1. Cafajeste

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Kim Taehyung

- Seul -


Hoje é um daqueles dias em que estou puto com a vida.

Ser estudante, morar com os appas e não ter mais que uma mesada como renda são definitivamente as piores partes.

É feriado. É claro que eu poderia sair nesse dia que antecedia o fim de semana e que por isso me traria mais dois dias de folga da escola. Poderia viajar, me divertir em lugares diferentes, rir com meus amigos enquanto curto a liberdade de um dia de sol, mas meus appas se recusam a me dar dinheiro pra isso, já que o que resta da minha mesada não dá pra voltar de Busan; portanto, segundo eles, isso quer dizer que não sei administrar o valor que me disponibilizam por mês. O appa Jin insiste que eu devo ter uma boa educação financeira ao invés de ter dinheiro a todo momento pra gastar como quisesse. Além de que, ao que parece eu ainda era "o bebê do appa" e não podia viajar sozinho, o que é muito chato. Como assim "bebê"? Tenho 1,78m!

Seria fácil fugir de casa e ficar por lá mesmo, vendendo minha arte naquelas praias lindas para onde eu queria ir, mas infelizmente minha vida inteira acontece em Seul, além de que não tenho talento para artes. Moro aqui desde que nasci e tudo foi construído por mim com muito sacrifício. Sabe como é, né? Essa época da escola... Meu lugar nos clubes de xadrez e natação, minha boa relação com os professores - que não entendo os motivos para gostarem tanto de mim. Só porque tiro boas notas? Isso é ridículo -, meu grupo de amigos e principalmente, ah, muito principalmente a minha boa reputação como maior cafajeste da escola. Essa sim foi construída sobre muitos sacrifícios porque, poxa, eu poderia ter uma vida diferente; agradar os meus appas trazendo um relacionamento sério pra casa, ser o boyzinho inteligente e galã, que namora uma garota bonita e é popular por isso, e não pelas notas no meu boletim ou pela quantidade de pessoas que sou capaz de conquistar. Sim, eu poderia, mas preferi ser o jovem bissexual, o queridinho dos professores, um cara estranho que observa as coisas mais improváveis e que é visto por todos como o maior 'pegador'. Ah, e que tem um cachorrinho que mete medo em todo mundo, mas que é considerado fofo pelas garotas que têm a rara oportunidade de vê-lo em minha casa.

Aposto minha viagem até as praias de Busan - que não farei tão cedo - que você nunca viu um cafajeste melhor que eu.

Falando assim até posso parecer, mas não sou um cara esnobe.

Ok, vou te explicar: digamos que o que tenho não é mais que autoconfiança sobre o meu charme. Isso mesmo, o charme. Ele conquista muito mais que a beleza que dizem que tenho. Ao olhar no espelho, não vejo muito além de um rosto e corpo normais, mas acredito piamente que é meu charme quem faz todo o trabalho de sedução.

Por exemplo, ontem, depois de treinar exaustivamente na piscina olímpica da escola, saí dela sob os olhares das líderes de torcida, que sorriam de forma exagerada em minha direção, ao que correspondi encarando uma delas fixamente e piscando o olho antes de me virar sem dizer uma palavra sequer. Elas gostam quando não dou muita atenção. Uma das garotas me seguiu e foi assim que acabamos embaixo da arquibancada, transando loucamente, mas sem nenhum sentimento.

Pelo menos não da minha parte.

Sou assim mesmo. Desde que me conheço como um ser sexual, não me apego a nada, nem a ninguém.

Veja bem, não sou uma pessoa ruim, apenas não quero trocar mil possibilidades de ser feliz, por apenas uma. Até porque não encontrei uma pessoa sequer que me fizesse sentir algo além de tesão, e por tesão eu jamais trocaria minha vida de 'pegador'; muito menos minha reputação intocável como cafajeste. A maioria gosta de mim assim e eu também, que era o que mais importava.

Innocence | VhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora