Ayla acordou com a cabeça girando e estrelas brilhantes pintando o quarto escuro. Tinha a vaga noção de que estava ali há muito tempo, mas não sabia dizer. Mal se lembrava do que havia acontecido antes de apagar.
–Fique calma. –Ouviu alguém dizer em algum lugar. A voz era grave como um tambor velho. –Uma sobrecarga dessas é mortal. Já vi homens mais fortes morrerem por muito menos.
–E espera que eu fique calma assim? –Outra voz respondeu, seguida por passos ansiosos. Ayla reconhecia aquela. –Faz dois dias que estão assim!
Os passos apressados pararam. Ayla ouviu um baque do outro lado da parede.
–Uma vez fiquei desacordado por cinco anos. –Comentou a voz de tambor. –Quando acordei tinham levado meu machado! Eu adorava aquele machado! Sabe o que fiz quando encontrei o miserável que o roubou?
–Não, não sei, Velhote. –Respondeu a outra, bufando.
–Parti a cabeça dele com o machado! –Comemorou o Velhote, rindo alto. –O desgraçado o usava para cortar lenha, acredita? Uma arma como aquela cortando árvores. Estava tão cego que metade dos miolos dele virou purê, e a outra metade desceu pela garganta.
–Deve ter sido... hã, apetitoso.
–Cérebro de mortal não é saboroso, acredite em mim.
–Não vou nem perguntar.
Aos poucos as ideias na cabeça de Ayla começavam a fazer mais sentido. Ela estivera em Ulvgard, vira o local arrasado por... não conseguia lembrar. Tudo o que sua mente lhe dava era uma luz, e então ela acordando naquele quarto. Mas fazia sentido que estivesse agora na casa de Lofar. Era para onde Marlon a levaria se algum problema acontecesse.
E é claro que problemas aconteceram, pensou. Eles sempre acontecem.
Tentou forçar o corpo a se levantar, mas foi recebida com mais estrelas em seus olhos e uma tonteira como nem Yggdrasill a havia dado. Parecia que tinha levado um soco de um troll de fogo de novo, só que dessa vez em forma humana. Pensar nisso a fez lembrar de Bruc, e pensar em Bruc a lembrou de Sandra. E então as memórias explodiram em sua mente como uma cascata. Era óbvio! Ela tinha ido até Ulvgard atrás de Violeta! Violeta era a luz cegante em suas memórias. A luz que ela deixou Fenrir devorar.
–Violeta! –Gritou, ficando ereta de sobressalto. Quase caiu da cama com a tonteira, mas a adrenalina a segurou sobre as pernas bambas.
A porta do quarto se abriu, e com ela todo o aposento se encheu com luz nova. Ayla precisou tapar os olhos antes de ver quem estava ali.
–Graças aos deuses... –A voz conhecida se fez presente. –Velhote, chame as outras! A Ayla acordou!
***
Noor al-Saqqaf explicou para ela o que tinha acontecido. Contou sobre como ela usou o poder de Fenrir para conter todo aquele poder descontrolado da amiga. Disse que não sabia como Ayla tinha sobrevivido depois de absorver tanta magia divina, e que provavelmente nunca saberiam.
–Alguém lá em cima gosta de você. –Comentou ela com um sorriso. –É bom saber que não te perdemos. Eu te mataria se você me levasse pro buraco com aquele plano suicida.
–Também fico feliz de estar viva. E os outros? Como estão?
A Gigante do Fogo relatou que a única baixa havia sido de uma das Princesas do Valhalla. A irmã tinha decidido levar o corpo consigo, pouco dando satisfações para eles. Todos os demais estavam bem.
–Tiveram notícias do Marlon e do Kráka?
–Infelizmente, não. Os dois continuam desaparecidos. –Disse, deixando cair os ombros num suspiro. –Lofar acha que nós três nos salvamos por causa da Vegvisir. Ela nos trouxe ao mundo real junto de parte do navio. Procurei por sinais deles na Yggdrasill, mas não encontrei nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Última Cria
FantasyAyla é uma noviça que pouco viu além dos muros do Convento de Santa Alice. Apesar de gostar da ideia de tornar-se freira, a garota anseia por desbravar o mundo e conhecer seus mistérios. Ela só não imaginava que esses mistérios viriam atrás dela, at...