Capítulo 24: O Velho Artesão

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Os preparativos para a viagem foram feitos na manhã seguinte. Preparam mochilas com alguns mantimentos e dinheiro, abasteceram o carro com biocombustível e deixaram seus afazeres pendentes em ordem. Ayla não sabia o que poderia acontecer, por isso levava consigo o violão e João no porta malas. Apesar de todos os esforços de Júlia em tentar convencer o rapaz a ficar e repensar aquele plano suicida, eles estavam de partida.

–Tome cuidado lá fora. –Disse a chefe da guarda, se segurando para não dar um beijo em Marlon na frente de todos. –Se você morrer, eu juro que te mato na próxima vida.

–Vou tentar me lembrar disso. –Marlon sorriu, apesar do nervosismo. –Não se preocupe. Vamos voltar inteiros.

–É bom que voltem mesmo. –Advertiu Valen, que ficaria para trás. –Minha vingança depende de vocês.

–Ainda dá tempo de vir com a gente. –Argumentou o rapaz. –Nunca se sabe quanto o Valhalla vai atacar.

–Já tomei minha decisão, grandão. Esse pessoal vai precisar de mim aqui mais do que vocês. Vou ajudá-los a rescontruir as cabanas afetadas pelo fogo. –Disse, lançando um olhar assassino para Noor. A Gigante do Fogo usava um casacão de Ulvgard para se disfarçar naquele momento, o que não pareceu deixá-la acuada com a provocação. –Tome cuidado com essa víbora do deserto.

–Posso te ouvir, sabia? –Lembrou Noor.

–É bom que ouça mesmo!

Marlon queria evitar brigas o máximo possível. Quanto antes fossem embora, melhor.

–Até mais, baixinho. –Despediu-se de Shiro com um soquinho. –Prometo que trago algum jogo bacana que encontrar por aí.

–Cuide da Ayla, Marlon. –Pediu o garoto, o rosto sério. –Ela é sua responsabilidade.

–Pode deixar. Trago ela de volta inteira.

O Chevette preto saiu pelos portões de madeira de Ulvgard e rapidamente alcançou a estrada. Estavam agora fora dos limites mágicos da barreira protetora e poderiam esperar ataques a qualquer instante.

–Então, para onde estamos indo? –Perguntou Ayla. –Digo, onde fica esse Tetraedro?

–A sede da Igreja de Surt fica em Angola. –Contou Marlon.

–Calma, calma aí. Angola? –Questionou Ayla, um tanto surpresa. –O que os gigantes de fogo fazem na África?

–Existe uma espécie de "acordo de paz" entre os Jötunn. As terras ao Norte sempre serão dos Gigantes de Gelo, enquanto as do Sul serão dos Gigantes de Fogo. –Explicou Noor. –Muitos europeus que colonizaram outras regiões do Sul do globo eram Gigantes de Fogo. Isso foi antes de a Igreja existir, quando havia guerra entre as Tribos.

–Outras Tribos, como os Gigantes da Montanha e as Crias de Fenrir preferiram arriscar a sorte nas Américas e em partes da Ásia e Oceania. –Continuou Marlon, sem se distrair no volante. –Foram tempos estranhos, de brigas territoriais com outras, digamos, "espécies", outros seres mitológicos.

–Agora a Igreja é o grupo com mais poder e influência fora o Valhalla. –Disse a Gigante de Fogo. –Existe a chance de termos o apoio do Primaz. Os Clãs de Fenrir faziam parte das Tribos dos Gigantes. Pode ser que os acordos antigos sejam honrados, levando em consideração que você é a última representante tribal do seu povo.

Ayla refletiu sobre aquilo. Não se sentia líder de uma raça anciã de Gigantes, muito menos alguém capaz de exercer qualquer pressão numa instituição tão poderosa quanto a Igreja de Surt.

–Não seria mais lógico então pedir ajuda aos Gigantes de Gelo? –Sugeriu Ayla. –Afinal, eles não vieram atrás de mim.

–Ainda. –Lembrou Marlon. –Não temos certeza do porquê do Tetraedro estar atrás de você. Pode ser que só estejam respeitando o acordo e não interferindo abaixo do equador.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora