CAPÍTULO 21

273 30 1
                                    


POUCAS COISAS aconteceram para testar a nova resolução de Katrina na semana seguinte. Isso sem contar as fantasias recorrentes com Julian assombrando-a.

Ela focou todas as energias em cuidar de Sammy. O humor dele oscilava selvagemente de uma hora para a outra - em um instante ele estava choroso, sentindo falta dos pais; no outro, estava quieto e preocupado. Raramente ficava alegre.

Ela via Julian muito pouco. Sim, ele fazia o esforço de visitar Sammy todos os dias, mas em
momentos esporádicos que nunca duravam muito. E, claro, a atenção dele ficava totalmente voltada para o menino. O que a deixava satisfeita. De verdade. Ela não tinha o direito de esperar mais nada.

Ela chegou à academia do palácio e colocou sua mochila sobre o banco do vestiário. Amava ter acesso ao local, e gostava dos exercícios que estava fazendo nos momentos em que Sammy tirava sua soneca.

No meio da manhã ela quase sempre estava sozinha. Naquele dia, porém, ela ouviu alguém dando socos no salão principal.
Depois de se trocar, ela entrou na academia e deparou-se com Julian - corrigindo: Sua Alteza, o
príncipe Julian - com uma regata preta, sangrando os nós dos dedos no saco de pancadas.

- Ai, minha nossa. - Ela olhou ao redor enquanto ia até as prateleiras na parede para pegar gaze e fita adesiva. Nada de Neil ou qualquer outro segurança, um claro sinal de que ele queria ficar sozinho.

Um sentimento que ela respeitava, só que ele estava se machucando. Ela ia levar a fita e a gaze para ele e depois o deixaria sozinho, lutando contra seus demônios.

- Sua Alteza. - Ela aproximou-se pela lateral, para que ele pudesse vê-la.

Ele não olhou para cima, e nem mostrou sinal de tê-la ouvido.
Ela se aproximou mais, falando mais alto. Quando ele se virou e a encarou, Katrina quase congelou.
Toda a raiva dele foi centrada nela.

- Vá embora.

- Eu irei - disse ela em um tom brusco, seguindo o exemplo que ele vinha dando desde a chegada
em Kardana. - Depois de enfaixar suas mãos.
Mas ele apenas virou de volta para o saco de pancadas.

- Saia.

- Suas mãos parecem dois hambúrgueres.

- Isso não foi um pedido, srta. Vicente.

- Claro, Sua Alteza. - Ele havia lhe dado uma ordem, mas ela simplesmente não conseguiria deixá-lo daquela forma.

Katrina sabia o valor catártico de uma boa sessão de exercícios. Aos 16, depois de perder a mãe, essa era a única coisa que a mantivera sã. Mas ela conseguia se exercitar sem causar danos em si mesma.

Julian não percebia o que estava fazendo. Se continuasse assim, ia acabar com um ou dois ossos
quebrados. Ela virou-se, levando as mãos à cintura.

- Não posso permitir que você faça isso consigo mesmo. Julian, por favor, pare.

- Isso não tem nada a ver com você. Eu a mandei sair.

- Você está bravo, eu entendo.
Ele virou-se para ela.

- Você não sabe de nada! - Os olhos dele eram ferais, e sua mandíbula estava tesa. - Eu não pedi por nada disso. Eu não quero comandar um país.

- Certo.

- Não, nada está certo. Quero minha vida de volta. Meus números, meu silêncio.
Ela compreendia o apelo de se estar nos bastidores. Ele estava conversando, isso era bom.
Desabafando, na verdade. A raiva também é parte do processo de luto, e até agora ele a vinha negando, focando apenas no trabalho. A pressão só foi aumentando, como um vulcão prestes a explodir. Sem
dúvida as mãos dele estavam como se ele tivesse tocado na lava.

A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora