CAPÍTULO 23

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– Eu vou ser bonzinho – prometeu Sammy. – Katina disse que a mamãe e o papai ficam felizes quando eu sou bonzinho. Ela disse que eles dão um sorriso, lá no Céu.

– Ela está certa. Katrina é muito esperta. – Julian lançou um olhar de gratidão a ela. – Agora, venha
me dar um abraço.

Sammy se aproximou e jogou nos braços do tio. Homem e criança se confortando. Ela lutou para não chorar.

– Sua Alteza. – Uma enfermeira chamada Inga surgiu. A pequena loura de 20 e poucos se mostrou
ser boa com Sammy no berçário.
Julian beijou o sobrinho.

– Sammy, o tio Julian precisa conversar com Katrina por alguns minutos. Inga vai te levar para o quarto.
O menino parecia pronto para protestar, mas Inga interveio, mostrando-lhe o triciclo.

– Eu trouxe a sua bicicleta, mas você precisa tomar cuidado e ficar próximo a mim.

Os olhos dele se iluminaram.

– Tá bom.

– Obrigado, Inga – disse Julian.
Com o coração acelerado, Katrina observou Sammy pedalar e ir embora. O que ele queria conversar?
Seria Inga a substituta dela? Será que Julian acha que os serviços dela não serão mais necessários depois do funeral? Ela deveria ficar feliz por estar indo embora. Mas seu estômago estava revirado.

– Katrina – Julian chamou a atenção dela.

– Você é muito bom com ele – disse ela.– Sammy vai ficar bem.

– Sim. Em grande parte a você. Katina disse – imitou ele,
cobrindo a mão dela com a sua. – Você estava certa, me desculpe. São tantos os problemas que exigem minha atenção nesse momento. Eu fico me perguntando: o que Donal faria? Mas a resposta não me parece correta, e eu termino discutindo
comigo mesmo.

– Julian, não faça isso consigo mesmo. – Sem pensar, ela virou a mão para cima, para entrelaçar os dedos aos dele.

– Donal se foi. É triste, mas é um fato. Sim, ele era bem respeitado, mas eu quero que você trilhe seu próprio caminho. Você jamais se sentirá confortável no novo cargo enquanto não fizer
isso.

– Você provavelmente está certa, mas não é tão fácil quanto parece. Meus conselheiros eram os mesmos dele, e eles esperam que eu aja como ele. A votação da Europol está se aproximando e estou sendo pressionado para aprovar as alterações do jeito que elas foram apresentadas, mas tenho certas dúvidas sobre suas execuções.

– Então você deve se pronunciar – disse ela. – Os conselheiros irão se ajustar ao seu modo assim que
você se impor. Você é um homem muito inteligente, um pensador lógico. E lembre-se de que você terá que viver sua decisão. Se você não disser nada e o problema que você antecipou ocorrer mesmo, como
você se sentirá?

Ele esfregou a testa.

– Nada bem.

– Você deseja honrar Donal, o que é admirável, mas por quanto tempo você ainda agirá como
embaixador dele? Logo você não saberá mais a opinião dele sobre os problemas, e terá que tomar
decisões por conta própria. Você deveria começar agora mesmo.

– Quanta sabedoria. E suponho que eu deva também dizer “Katina disse que...” – provocou ele.

Ela corou. Como já tinha dado a opinião sem ser convidada, acrescentou:

– Você deve ser fiel a si mesmo, e agir de acordo com as próprias convicções. E falar com seu pai.
Você não precisa fazer tudo isso sozinho.

– Talvez eu faça essas coisas. Obrigado pelo conselho, mas não foi para isso que a chamei. O funeral é amanhã. Quero que você acompanhe a minha família.

O choque roubou a voz dela. Katrina jamais contemplara aquela possibilidade. As mãos dela ficaram suadas. Estar ao lado da família real chamaria atenção da imprensa para si mesma. As especulações
começariam, e jamais teriam fim até que todos os detalhes de sua vida fossem descobertos.

– Não. – Ela empurrou o prato na mesa. – Esse é um momento só para a família. Seria inapropriado.

– Eu já tomei as providências – avisou ele como se ela não tivesse escapatória.

– Seu pai não aprovará.

– Já falei com ele, e ele aprovou.

– Mas não, isso não é certo. Não sou da família.

– Katrina, está tudo bem. Não precisa ficar chateada. – Ele pegou a mão dela entre as suas.

Oh, ela estava tão encrencada. O toque dele a confortava a e a perturbava ao mesmo tempo. Ela não estava preparada para aquele momento, e esperava nunca precisar contar a ele sobre seu segredo.

– Eu preferiria não participar. – Ela tentou persuadi-lo. – Minha presença vai provocar especulações, quando o foco deveria estar em Donal e Helene. O país inteiro está de luto, e eles não querem ver uma estranha sentada ao lado da família.

– Isso não importa. Você é afilhada de Jean Claude, não uma mera convidada. As pessoas
entenderão. Sammy te ama. Você, mais do que ninguém, será de grande conforto para ele amanhã.
Que injustiça. Ela fizera de tudo para o menino, mas sua presença só traria mais dor de cabeça para a família Ettenburl.

– É melhor se eu ficar apenas nos bastidores – insistiu ela.

– Ele precisa de você. – Ele não iria aceitar não como resposta. Com o dedo, ele ergueu o rosto dela para encará-lo. – Eu preciso de você.

– Oh, Julian... – A visão dela ficou borrada pelas lágrimas. – Eu não posso.

– Minha linda, não chore. – O polegar dele limpou as lágrimas dela. – Isso tudo é por causa das
fotos?

Ela literalmente congelou.

– Você sabe?
Ela não conseguia encará-lo, nem mesmo pensar. Como ele sabia das fotos? Só algumas pessoas no
mundo sabiam da existência delas. Ele era uma delas.

– Jean Claude me contou antes de deixarmos Pasadônia.

– Meu Deus. – Ela sentia-se exposta. Traída.

– Ele achou que eu deveria estar ciente de suas preocupações. Foi algo muito nobre da parte dele.

– Nobre? – Ela riu amargamente. As fotos piscaram na mente dela, horríveis. Não foi à toa que ele
sentiu-se na liberdade de beijá-la, ele achava que Katrina era fácil.

Ela ficou de pé.

– Acredito que seja hora de eu voltar para Pasadônia.
O país, mas talvez não o palácio. Como Jean Claude pôde contar a Julian sobre a maior das
vergonhas dela?

Será que Bernadette sabia? O pai dela? O dedo dela acariciou o anel da mãe. Katrina nunca havia se sentido tão só.

Ela deu um passo para trás e fez uma reverência.

– Com licença, Sua Alteza. – E então saiu do terraço. Não correu, caminhou com determinação pelos
corredores até seu quarto ao lado dos aposentos de Sammy. Feliz por estar só, ela fechou a porta.E ao se virar, se deparou com a grande figura de Julian diante de si.

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