CAPÍTULO 30

269 30 1
                                    


AMANHÃ acabara de despontar no horizonte quando Katrina surgiu com Sammy no terraço para tomar café, uma semana depois. A decepção doeu fundo ao ver a cadeira vazia do outro lado da mesa.
Ela esperava que ele estivesse apenas atrasado. Aquela hora do dia sozinha com ele - bem, sozinha além de Sammy - havia se tornado a favorita de Katrina. Superada apenas pelas noites apaixonadas em que ele conseguia fugir pela passagem secreta para iluminar o mundo dela.

A hora de Katrina partir se aproximava cada vez mais. Sammy estava se apegando a Inga. E embora ele ainda a procurasse primeiro, adiar a partida logo se tornaria algo mais prejudicial do que benéfico.

Katrina havia participado de mais duas aparições oficiais com Sammy, uma com Giselle em um
almoço em prol do hospital e outra com a família real, quando o príncipe Lowell aceitou a Cruz de São Tiago em nome de Donal, pelos serviços prestados às Forças Armadas de Kardana. Era a maior honra que um soldado poderia receber.
Entretanto, ela não estava pronta para partir.
Ela olhou para a porta do terraço, esperando ver Julian surgir. A última semana fora a melhor de sua vida. Nem mesmo o fato de a mídia ter reparado na conexão dela com Jean Claude podia ofuscar a felicidade que ela sentia nos braços de Julian. E a atenção não fora de todo mal, pois parecia legitimar a presença dela no funeral, e Katrina ainda foi elogiada pelo apoio.

Julian foi o primeiro a salientar que ela se preocupara por nada.
Ela suspirou. Por enquanto.
Quando as coisas estavam indo bem, ela não conseguia evitar de se preocupar que alguma coisa iria acontecer e estragar tudo.

- Onde está o tio Julian? - quis saber Sammy. Ele adorava as manhãs com o tio.

- Tio Julian é um homem ocupado. - Ela despejou um pouco de cereal para o menino e sentou-se diante dele. - Com um pouco de sorte ele chegará em breve.
Sammy assentiu e começou a comer. Katrina esperou por Julian por mais alguns minutos, e, como ele não apareceu, também começou a comer seus ovos com torradas. Depois de pegar-se pela terceira vez
olhando para a porta, resolveu ler o jornal.

Ela o abriu e congelou. As folhas tremeram até ela derrubá-lo sobre o prato. Ela sentiu-se enjoada ao ler a manchete:

"PRÍNCIPE JULIAN DE LUTO NOS BRAÇOS DE AFILHADA DE JEAN CLAUDE. VEM AÍ UM
CASAMENTO REAL?

Abaixo havia uma foto de Katrina nos braços de Julian. Eles estavam se beijando; o cabelo dele estava desarrumado, assim como as roupas dela. Estava mais do que claro que eles andavam fazendo mais do que deveriam juntos. Na foto eles se encontravam no terraço da casa dele.

Katrina ficou zonza. Ela fechou os olhos, incapaz de olhar para a foto de um momento tão lindo
transformado em algo tão feio. Era o que ela mais temia, o constrangimento público.
Saber que o pai veria aquela foto a destruiu por dentro. E Jean Claude. E Bernadette. E pior: Julian e o rei Lowell já deviam ter visto a foto. Era por isso que ele se atrasara?
Claro. Ele provavelmente estava tentando controlar os estragos.
Nem era preciso ler a reportagem.
Bolinhas pretas surgiram na visão dela, e Katrina colocou a cabeça entre as pernas.

- Tudo bem, Katina? - Sammy subiu na cadeira e passou a mão na cabeça dela.
Que ótimo, uma criança confortando-a. A que ponto ela chegara.
Recompondo-se, ela ergueu o corpo.

- Sim. Só um pouco de dor de barriga.

- Pecisa de remédio? - perguntou ele, franzindo a testa.

- Não, remédio não vai me ajudar. - O coração dela partiu-se diante da preocupação do menininho.

Ele era tão doce, e o mundo todo agora achava que ela o usara para chegar até o tio dele. A situação era intolerável.

- Venha. Hora de voltar para o berçário.
Depois de deixar Sammy com Inga, ela foi direto para seu quarto e para a passagem secreta. A última
coisa que ela queria era abordá-lo publicamente em seu escritório. Não agora que Kardana toda sabia
que eles estavam juntos.
Andando rapidamente pelos corredores estreitos, ela desceu dois lances de escada e virou na
primeira passagem à esquerda. Nas duas outras ocasiões em que estivera ali, Katrina não havia
percebido a quantidade de outros caminhos que existiam sob o castelo. Alguém poderia se perder de verdade por ali.
Mas aquilo não a preocupava no momento. Na verdade, desaparecer era uma boa alternativa.
Exceto que ela não era uma covarde. Katrina não deixaria sua bagunça para que os outros
arrumassem.

Ela alertara Julian que isso poderia acontecer, e mesmo assim ela se deixara seduzir, achando que eles estavam seguros na casa dele. Isso apenas provava que não havia lugar que a mídia não pudesse ter acesso com suas câmeras de alta tecnologia.
Na terceira porta no corredor, ela parou para ouvir. Nada. Isso significava que ele não estava lá, que ela errara de quarto ou que o local era à prova de som? Dada a natureza delicada e altamente
confidencial das conversas que aconteciam ali, sua suspeita era a terceira opção.
Mon Dieu, isso significava que ela teria que abrir a porta para verificar. Cruzando os dedos, ela virou a maçaneta e abriu a porta alguns milímetros.

- Casamento? - Ela ouviu a voz de Julian.
Ela suspirou. Graças a Deus. Ela abriu um pouco mais a porta e congelou. Deparando-se com livros e pequenas esculturas do outro lado da sala, ela percebeu imediatamente que estava no lugar errado.

- Quando você começou a acreditar nas manchetes, pai? - A irrisão no tom de Julian a chocou.
Ela esperava um pouco de apoio da parte dele.

Katrina então se afastou com a intenção de partir, mas a manga de seu suéter ficou presa na
maçaneta - e não queria se soltar por nada. Infelizmente era a da mão direita, e ela não conseguia ver o que a estava segurando.

- Não estou falando das manchetes. Embora a reação do povo tenha sido bem favorável. Eles ficaram felizes com a ideia de um romance.

- Romance sempre prende a atenção das pessoas - afirmou Julian com desprezo. - Isso vai passar, como todas as fofocas.

Era assim tão fácil para ele? Nem havia considerado a posição dela nessa história? Ela lutava para
soltar o suéter que já estava estragado para sempre, mas não queria deixar evidências.

- Você deliberadamente me interpretou errado. Estou falando de um romance real, resultando em casamento e uma família para você e Samson.

- Você está sugerindo que eu me case para dar a Sammy uma nova mãe?

- Meu filho, nós já vimos como a vida pode ser frágil. Estou dizendo que é seu dever casar e gerar um herdeiro.

- Você já tem dois... o que geralmente é considerado suficiente.

- Não banque o espertinho comigo. Isso é muito importante.

- Chega. - Ela ouviu Julian levantar-se. - Já ouvi o suficiente. Não tenho tempo e nem vontade de ter uma esposa.

Mon Dieu, essa também doeu. E por nenhum motivo. Ela jamais presumira que o envolvimento deles teria futuro.

Mentirosa, a consciência dela retrucou.
E, Santo Deus, como isso era verdade. Ela entregara o coração a Julian quando ele lhe pedira para Segurar a mão dele no trem. A vulnerabilidade dele naquele instante a tocou no âmago.

- Você encontrou tempo para estar com Katrina - observou o rei.

- Você está me culpando por querer um pouco de distração? -
A frustração ameaçava destruir o
controle de Julian.

- Não, por ela resultar em um incidente internacional.
- Jean Claude é um amigo. Ele sabe que eu jamais machucaria os sentimentos de Katrina.
Mesmo? Katrina mordeu o lábio. Ela gostaria de ter certeza disso.

- Uh! - Ela prendeu a respiração ao espetar o dedo na farpa mantendo-a cativa. Depois, correu para a segurança de seus aposentos, lágrimas manchando seu rosto.

A Arte Da Paixão (Arlequin ) Onde histórias criam vida. Descubra agora