Ela encontrou os olhos azuis de uma grande dama. Vestindo um terninho um tom mais escuro que os próprios olhos, ela estava sentada ao lado do rei. Baixinha e um pouco rechonchuda, apenas seus modos régios e a postura refinada impediam-na de ser engolida pela poltrona. O cabelo também grisalho estava preso em um coque elaborado e refinado.    Mas nem os melhores cosméticos do mundo
poderiam esconder a dor profunda que ela sentia ao observar os dois.

– Gigi! – exclamou Sammy. Desta vez ela não pode contê-lo, e ele praticamente pulou dos seus
braços. O pequeno correu a curta distância até a avó, subiu no colo dela e abraçou-a pelo pescoço com os bracinhos.
Ela o abraçou com tanta força que ele tentou se libertar. Mas ela logo o pôs no colo.

– Eu andei de tem com a Katina – informou a bisneto. – Binquei de bola com o tio Julian. – E então,
com total indignação: – Mamãe e papai folam embola e nunca mais voltaram!

E enquanto a sala toda aguardava em suspensão, ele sorriu com simplicidade:

– E meu pesente?
Giselle conteve as lágrimas.

– Ja, eu sempre tenho um presente para meingeliebterjunge. Está no meu quarto. – O garotinho
amado pegou a mão dela e a fez levantar da poltrona.

– Sammy, deixe Gigi descansar. – Katrina deu um passo adiante.
Sammy encarou a avó antes de voltar-se para Katrina.

– Por que a Gigi tá tiste?

– Ela sentia a sua falta – explicou a babá. – Gostaria que eu o levasse para o berçário?

– Nein, ele está bem. É um conforto tê-lo por perto. Srta. Vicente, por favor, sente-se. Perdoe meus
modos... estou avoada.

– Entendo. – Ela se sentou em um sofá.

– Oma, perdoe-me. – Julian abaixou-se e beijou a bochecha da mãe. – A culpa é minha. Vater, oma, esta é Katrina Vicente, de Pasadônia. Ela foi de grande ajuda com Samson.

Katrina levantou-se imediatamente para cumprimentar o rei.

– Srta. Vicente. Bem-vinda. – O rei pegou-lhe as mãos e deu um tapinha nelas. – Obrigado pela
ajuda com Samson.
– Ele é um doce de criança.

– Falei com Bernadette ontem – disse Giselle. – Ela descreveu uma situação pouco agradável.

– Sim, Sammy ficou muito inquieto.– Que vergonha, a situação que Tessa criou. – Giselle cruzou as mãos sobre o joelho. – Que decepção.

– Isso não importa mais. Estamos em casa. E há muito que fazer – disse Julian.

– Tessa foi embola – interveio Sammy, franzindo a testa. – Mamãe e papai foi embola.
Os três membros da realeza se entreolharam.

– Srta. Vicente, precisamos cuidar de um assunto com Samson. Grimes vai fazer um passeio com você pelo berçário e mostrar seus aposentos.

– Entendo. – Todos os instintos de Katrina se rebelavam contra deixá-lo. Como ele poderia estar
preparado para saber que os pais faleceram? Ela gostaria de pelo menos ficar ali com ele. Não foi para isso que ela fora para Kardana?

Colocando um pé depois do outro, ela andou até a porta, distanciando-se dos dois – como realmente deveria fazer.

– Quelo a Katina.
Ela ansiava por poder atender ao chamado dele e abraçá-lo.
Mas as portas se fecharam, separando-a dele.

A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora