Capítulo 15: Pausa para o Lanche

36 4 4
                                    

Mori levou seu x-burger à boca com genuína satisfação. Junto delas, alguns poucos clientes, a maioria saídos de turnos noturnos ou idosos com seus netos, comiam em mesas espaçadas enquanto duas garçonetes limpavam o chão com esfregões, deixando o piso brilhando e com cheiro de água sanitária. O fastfood parecia o lugar perfeito para descansar e colocar os planos em ordem.

–Eu realmente precisava disso! –Falou a irmã mais velha em seu tom alegre de sempre. Deko tinha dificuldades para acompanhar toda aquela felicidade de Mori, limitando-se a beliscar as batatas fritas junto de seu refrigerante extra grande.

–Precisamos decidir o que fazer daqui pra frente. –Comentou Deko. –O rastro desapareceu em algum lugar da fronteira da Bahia com Minas Gerais e não sabemos nem por onde começar. A pista já era.

Encontrar a Cria de Fenrir tinha sido um arduo trabalho de inteligência do Valhalla. Foram anos para que as Völvas mais experientes pudessem tirar das runas a sorte da localização. Como responsáveis pela missão, Deko e Mori não tinham o direito de falhar. Precisariam consertar aquele erro antes que fosse tarde.

–Vamos dar um jeito. Sempre damos, não é?

–Pode até ser. Mas não quero arriscar, principalmente depois do que aconteceu com você ontem.

–Eu estou bem, Deko.

–Você morreu! –Deko deu um soco na mesa, chamando a atenção de algumas pessoas. Respirou fundo, voltando ao tom calmo de antes. –Se nossa mãe tivesse outro filho, o espírito de Modi teria deixado o seu corpo e ido para ele. Só está viva por um capricho dos deuses.

–É, eu sei. Foi muita sorte um daqueles bombeiros ter achado que eu podia estar viva. –Mori relembrou o momento em que despertou em meio aos destroços. Aquele medo inconsciente do mortal lhe rendeu o sopro de vida necessário para retornar à consciência e espalhar seu terror noturno, mas tudo foi por pura sorte. –Não sei como aquela garota fez isso comigo. Lembro de ter sentido minha força se esvair conforme ela invocada seu Deus, então, do nada, bum! –Mori abriu os braços em uma onomatopeia, simulando uma explosão. –Senti um poder incrível emanando dela. Depois, nada.

–Seria uma morte digna das graças de Hela. –Deko finalmente abriu a caixa que continha seu hambúrguer. Abriu um sachê de ketchup e o espalhou sobre a carne, voltando a cobri-la com o pão. –Precisamos ser mais cautelosas se quisermos ascender ao Valhalla junto de nossos ancestrais.

–Que se danem nossos ancestrais, Deko. Somos imortais! Ninguém jamais derrotou os Herdeiros de Magni e Modi antes.

–Até ontem, você quer dizer...

–Já disse que estou viva. Viva e bem. Assim como você. –Mori tomou um gole de refrigerante, sentindo o líquido doce gelar a garganta. –Além disso, teria dado tudo certo se aquele troll nojento de fogo não tivesse afugentado a garota. Teríamos capturado o alvo e estaríamos em casa agora.

–Nisso você tem razão. Por que um Jötunn daqueles apareceria por lá?

–Também não sei, irmãzinha.

–Não faz sentido. As Tribos dos Gigantes de Fogo são lideradas pela Igreja de Surt, do outro lado do oceano. Teriam os Jötunn algo a ganhar com a morte da Cria de Fenrir?

–Talvez não a quisessem morta. –Sugeriu a irmã mais velha. –Não sei a razão, mas todos querem pôr as mãos nela. O troll devia estar querendo capturá-la assim como nós.

Mori ficou um tempo em silêncio. Não era tão boa em pensar quanto sua irmã, mas certamente era melhor em intuir os sentimentos e motivações dos outros. Afinal, essa era sua divindade. A Igreja de Surt é a maior força dos Jötunn, equiparando-se apenas à Guilda dos Caçadores de Thrymr, formada pelas Tribos dos Gigantes de Gelo. De fato, após o extermínio dos Clãs de Fenrir e o desaparecimento dos Elfos e Dragões, restavam apenas as forças dos Jötunn para fazer frente ao poder do Valhalla. Teria sua mãe proposto uma aliança? De fato isto seria benéfico para todos e possibilitaria uma paz sem precedentes em toda a história dos Nove Reinos.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora