22. Foco desviado

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Às vezes, o sentimento chega por vias improváveis

Nunca esperamos o apego por ações louváveis

Roçando uma fissura que parece assassina

O perigo é da doçura que, se embolando em nuvens, contamina.



=^.^=

As línguas se enroscaram em sintonia e, de repente, pareceu que estavam transando de novo.

Não era um beijo calmo ou discreto; o que Taehyung classificou como prazeroso e incômodo, concomitantemente. Como tomar seu sorvete favorito com certa gula e sentir o frio congelar seu cérebro, mas ainda assim querer continuar tomando.

Mas no caso, era quente.

O Kim sentiu-se febril com todo o conjunto de toques que experimentavam. Fosse pelas mãos espalhando carícias pelos rostos ou pelas bocas se arrastando uma na outra. Os corpos estavam unidos e a mente do maior ficava nublada sempre que estava excitado. Ao que parecia, J-Hope retirava sua trava mental em relação a limites com seus affairs. Essa foi a constatação inicial da manhã.

Foi difícil fazer seu corpo parar de exigir que levasse o garoto meigo e sensual pra longe de olhares e o fodesse com força em algum canto da escola. Mesmo assim, Taehyung era um cara forte e inteligente que não se enxergava permitindo que seu cérebro perdesse pro seu pau. Por isso, sentindo-se no meio de uma nuvem alucinógena pesada, ele se forçou a sair do transe.

Como um ímã em sua tentativa praticamente inútil de se afastar voluntariamente de sua parte complementar, ele se empurrou pra longe mais do que empurrou o Jung.

Desamparado e sem forças, o Kim olhou em volta e sentiu-se aliviado porque o corredor estava praticamente vazio.

Passou a mão em sua boca, limpando algo que não podia ser visto. Não havia sujeira. Ele queria se livrar da sensação de necessidade, como se ao passar mão, pudesse cortar o fio que o conectava na boca do ruivo, mas queria também ignorar o sentimento de frustração por interromper aquilo. E nem de longe se comparava ao que sentiu quando J-Hope interrompeu seus amassos no quartinho das vassouras alguns dias antes.

Era muito pior.

Era pior porque via-se sentindo tudo aquilo que lhe era como areia movediça: quanto mais se movia, mais afundava.

porra, era tão macio… Seria bom afundar naquele espaço. Ao mesmo tempo em que sua parte racional o acusava, dizendo que estava óbvio o quanto iria sufocar.

Uma metafórica morte iminente.

Mesmo assim, Taehyung se obrigou a dar o segundo sorriso falso desde que conhecera J-Hope, então disse:

— Acho que esse era o bom dia certo, hum?

Seu jeito galanteador de sempre alimentou-se das bochechas coradas do outro, da postura afetada e expectante. Todos os sinais de que continuava tão entregue.

Um cenário que mudou bruscamente quando nenhuma resposta veio, então buscando algo nos olhos alheios, Taehyung notou que o rapaz que devia estar lhe olhando hipnotizado, mirava a parede atrás de si e uma batalha parecia estar acontecendo ali, nas íris misteriosas e cheias de pequenas nuances brilhantes.

Surpreso, o Kim escutou o tom da voz alheia:

— Acho que sim, hyung. — Foi o que ele respondeu, sem muita certeza, porém mostrando um sorrisinho mal contido, perdido em seus próprios pensamentos.

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