Ricardo Altoforno voltou para sua loja enquanto Violeta era levada para os fundos do antiquário. Podia não ser muito, mas guiar aquela garota pelo caminho certo para aperfeiçoar seus dons lhe parecia o certo a se fazer. Encontrou o lugar fechado, suas ferramentas guardadas e as bancadas arrumadas. Pelo visto as Princesas tinham enfim conseguido seu tão sonhado objetivo.
Foram se encontrar no próximo dia, e ele quis saber dos mínimos detalhes da produção da Gleipnir. Estudou o par de luvas confeccionado por Deko e Mori e, no fim das contas, era um bom trabalho.
–Para duas Aesires, está bom. –Acrescentava ele, num misto de orgulho com divertimento. –Não esperava que fosse fazer luvas. Bastante engenhoso.
–Apenas segui o que o metal queria. –Respondeu Mori, fazendo mensão ao que tinha aprendido. –Por falar nisso, a mor... digo, Violeta está tendo as instruções para a leitura de runas?
–Está. Deve estar boa o suficiente em poucos dias. –Ricardo devolveu as luvas para seu embrulho de couro. –Violeta é esperta, e Cassandra é uma boa professora, apesar de tudo. Não precisam se preocupar com ela.
–Agradecemos a ajuda, Senhor. –Deko estava radiante. Finalmente poderiam dar cabo daquela missão e voltar para casa.
Faltava pouco.
***
Aprender a leitura de runas acabou não sendo uma tarefa tão difícil. Primeiro, Dona Cassandra lhe mostrou as peças rúnicas, que podias ser de madeira, pedra ou até mesmo escritas em papel, desde que feitas por um conhecedor das artes ocultas. Ensinou-lhe os sons, a grafia, e como as runas se combinavam para formar palavras e sentidos mais complexos.
A partir daí começaram as leituras simples. Violeta deveria aprender a responder perguntas apenas com a tiragem das peças de forma sortida. Três eram o suficiente, o que em muito se assemelhava a outros jogos de adivinhação, como o Tarot, só que com suas particularidades. O começo foi complicado, sem fazer muito sentido, mas logo pegou o jeito de ler e interpretar o que as runas estavam querendo dizer com relação às perguntas feitas por Cassandra. Ela, por sua vez, nos dias que se seguiram, recomendou livros e escritos rúnicos para que Violeta treinasse com o novo alfabeto.
Passados três dias as leituras já eram quase automáticas, com Violeta sabendo algumas respostas as vezes antes da consulta das runas. O conceito do código daquele mundo aos poucos ficava gravado em sua mente, e elas passavam para questões mais complexas, que envolviam mais runas e diferentes formas de tiragem. Ao final do quinto dias, elas passaram para a parte mágica do assunto.
–Nem todos possuem aptidão física para a magia rúnica. –Explicou Cassandra. –Alguns, mesmo conhecendo os segredos, podem sofrer ao tentar invocar uma. Se feita de forma errada, a magia pode matar o runamal, então tenha sempre cuidado com seus limites.
Cassandra explicou que cada runa tinha, em essência, um significado que descrevia um aspecto do universo. Entretanto, a forma como a mente do runamal interpretava esses mesmos aspectos era de fundamental importância para a execução de efeitos mágicos. Ou seja, imaginação era a chave para um maior leque de possibilidades mágicas.
–Sorteie uma runa. –Pediu Cassandra.
Violeta enfiou a mão em uma pequena trouxa de couro, remexendo as peças e retirando uma que parecia um chapéu tombado de lado.
ᚦ
–Thurisaz. –Explicou ela, tomando a peça para si. –Lembra o que significa?
–Espinho. Ah, e também pode ser lida como Gigante.
–Experimente usá-la para alguma magia.
Violeta respirou fundo, concentrando-se em visualizar a runa tanto em sua mente quanto na própria peça.
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A Última Cria
FantasíaAyla é uma noviça que pouco viu além dos muros do Convento de Santa Alice. Apesar de gostar da ideia de tornar-se freira, a garota anseia por desbravar o mundo e conhecer seus mistérios. Ela só não imaginava que esses mistérios viriam atrás dela, at...