Capítulo 48: Fogo de Cristal

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Fogo. Coração que arde.

Socorro...

Fogo. As vozes gritavam em sua cabeça.

Machuca...! Isso dói...!

Fogo. Suas mãos queimavam, sua visão se confundia. O que estava acontecendo? O que estava fazendo?

Quem era ela? Já não mais se lembrava. Tudo o que queria era dormir, desaparecer daquele lugar, daquelas vozes.

Sumir para todo o sempre.

***

Ayla desviou os olhos para o ponto brilhante no céu que era a amiga. Violeta se contorcia naquela forma estranha, abraçava os próprios braços como se sentisse frio, os cabelos flutuando parecendo estarem em um tanque de água e a pele parecendo cristal. Ela gritou, expelindo ondas de energia ao seu redor.

O grupo se preparava para pôr o plano em prática. Ayla conferiu as fivelas do escudo enquanto olhava para a vila ao seu redor: as casas destruídas, queimadas, os corpos de algumas pessoas largados e dilacerados pela força incontrolável que tomara sua amiga.

Tinha que resolver isso.

–Preparada? –Perguntou Valen, pondo a mão em seu ombro. A garota tinha amarrado tiras de couro em volta dos punhos, a perna enfaixada já quase curada.

–Pareço preparada? –Devolveu de forma retórica. –Ela é minha amiga... minha irmã. –Murmurou. –Não posso, eu... eu tenho que tentar salvá-la. Mesmo que custe tudo.

–Não estará sozinha. –Ela lhe disse. –Vamos dar cobertura enquanto você estiver agindo.

Ayla relembrou o plano que tivera com um frio na espinha: Iriam atrair a atenção de Violeta para o chão, tentando conter o máximo de estragos possível. Enquanto isso, Shiro ajudaria Ayla a libertar o poder de Fenrir para que ele devorasse a magia de Violeta. Um plano suicída, porém ninguém tinha conseguido pensar em algo melhor.

–Espera, Valen. Quero deixar isso com você. –Disse, soltando o Jökulvörn do braço e o entregando para a Jötunn. –Vai precisar mais dele do que eu.

Valentina aceitou o escudo, afivelando-o no braço esquerdo e conferindo rapidamente como funcionava.

–Vai dar tudo certo. –Forçou-se a dizer, embora não acreditasse muito naquelas palavras. –Deus está conosco.

Voltou suas atenções para o restante do grupo. Uns afiavam suas armas, outros descansavam, alguns comiam e trocavam histórias. Ayla se aproximou de Shiro, pegando uma barrinha de cereal que o garoto achou entre os escombros da própria cabana.

–Sinto muito pela sua casa. –Falou, sentando com ele e abrindo a embalagem. –Era bem legal.

–Obrigado. –Disse ele, a boca cheia de chocolate com castanha. –A maior parte foram presentes do Marlon, sabia? Ele gostava de me trazer tudo quando fosse tranqueira de tecnologia que encontrava em suas viagens. Tinha contatos no Rio com alguém que mexia com essas coisas.

–Espero que ele esteja bem. –Pensar em Marlon fazia seu estomago embrulhar um pouco mais. –Tivemos um... desentendimento. Antes. Não quero que seja a última lembrança que tenho dele.

–Uma coisa que tenho certeza é que ele vai voltar, Ayla. Mesmo que seja no corpo de outra pessoa.

–Não seria a mesma coisa.

–Com certeza não. –Shiro pensou, então riu baixinho. –Ele ia ser mais novo do que eu. Nossa, mas eu ia zoar tanto!

Ayla terminou sua barrinha. Nem se lembrava de tê-la comido direito.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora