Ayla abriu os olhos, vendo uma paisagem de névoa ao seu redor. Que lugar era aquele?
–Olá? –Chamou, sua voz ecoando até se perder no vazio.
Seus pés mergulhavam em uma fina camada de água que cobria todo o chão. Estava descalça, vestida com roupas rústicas feitas com a pelagem de algum animal escuro. O vapor que escapava de sua boca misturava-se ao do ambiente, e algo parecia lhe observar.
Deixe que sua mente fique vazia.
Caminhou numa direção, seus pés fazendo barulho em contato com a água. Uma leve brisa com um cheiro adocicado começou a soprar.
Não resista. Deixe que a leve.
Ayla sentia que ia de encontro à alguma coisa. Alguma coisa que ela possivelmente desejava evitar. A brisa, antes agradável, aumentou em intervalos regulares, aquecendo o ar e trazendo junto do odor doce um toque ferroso e nauseante. O que quer que fosse aquilo, estava perto.
Você está no controle. Aja como se estivesse.
A silhueta de uma monstanha desenhou-se aos poucos na névoa. Era colossal, tão grande que o topo desaparecia além do campo de visão. Uma caverna despontava na altura do chão, por onde corria um rio que desaguava na planicie gelada.
Ayla parou na boca da caverna, sentindo o ar lhe assoprar os cabelos e enrubescer a face. O chão tremeu quando tentou dar um passo além.
–Encontrei. –Disse, sem saber exatamente para quem. –Encontrei ele.
Descreva o que vê.
Ayla estudou os arredores.
–É uma caverna. Tem algo brilhando lá dentro, mas ele não deixa que eu chegue perto.
Está preso. Não pode machucar você. Apenas respire, e o encontre.
Engolindo em seco, Ayla caminhou ao redor da entrada. Estalagmites e estalactites afiadas despontavam do teto e do chão como dentes monstruosos. Tocou as pedras com as pontas dos dedos, sentindo como eram quentes e macias, de um tom incomum de preto. Escalou, usando da força dos braços e pernas, até alcançar o topo da entrada. Um longo declive se estendia por vários metros até que outra parte da cadeia de monstanhas despontasse para o alto.
Ayla apoiou-se nos joelhos, recuperando o fôlego.
–Eu... eu encontrei.
A criatura era estupidamente grande. Maior do que tudo o que Ayla poderia sequer imaginar. A névoa encobria a maior parte de seu corpo descomunal, mas não restavam dúvidas de que se tratava da Besta Primordia.
–Fenrir.
A terra tremeu mais uma vez, e Ayla foi obrigada a se segurar. Poeira e pedra deslizaram quando a fera abriu seus olhos para enchergá-la. Um era dourado, quente, enquanto o outro emitia um brilho prateado como o luar.
Ambos olhavam para Ayla.
–Você...! –Rosnou a montanha, alto como uma tempestade, em uma língua que Ayla não conhecia. As palavras surgiam do fundo de sua mente, como se a fera estivesse dentro dela o tempo todo. –Depois de tantos anos ignorando-me, veio rastejando como o inseto que é! Pois diga à que veio, e quem sabe a poupe por mais algum tempo.
Ayla pigarreou.
–Sou Ayla. Você é Fenrir, certo?
–Correto. Sou o maior dos filhos de Loki! Fenrir!
Fenrir é conhecido por seu orgulho. Use isso contra ele.
–Sim, claro! Você é o maior! Digo, olha só pra você. Poderia facilmente ser confundido com uma montanha. Mesmo agora, posso sentir sua força.
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A Última Cria
FantasiAyla é uma noviça que pouco viu além dos muros do Convento de Santa Alice. Apesar de gostar da ideia de tornar-se freira, a garota anseia por desbravar o mundo e conhecer seus mistérios. Ela só não imaginava que esses mistérios viriam atrás dela, at...