Capítulo 43: Ayla

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As palavras chegaram aos seus ouvidos abafadas pelos próprios pensamentos, já tão atarefados que mal puderam processar a nova informação como deveriam. Ayla apenas ficou ali, parada, olhando para a pessoa mais poderosa do mundo que acabara de pedir para ser assassinada por ela.

–Calma, eu devo estar cansada. –Ayla se afastou rindo. Um riso nervoso. –Ouvi você dizendo que quer que eu te mate.

–Mas é o que quero. –Admitiu o rapaz. –Na verdade eu não quero, mas é o que precisa ser feito.

–Precisa ser feito? Não! Ficou doido? Não vou te matar!

–Vou morrer de qualquer jeito, Ayla. –Falou ele, jogando o corpo para trás bem a tempo do sofá vermelho aparecer. –Não vê? Meu corpo chegou ao seu limite. Quando olho para o futuro, pouco vejo além das próximas horas. Foi assim desde que escolhi este fardo para mim.

Ayla andou de um lado para o outro, claramente nervosa.

–Tem que ter outro jeito. Eu não posso matar uma pessoa assim, sem motivo algum!

–Você precisa.

–Não!

–É o seu destino, Ayla!

–Não! –Ayla socou uma árvore com força, fazendo a mão afundar na madeira. Ela ficou cheia de farpas e arranhões, com sangue quente escorrendo das feridas mais profundas. –Isso tem que estar errado. Precisa estar.

–As coisas são como são, Ayla. –O rapaz tentou tranquilizá-la, apesar de ele mesmo estar nervoso. –As consequências não podem ser mudadas, apenas as causas. Eu vou morrer de qualquer jeito. Mas, se você me matar, terá uma chance de salvar-se, e salvar seus amigos. Seu legado...

Ayla piscou, olhando para ele.

–Como assim?

–Sacrifícios são uma parte importante da adoração aos deuses nórdicos. –Explicou ele. –Odin sacrificou a si mesmo para conseguir as runas, sacrificou um olho por conhecimento. Se eu me sacrificar à você, poderá ter poder suficiente para controlar Fenrir e salvar as pessoas que lhe são mais queridas.

–Mas, se eu o matar, o Sangue de Odin não vai deixar de existir?

–Uma verdade. Um Herdeiro de Odin demoraria vários anos, talvez séculos, até que a essência divina voltasse a se juntar. É tempo suficiente para que possa agir, Ayla, e impedir que algo pior que o extermínio dos Clãs de Fenrir aconteça.

–Algo... pior? O que pode ser pior do que o fim de uma raça inteira?

O Herdeiro de Odin inclinou-se, a responsabilidade e a finitude da vida pesando em seus ombros.

–O fim de todas as raças mágicas deste mundo.

***

O cenário mudou, e eles agora estavam em um salão chique de um castelo. Uma mesa comprida de jantar se estendia de ponta a ponta, com um trono numa das extremidades e várias cadeiras nas laterais, todas vazias. Não havia copos ou pratos, talheres ou qualquer alimento.

Na outra extremidade, uma janela panorâmica mostrava um céu cinzento e triste. Ali, em frente à paisagem morta, segurando uma raça de vinho com a mão enluvada, estava a mulher mais bonita que Ayla já vira.

–Quem é? –Perguntou, deslumbrada com ela. Seu cabelo ruivo estava preso por uma trança, caído sobre o ombro coberto de peles, e seu rosto era tão duro e belo quanto as geleiras que encarava.

–Lady Sasha. –Apresentou o rapaz. –Herdeira de Thor, Rainha do Valhalla e também assassina de sua mãe.

Ayla relembrou da visão que tivera junto com Noor, a mulher de armadura voando com um martelo no meio de uma tempestade. Ela mal parecia ter envelhecido. E pensar que já estiveram tão próximas, e agora estavam tão distantes.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora