14. Efeito

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"Por que todo mundo acha que eu quero magoar?"

Ainda estava naquela bendita aula, sem trocar mais uma palavra sequer com Jimin. Os pensamentos rolavam mente abaixo, puxando o rapaz de cabelos castanhos por detestáveis reflexões sobre os próprios atos.

Taehyung não era idiota — pelo menos não tanto assim. Sabia que muitas vezes machucou outros por não conseguir se apegar. Mesmo assim, não se considerava tão culpado quanto o pintavam, afinal era por tal motivo que não ficava por muito tempo com alguém. Não queria que se iludissem com um possível envolvimento mais profundo, pois tal coisa jamais existiria. Além disso, não haviam promessas de nada. Ele apenas dava o que seus ficantes queriam: ele mesmo. Só que por tempo limitado. Muito limitado.

Se alguém precisasse de sentimentos, ele sempre soube dizer que esse não era o seu lance. Não escondia ou enganava como seus amigos provavelmente pensavam. Ele era um flertador nato e colhia os resultados. O que havia de mal nisso? Quem podia julgá-lo?

Talvez se a maioria das pessoas tivesse o seu charme, com certeza fariam o mesmo.

Pelo menos era o que ele pensava.

— Mary… Jane. — Respondeu no automático, sem que isso realmente fizesse sentido.

Jimin lhe lançou um olhar perplexo.

Que absurdo era aquele no meio da aula?

— O que Mary Jane tem a ver com a formação social das favelas, Taehyung? — A professora o olhava daquele jeito acusatório. As sobrancelhas juntas e aquele coque feio lhe dando todo o ar de megera necessário pra fazer os alunos terem certo medo disfarçado de respeito.

— Desculpa, eu… Me distraí um pouco. — Respondeu meio confuso com o que ela dizia e viu o hyung de cabelos cor de rosa rir um pouco.

Taehyung não era disso e o Park julgava saber os motivos para sua distração.

Outros colegas murmuraram alguns comentários com risos baixos, assim como olhavam para o distraído com admiração. A maioria das coleguinhas de sala o achavam lindo e até mesmo seus momentos meio maluquinhos faziam as garotas suspirarem. A maioria delas não teve a sorte de tê-lo por uma noite, porém as que tiveram ainda mantinham o interesse, mesmo sabendo que não aconteceria de novo. Era sempre assim: que teve, queria de novo e quem não teve, morria de vontade de experimentar o moranguinho.

Naqueles tempos, as únicas pessoas que ainda trocavam beijos com ele, depois de já o terem feito outras vezes, eram aquelas que tão desapegadas quanto. Quando a temperatura baixava, cada ia pra um lado e estava tudo bem. No mais, ele não queria repetir figurinha.

Exemplo disso era Huang Lin. O rapaz havia lhe procurado algumas vezes após o episódio da partida de xadrez com Jiseng e a festa na casa de Jungkook, onde o mesmo havia saído feito um lunático e deixado os amigos caçando-o feito loucos. É claro que Lin ficara chateado ao se dar conta de que aquela noite de troca de beijos não se repetiria. Taehyung ainda o achava um fofo e ficaria com ele de novo se fosse só por isso, no entanto o rapazinho parecia ser do tipo que se apega facilmente, então o Kim preferia não arriscar. Não vira nada nele que fosse especial o suficiente, assim como acontecia todas as vezes. Eram só contatos efêmeros e sem importância.

Aliás, estava achando estranho não ver o dito cujo no caminho para a escola, pois sabia que moravam bem perto, ainda que o cafajeste não fizesse ideia de onde era a casa do outro.

A professora de Geografia continuou falando sobre sociedade e como historicamente as favelas se tornaram uma realidade em muitos lugares do mundo.

Jimin estava atento a tudo e Taehyung gostava de vê-lo assim, tão focado. Isso tirava daquela cabecinha fofa as ideias ruins. Possivelmente essas tivessem diminuído por conta do relacionamento do Park com o Jeon. Os amigos ainda não haviam parado para conversar pessoalmente, olhos nos olhos, sobre o assunto.

Innocence | VhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora