Capítulo 12: Rastro de Destruição

40 4 6
                                    

Carlos desceu do carro de bombeiros com um baque sonoro das botas contra o asfalto. Céus, por que tanta coisa vinha acontecendo recentemente? Já há alguns dias registravam um grande número de pequenos incêndios nas comunidades próximas de Feira de Santana, assim como outros incidentes incomuns: Uma freira fora brutalmente assassinada durante um estranho ataque a um convento e duas meninas estavam desaparecidas, tendo sido apontadas como as principais suspeitas do crime até então, a pancada de chuva que caíra naquela tarde derrubou árvores nas estradas, a água invadiu algumas casas e tornou a vida de todos um inferno.

Mas terremotos? Essa era a primeira vez em todos os seus anos servindo no Corpo de Bombeiros Militares de Feira de Santana e possivelmente de qualquer um num raio de centenas de quilômetros dali.

–Boa noite, Leo. –Cumprimentou o policial que os chamara, o qual já conhecia de outras ocorrências. –Pode me dizer que loucura aconteceu aqui?

–Loucura é a palavra certa, Sargento. –Comentou o policial. –Temos algumas testemunhas do ocorrido, mas nenhuma estava presente quando o terremoto aconteceu de fato.

O Sargento aproximou-se do que há poucas horas tinha sido um mercadinho e que agora era uma pilha enorme de escombros. Uma fita policial fora colocada ali para afastar os bisbilhoteiros, embora não houvesse nenhum sinal de alerta sobre outro tremor daqueles.

–Sabe se passava um rio por baixo ou coisa assim? –Carlos questionou o policial. Era estranho que apenas o mercadinho tivesse sido afetado por aquele fenômeno. A calçada ao redor apresentava algumas rachaduras, mas nada grave e que já não pudesse estar ali anteriormente. Faria sentido se a construção tivesse simplesmente afundado sobre uma fundação antiga ou coisa do gênero.

–Não, Sargento. Nenhum registro de desgaste do solo ou mesmo de avarias à estrutura. Segundo o dono do mercadinho, uma reforma foi feita há... –Fez uma pausa para conferir a informação em sua prancheta. –Três meses. E que nenhum problema foi encontrado pela perícia do seguro.

Carlos franziu a testa. Nada daquilo fazia sentido. Tudo parecia em ordem por ali.

–Não há registros de qualquer tipo de explosão também. Devo solicitar que enviem o esquedrão antibombas, Sargento? –Continuou o polícial.

–Não por enquanto, Leo. Estou cansado e meus homens também. Vamos fazer o que viemos fazer e depois deixamos com vocês. –Assobiou alto, chamando os outros dois bombeiros que aguardavam no veículo. –Ou chamamos um padre, porque, ao meu entender, isso aí é coisa do tinhoso.

O trio cruzou a fita policial, avaliando a estabilidade das partes da estrutura antes de prosseguir. Estavam ali porque uma das testemunhas dissera que ainda haviam pessoas dentro do estabelecimento quando ele desabou, um grupo de crianças e um funcionário que não aparecera para prestar declarações nem foi encontrado em sua casa. Tentariam escutar alguma coisa, vozes, talvez chamados de socorro e, se preciso, voltariam mais tarde com equipamento para limpar os destroços e resgatar quem ainda pudesse estar vivo.

Dividiram-se, cada um com uma lanterna. Tudo estava silencioso como em um daqueles filmes de terror, apenas com os grilos cantando ao fundo e o som de seus passos pisando em embalagens amassadas de salgadinhos e em ladrilhos partidos. A chuva daquela tarde transformara boa parte numa mistura grotesca de lama de cimento e comida molhada, cobrindo o ar com um cheiro doce de podridão.

Nenhum sinal de explosão, fogo ou vazamento de gás foi encontrado. Carlos estava quase ordenando uma retirada quando um de seus homens, um rapaz novo de nome Fernando, gritou por ele.

–Sargento! Encontrei uma coisa! –O rapaz apontava o facho de luz da lanterna para algo que despontava entre alguns pedaços de parede e prateleiras quebradas. –Acho que é uma mão. –Tateou com cuidado, tocando o membro rígido a procura do pulso, mas não o encontrou. –Está morta. Parece ser uma criança.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora