Capítulo 1: O Convento

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Interior da Bahia, dias atuais


Fazia calor naquele dia. O ar estava parado, abafado, e o chão parecia tremer como uma miragem de deserto. Ayla tentou não pensar nisso quando a professora pediu que todos ficassem em posição. Era o último jogo de basquete do intersalas, uma simples disputa esportiva entre as turmas da escola, e mesmo que o prêmio fosse uma medalha pintada de dourado Ayla queria que sua turma fosse a campeã.

Ou melhor, ela queria ser a campeã.

Na arquibancada, uma menina gritou seu nome.

–Vai lá, Ayla! –Lembrou sua amiga Violeta, que só não estava participando por causa de sua cadeira de rodas. –Acaba com eles!

Os alunos da outra turma olharam torto para Violeta, mas Ayla apenas sorriu, mantendo o foco no garoto do outro time. Ele podia ser mais alto do que ela, mas isso pouco importava.

Não é um jogo, pensou, é uma batalha.

A professora soprou o apito, jogando a bola para o alto e dando início à partida.

Ayla saltou, conseguindo tocar primeiro a bola e a rebatendo para um colega de equipe. Ela quicou, passando por cima do garoto e sendo agarrada por um outro do time adversário. Ele avançou pelo campo, correndo como se sua vida dependesse disso.

Ele era rápido. Mas Ayla era mais.

Disparou como uma flecha, nunca perdendo o garoto de vista. Bloqueou seu caminho e, com um movimento treinado, fingiu que ia para um lado enquanto agarrava a bola pelo outro e circundava o garoto, o deixando desnorteado. Em posse da bola, começou a ir na direção contrária, trocando de mão em mão e desviando dos garotos e garotas do time adversário.

Mais rápido, disse para si mesma, sempre avançando.

Ayla fez um passe para uma colega, que furou a defesa do outro time e depois voltou a repassar a bola para mais dois antes devolvê-la para Ayla. Ela, já posicionada, saltou e arremessou a bola, acertando a cesta de primeira.

–Isso! –Comemorou com os colegas. –Se continuar assim, vamos ganhar de lavada!

Mas as coisas não continuaram assim. O outro time conseguiu se recuperar, emparelhando com eles ao longo das partidas. Estavam quase empatados, mas, caso eles ganhassem mais uma, seria o fim.

–Tudo pronto? –Perguntou a professora, e todos concordaram. –Que vença o melhor.

Ayla rangia os dentes de antecipação. Não deixaria que lhe tomassem aquela vitória. Quando ouviu o apito, porém, não conseguiu alcançar a bola.

O garoto a rebateu para um outro atrás, e Ayla caiu sem nada nas mãos.

Sentiu o sangue ferver de raiva, vendo-os fugirem com a bola para o outro lado do campo. Correu os olhos pela arquibancada, como se tudo estivesse em câmera lenta. Viu Violeta torcendo, os outros colegas de classe e alguns pais e professores. Em especial, um sujeito chamou sua atenção. Um rapaz ruivo de cabelo encaracolado e barba por fazer, vestido com uma camiseta roxa. Ele sustentou o olhar nela pelo que pareceu uma eternidade, apenas um segundo, e então Ayla perdeu contato com ele.

Não é hora pra isso. Concentre-se!

Correu como nunca, chegando até o seu campo e bloqueando a bola bem a tempo de evitar uma cesta do time adversário, rebatendo a bola. Enquanto todos tentavam entender o porquê da bola não ter caído dentro da cesta, ela a pegou e deu meia volta. Sentia uma força que não era sua, e ela vinha em boa hora.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora