Innocence | Vhope

3. Plano Alfa-Tae-Beta de fusão

Após deixar Jungkook, caminhei de volta pra minha casa sem a menor pressa.

Havia pensamentos demais na minha cabeça e eu precisava espairecer.

Chutei pedrinhas por todo o caminho, tendo as mãos dentro da calça do meu moletom cinzento. Afastei uma mecha da minha franja longa pro lado com apenas um gesto de cabeça e olhei pro céu. Havia muitas estrelas na imensidão daquela noite. Estava tudo tão escuro e ao mesmo tempo tão claro. A lua resplandecia bem plena lá no alto, sempre tão inalcançável. Senti a pressão e o sentimento de nostalgia me possuir - o que era bem incomum, sendo bem sincero.

Nem sempre as coisas saem como planejamos.

Por mais satisfeito que estivesse com minha vida, sabia também que havia muito de vazio em tudo aquilo. Eu não era um idiota - pelo menos não completo, talvez a metade de um. Mas levar o tipo de vida que levava não era o único problema. Percebi que havia ainda mais coisas erradas quando me dei conta de que acabei influenciando as vidas alheias com isso. Além de que, não devemos falar sobre o que não conhecemos. Eu não podia falar sobre amor. Porém, o que via acontecer entre meus amigos também não fazia o menor sentido.

Como Jimin podia amar e continuar amando cada vez mais o Jungkook, sendo que o pirralho era mesmo um mulherengo de marca maior? Como Jungkook poderia continuar amando o Jimin, quando julgava que o pequeno o via apenas como um amigo e julgava até que o tinha "traído"? Por que não deixaram de se amar mesmo depois de saber ou julgar tais coisas? O amor é mesmo assim? Tão duradouro? Tão doloroso?

Eu não podia dizer, simplesmente porque não sabia o que dizer.

Amor era sinônimo de sofrimento?

O amor é realmente um sentimento muito idiota. Por mais que a pessoa amada te faça sofrer, você continua lá, amando e se fodendo como um bom otário. Não que eu ache isso ruim para os outros, já que veem vantagem em tal coisa, mas não serve pra mim. Pode parecer meio contraditório ou egoísta, contudo o que acho bonito e bom no amor não é esse lado de um fazer o outro de idiota e mesmo assim manter esse sentimento, também não é isso que julgo valer a pena no fim das contas. O que acho tão belo no que eles podem sentir é a forma como se comportam quando tudo finalmente se resolve, portanto o amor não pode ser de todo ruim.

Jungkook e Jimin sempre cuidavam um do outro. No começo, tudo acontecia entre xingamentos e brincadeiras, entretanto aquilo de cuidar e amar o outro foi ficando bem sério com o tempo, aumentando de tamanho até que esmagasse os dois a ponto de fazê-los sofrer. Eles tentavam disfarçar a qualquer custo e conseguiram por um longo tempo, pois eu não havia percebido - até meus momentos de reflexão - o quanto era genuíno e diferente o cuidado, a forma como se preocupavam com o outro, se acariciavam sem perceber e buscavam usar qualquer motivo aceitável para se encontrarem. Agora, olhando de longe, posso ver que estive sobrando há alguns meses já. O sentimento deles se transformou e os três permanecemos alheios a isso. Cada um deles dois sabia sobre o próprio sentimento, mas não sabiam do outro, enquanto eu não sabia sobre nenhum dos dois. Tinha descoberto sobre o Jimin há alguns meses e sobre o Jungkook havia menos de duas semanas, quando realmente parei pra pensar.

Ri um pouco da minha constatação. Eu era realmente muito cego.

Mesmo tendo sido um acontecimento natural, sem que nenhum dos dois tivesse uma intenção clara, eles me fizeram de trouxa. Estive segurando vela durante meses! Bom, era uma velinha pequetucha, pois eles nunca sequer chegaram a se beijar, mas ainda era uma vela. E ainda devia ser preta, daquelas que usam nas macumbas ou nos velórios da vida. Vai saber, né? Nunca se sabe se o Jungkook não me lançou um feitiçozinho pra eu não perceber que ele estava caidinho pelo hyung. Ah! Pensa que sou besta...