Aka guiou Ayla até o prédio do refeitório, aproveitando para fazer um rápido tour pelas principais partes do local.
O refeitório em si era um prédio pequeno de paredes brancas e telhas de barro, que contava com uma grande área coberta onde ficavam as mesas e as bandejas com comida. Estava lotado, provavelmente por ser a hora do café da manhã, com famílias inteiras reunidas em duas, três, quatro mesas coladas, alguns comiam em pé, outros forravam toalhas sobre a grama e comiam como se estivessem em um piquenique. Todos pareciam dar-se muito bem e serem bastante amigáveis. Era até difícil lembrar de que todos ali eram lobisomens.
Três mesas eram o centro das atenções: uma continha pão, manteiga e coisas como presunto e queijo, com várias garrafas térmicas suficientes para abastecer de café um pequeno exército. A segunda era de frutas, com melões cortados, bananas, maçãs, pêras, mangas e mais uma infinidade de coisas, todas colhidas das árvores locais. Já a última tinha bolos e tortas salgadas e era a mais disputada pelos soldados famintos que acabaram de deixar o turno da noite.
–Quanta comida! Fica até difícil escolher. –Disse Ayla, olhando para tudo com água na boca. O cardápio do Convento costumava ser tão simples que ter tantas opções assim acabava fazendo com que quisesse experimentar um pouco de tudo. –Posso mesmo pegar o que eu quiser?
–Claro que pode. É uma de nós pelo tempo que ficar aqui. –Respondeu a Chefe da Guarda, pegando um pão para si e outro para Ayla. Era diferente dos comprados em padarias comuns, bem mais parecidos com os que as vezes as freiras faziam. A casca crocante ainda estava quente e tinha cor de caramelo queimado. –A única regra é não desperdiçar. A alcateia sempre vem em primeiro lugar.
–Alcateia em primeiro lugar. Entendi.
Dito isso, Ayla montou seu prato. Pegou principalmente frutas, mas também conseguiu o último e sofrido pedaço de torta de frango. Ia comemorar a vitória com Aka, mas a garota havia sumido na multidão. Gritar chamaria muita atenção. O que fazer? Tentou buscá-la com o olhar e a viu ao fundo das mesas, próxima a uma pilastra de madeira, conversando com um pequeno grupo de guardas.
Correndo os olhos pela multidão, um tanto indecisa, avistou Shiro. O garoto comia enquanto conversava com algumas pessoas, entre jovens e adultos. Sentiu um arrepio na espinha quando seus olhos vermelhos a viram. Ela acenou, constrangida, a boca suja de açúcar do pão doce que acabara de comer. O garoto apertou os olhos, fazendo um gesto hesitante para que ela se juntasse a eles.
Ayla sentou-se de frente para ele, recebendo olhares desconfiados das demais pessoas.
Shiro gaguejou.
–Gente, hã, essa é a Ayla. Ela chegou ontem junto do Marlon.
Ayla sentiu a expressão deles se suavizar.
–Seja bem-vinda, Ayla. –Falou uma mulher grande usando um vestido cor de laranja. –Esperamos que goste de Ulvgard. Pode contar com a gente para o que precisar.
–Obrigada. É só muita novidade.
–Você se acostuma. –Ela balançou a mão roliça de um lado para o outro. –Há quanto tempo é uma loba?
–Jussara! –Shiro a reprendeu. –Sabe que não se pergunta esse tipo de coisa! Ainda mais para uma garota.
–Deixa de frescura, rapazinho. Comigo é assim, direto ao ponto.
Ayla tentou acalmar o garoto.
–Tudo bem. –Respondeu ela. –Descobri há uns dois dias, mais ou menos. Meio que aconteceu tudo muito rápido. Ainda estou tentando processar.
–Isso explica o cheiro de mortal. –Comentou Jussara. –Mas dois dias... não foi na última lua cheia?
–Foi atacada, garota nova? –Perguntou um rapaz sentado à esquerda de Shiro. Alto, com cabelos cor de areia e olhos esverdeados que Ayla poderia passar a manhã inteira olhando.
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A Última Cria
FantasíaAyla é uma noviça que pouco viu além dos muros do Convento de Santa Alice. Apesar de gostar da ideia de tornar-se freira, a garota anseia por desbravar o mundo e conhecer seus mistérios. Ela só não imaginava que esses mistérios viriam atrás dela, at...