Capítulo 6: Sangue Lupino

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Violeta ainda estava encantada com seu milagre. Sua fé a salvara. Deus a salvara. Como poderia duvidar? Vira o demônio ser catapultado para longe com o simples poder de sua oração, apesar de que, ao longe, a criatura ainda estivesse viva e possivelmente irritada. Principiou novamente a se arrastar pela terra, agora coberta pelo cheiro doce e enjoativo de grama queimada, em direção à cadeira de rodas caída. Precisava ajudar Ayla. Não podia abandonar a amiga.

Ayla. Ficara tão encantada com o próprio feito que se esquecera da amiga durante alguns segundos cruciais, mas logo seu grito cortou o ar.

E foi um som que penetrou fundo na alma de Violeta.

Ayla havia se transformado em um feroz lobo de mais de dois metros de altura, de pelo escuro como carvão e olhos amarelos que ardiam como fogo dourado. De quatro, rosnando em posição de ataque, a fera saltou sobre o gigante sem pensar duas vezes, mirando seu pescoço gordo com as presas afiadas.

–Sua amiga é impressionante. –Disse Marlon, ajudando a garota a se levantar. A camisola branca dela era agora forrada por uma grossa camada de barro e seu rosto e mãos estavam cobertas de manchas de terra. –Me lembre de nunca irritar ela.

–Quem é você? –Perguntou, temente que fosse outro inimigo, apesar do tom amigável do rapaz. –O que é aquele demônio?

–Não é um demônio. –Respondeu, sincero. –Demônios não são assim tão feios. Aquela coisa é um troll de fogo. Quanto a mim, sou um amigo. Ou quase. Vou tirar vocês daqui. –Ele a colocou novamente sobre a cadeira de rodas, apontando para um canto na grama próximo a mata. –Há um círculo desenhado na terra ali. Fique nele e espere por nós. Vou trazer sua amiga.

Longe dali, Ayla duelava agora de igual para igual com o gigante, que tinha dificuldades para lidar com a fúria assassina da loba gigante.

–Mestre disse pra Bruc que não havia lobo! –Gritou o troll, tentando segurar o focinho de Ayla enquanto ela o mordia sem sossego, arrancando nacos de sua carne fumegante. –Mas pai de Bruc era matador de lobo! Sangue de Broc, Bruc tem nas veias!

O gigante conseguiu afastá-la o suficiente para acertar-lhe um soco, a fazendo colidir com a parede do Convento.

–Como nenhuma freira apareceu até agora? –Perguntou-se Violeta, cravando as unhas nos apoios de sua cadeira. –Não é possível que ninguém está ouvindo tudo isso.

–Eu notei uma barreira ao redor daqui assim que cheguei. –Informou o rapaz, manobrando a cadeira de rodas dentro da área do círculo desenhado por Ayla. Até que para uma primeira vez ele tinha o tamanho e a exatidão perfeitos para a magia. –Infelizmente aquela freira conseguiu burlar a magia de alguma forma e entrar. Eu sinto muito.

Violeta sabia que ele estava falando da Irmã Sandra. Também tinha certeza de que o motivo da raiva de Ayla era a morte da freira que a criara desde pequena daquela maneira tão brutal e pelas mãos de um ser tão asqueroso quanto àquele.

–Fique aqui e espere. –Pediu ele, apontando para o círculo. –Vou trazer sua amiga em segurança. –Em seguida levou os dedos a orelha, fazendo surgir ali um pequeno ponto de luz. –Valen, ajuste o feitiço para transportar mais uma pessoa. –Disse, dando uma outra olhada para Violeta. –E prepare um banho, por favor.

A rapaz principiou a correr na direção da luta, mas logo sentiu uma mão segurando a barra da sua camisa. Será que aquela garota não entendia o quanto precisavam agir depressa?

–Você disse que ele é um troll, certo? –Perguntou ela.

–Isso, um troll de fogo. Por que a pergunta?

–Ainda consegue fazer aquela coisa de virar pássaro?

–É um corvo, está bem? –Corrigiu ela, cruzando os braços. –Sim, consigo sim.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora