Capítulo 41: Inverno em Lisboa

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A viagem de navio durou pouco mais de duas horas. Era incrível o quanto era fácil viajar pelo mundo através do eixo dimensional da Yggdrasill, onde as distâncias eram reduzidas. Ayla aproveitou para digerir a experiência com Kuro, devolvendo a moeda de outro para Kráka e brincando com o garoto enquanto Noor guiava Marlon pela Árvore.

–Estamos para chegar. –Anunciou a Gigante. –Preparem suas coisas. Levem tudo que pudermos usar.

Dito e feito, Ayla se equipou com o escudo Jökulvörn, ocultando-o com as mangas de seu casaco. Ajeitou a bolsa mágica que guardava o ovo de dragão e ficou esperando. Marlon pousou próximo a um gêiser de vapor e gelo que jorrava direto do ginnungagap, chovendo sobre o deque e cobrindo a região com uma fina neblina gelada.

–Todos prontos? –Perguntou o rapaz.

As duas concondaram, preparando-se para transpor as dimensões, quando Kráka começou a reclamar.

–Quero ir! Quero ir!

–Kráka, você não pode...

–Quero ir! Não quero ficar sozinho! –O garoto fazia pirraça, sua forma oscilando entre a humana e a de uma nuvem. –Cheiro de gelo! Gigantes de Gelo! Cheiro ruim! Quero ir!

Marlon coçou a cabeça.

–Consegue atravessar ele, Noor?

–Não sei. –Admitiu ela. –Tudo pode acontecer. Ele pode atravessar, como nós, ou poder se perder no caminho.

–Existe algo no meio do caminho? –Perguntou Ayla.

–Se existe, eu que não quero ir para lá. –A Gigante tentou pegar o garoto pela mão, mas ele fugia dela como o diabo foge da cruz. Não daria certo daquele jeito. –Ele tem medo de qualquer outro Jötunn. Menos você, Cria de Fenrir.

–Faz sentido. –Disse Marlon. –Fenrir não é um Jötunn elemental, como você e os de gelo. Entre as Tribos, as Crias de Fenrir constantemente agiam como diplomatas em disputas territoriais.

–Por que sempre esconde essas informações legais de mim? –Questionou Ayla. –Quero saber mais sobre o meu povo.

–Quando for a hora, saberá de tudo. –Disse o rapaz, mudando o assunto. –Odin deve ter algo para conversar com você. Não é meu papel tomar o lugar dele nesse sentido.

–Você pode até ser inteligente, mas é um idiota, sabia?

–Sabia.

Noor bufou, começando a se irritar com tudo aquilo.

–Ayla, pegue seu filho pela mão de uma vez. Marlon, segura ele pela outra. Assim posso girar nós quatro sem problemas.

Seguindo as instruções dela, os quatro se posicionaram em círculo, com Kráka pulando com ansiedade. Ayla segurou firme em sua mão. Não deixaria que ele fosse parar num limbo entre as dimensões. De jeito nenhum.

Tudo ficou estranho por um segundo, e a realidade mudou.

***

Ayla piscou, voltando a abrir os olhos de frente para uma estátua de um homem montado em um cavalo. Por alguma razão, Kráka estava sentado na cabeça do homem.

–Bom, acho que deu certo. Mais ou menos. –Comentou Noor, contente de não ter feito o grupo surgir dentro da estátua. –Hã, onde estamos?

–Portugal. –Respondeu Marlon, dando uma olhava no espaço ao redor.

–Muito engraçado, corvinho.

–Estamos na Praça do Comércio. –Explicou o Corvo de Odin. –Antiga residência da família real. Já estive aqui.

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