Capítulo 47: Memórias

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Ayla ouviu um ganido baixo ao seu lado. O som parecia de dor. Vinha de uma das cabanas destruídas. Usando um pouco da força do Grande Lobo, levantou pedaços grandes de entulho, revelando um lobo branco pouco maior do que os outros. Sua pelagem estava manchada com sangue seco, mas ele parecia estar vivo.

–Shiro! –Gritou, arremessando a viga que o prendia para longe. –Meu Deus, o que aconteceu?

Tomou o grande lobo nos braços. Ele abriu os olhos grandes de cor vermelho-dourado, e então aos poucos retrocedeu para a forma de garoto.

–Ayla...? É você?

–Sim, sou eu. Eu vou tirar você daqui.

Ayla o pegou no colo da maneira mais delicada que conseguiu, o tirando do meio dos escombros.

–Ai! –Ele reclamou. –Não devia ter vindo, Ayla...

–O que aconteceu aqui, Shiro?

–Não devia... não é seguro...

Os olhos dele caíram sobre o corpo de Aka. Guilherme se encolheu como uma criança assustada, chorando.

–Não pudemos fazer nada... nada... –Ele soluçava, puxando as roupas dela. –Ela era forte... forte demais... não deu pra fazer nada... A Aka, ela... O que vou dizer pro Marlon?

Ayla acariciou a parte de trás da cabeça dele, repetindo que tudo ficaria bem. Não precisava que ele dissesse que havia sido Violeta a causadora daquele desastre. Só precisava descobrir uma coisa.

–Shiro, onde ela está?

–Quem? –A expressão de terror nos olhos do garoto ficou evidente quando ele percebeu de quem ela falava. –Não, não, não, não, não! Ayla, ela vai te matar! Ela... eu não posso...

–Ela não vai me machucar. –Falou, o gosto das palavras um tanto amargo na boca. –Sei que não. Violeta nunca me machucaria.

–Ainda é perigoso. Não posso...

–Sou eu quem ela quer. É culpa minha... tudo isso é culpa minha. –Ela limpou uma lágrima do rosto dele. Shiro era sempre tão sério que as vezes era difícil lembrar que era só uma criança. –Vou consertar as coisas.

Shiro cedeu, incapaz de deter ou ajudar. Ayla o deixou apoiado numa parede que se mantinha de pé, deu um beijo na testa dele e bagunçou seus cabelos quase brancos.

–Eu vou voltar, Shiro. Obrigada por tudo.

O garoto corou. Com um pouco de esforço, ele apontou na direção de onde a noviça estava. Apontou para o alto. Ayla olhou para o céu, para a tempestade de cor sobrenatural que se formava. Lá em cima, bem no olhos de toda aquela tormenta, algo brilhava, uma joia que poucos sabiam o valor.

Uma joia de nome Violeta.

***

Noor e Kara caminhavam uma apoiada na outra. O frio de uma contrastava com o calor da outra, e de alguma forma isso parecia ajudar a manterem o ritmo.

–Este céu –Começou a Valquíria. –Há algo deveras perturbador. Não achas?

–Seja o que for está vindo de Ulvgard. É pra onde Ayla e Marlon iriam. Tenho certeza.

As duas alcançaram os limites da barreira que antes protegia a vila dos lobos. As runas estavam apagadas, destruídas. Nada protegia aquele santuário. O que quer que tenha feito aquilo era poderoso o bastante para fazer algo que nem Noor conseguira fazer sozinha.

Kara parou, fazendo sinal para que ficassem em silêncio.

Mais à frente, próximo a muralha de troncos, havia uma fonte de poder nítida. Kara podia sentir a presença da Herdeira mesmo naquele estado deplorável.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora