Capítulo 27: Simulacro

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O trio se reuniu ao redor da fogueira feita por Noor al-Saqqaf. O fogo queimava estranho naquele lugar, consumindo a magia da Árvore do Mundo e produzindo chamas de cores inimagináveis. Comiam em silêncio os sanduíches preparados por Lofar e bebiam da água mágica da fonte da ilha. Os animais os deixavam em paz, ainda assustados com o ataque da cria de Nidhogg, mas também por medo da Cria de Fenrir.

Ayla sentava com as pernas cruzadas, mantendo o ovo da dragão-fêmea em seu colo. Uma fina camada de gelo cobria a casca, mas o frio que ele transmitia não parecia lhe incomodar mais do que as queimaduras que estavam antes em suas mãos. Marlon cortou um pouco da casca da Laeradr e passou a seiva sobre as feridas, e elas se curaram com extrema rapidez. Mas nada machucava mais do que saber que por sua causa aquele filhote nasceria sem uma mãe para cuidar dele.

–Afinal, o que pretende fazer com essa coisa? –Perguntou Noor, terminando de engolir seu sanduíche. –Não está pensando em ficar com ele, não é?

Ayla não respondeu. Não tinha resposta para aquilo.

–Um ovo de dragão. Não vejo um há milênios. –Comentou Marlon. –Esse não pode ser um bom sinal.

–Por quê? –Questionou Ayla.

–Como eu disse antes, dragões estão extintos. Mas as crias dracônicas, nascidas de seu poder, ainda resistem por aí. Elas nascem espontaneamente como vermes em pequenos bolsões de poder dracônico, e não pondo ovos. Por isso que nem considerei que aquela cria de Nidhogg pudesse ser uma mãe superprotetora.

–Mas você sabia, Cria de Fenrir. –Apontou Noor. –Você sabia sobre o ovo. Como?

Ayla deu de ombros.

–Foi um sentimento. Não sei descrever. –Pensou um pouco. –Um sinal divino, quem sabe? Irmã Sandra dizia que teve um sentimento quando me viu pela primeira vez. Sabendo agora a situação toda, fica bem mais claro o que ela tentava dizer.

–É uma situação bem diferente. Se levarmos esse ovo conosco, forças antigas podem ser despertadas novamente. –Disse Marlon. –Nidhogg é um ser de pura gula cega e individualista. Ele devora a fonte de vida dos Reinos sem se preocupar com o futuro dos demais que vivem nela. Viu do que uma cria sua é capaz. Imagine um dragão completo o quanto não pode fazer.

Mais uma vez Ayla não tinha uma resposta para dar. Não importava. Algo lhe dizia para levar aquele ovo consigo, e era isso o que faria.

–Tanto faz. A vida é sua mesmo. –Falou Noor, se levantando. –Mas se essa coisa colocar a nossa vida em risco, eu mesma a jogo em Ginnungagap antes que possa me impedir.

A Gigante do Fogo pegou o machado e com ele esfolou um veado morto que encontraram após a batalha empalado por um espinho de gelo. Depois de coletar tanto a pele quanto a madeira, os materiais foram colocados na bolsa de Marlon e Noor voltou a se transformar em um esquilo gigante para levá-los de volta à casa do Anão.

–Espero que saiba o que está fazendo, Ayla. –Disse Marlon enquanto a empurrava para cima e depois montava nas costas de Noor. Ela levava o ovo debaixo do braço como um recém-nascido e com o outro enlaçara a cintura do Corvo de Odin. –De verdade.

* * *

Os três retornaram da Yggdrasill. Pelo estado em que estavam, pareciam ter enfrentado sérios problemas. Marlon pegou os ingredientes na bolsa enquanto Noor ia se sentar. Sua pele soltava vapor e ela parecia a ponto de derreter.

–Aqui, Velhote, a pele e a madeira.

O Anão conferiu o conteúdo da bolsa mágica.

–Ótimos materiais. –Agradeceu Lofar, satisfeito. –Vão servir muito bem para o que quer.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora