Capítulo 22: Perdão

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Violeta aprendeu muitas coisas durante aquela tarde que passou lendo na biblioteca do hotel

Primeiro, descobriu que aquelas pessoas eram Anões. Até aí tudo bem. O problema veio quando descobriu que estava em uma cidade subterrânea feita de ouro mágico. Como se não bastasse, o chá deles também era muito bom.

–Só pode ser um teste. –Deduziu, rodando pelas estantes da biblioteca a procura de livros que julgasse interessantes. Como se tratava de uma coleção de hotel, a maioria eram livros de ficção barata, as vezes com teor adulto e sugestivo, mas também encontrou livros de história, geografia e tratados sobre magia rúnica. –Farei como mandar, Senhor.

Decidiu começar pelo menor, e assim seguiu.

A história daquele povo era bárbara, cheia de sangue e guerras. Paralelo ao processo de colonização das Américas e o genocídio dos povos nativos, essas criaturas trataram de dizimar diversas tradições mágicas desses povos, matando criaturas tidas como divinas, se apropriando de suas bases e aos poucos fincando raízes naquela terra estranha.

Não só os Anões, mas os Jötunn, em especial os Gigantes da Montanha, também conquistaram territórios. Maria Valentina parecia só uma garotinha meiga, e no entanto escondia forças diabólicas e um passado terrível.

Aprendeu sobre os mitos, sobre as divindades e supostos deuses cultuados por aquelas pessoas. Aprendeu sobre Fenrir, o demônio que possuía o corpo de Ayla, sobre como era tão terrível e destruidor que era capaz de impor medo às divindades mais poderosas. Descobriu sobre Huginn e Muninn, os Corvos de Odin, e como eles serviam para espionar os Nove Reinos e contar para Odin sobre tudo o que acontecia.

Era verdade o que Deko e Mori disseram. Marlon era um espião, um enganador, e Ayla era sua prisioneira sem nem saber.

Precisava fazer alguma coisa.

–O que faz aqui? –Violeta levou um susto quando Deko sentou sobre a mesa, de pernas cruzadas.

Violeta não tinha uma resposta para aquilo. Será que não deveria estar ali? Ficou pensando nisso enquanto a garota esticou a mão e pegou o livro mais alto da pilha.

–Tratado sobre as aplicações práticas da magia rúnica no conforto pessoal? Escolha interessante de leitura.

–Sinto muito. –Disse, adiantando o pior. Quando não se sabia se haveria ou não uma bronca, admitir culpa e parecer arrependida quase sempre funcionava. –Não sabia para onde tinham ido, nem que horas iam voltar.

–Não estou brava. –Disse a garota, devolvendo o livro. –Não com você, pelo menos.

–Algo aconteceu?

–Minha irmã aconteceu. Você não viu, mas ela estragou nosso plano. E, ainda por cima, deixou você sozinha. Peço desculpas por ela.

Então as irmãs haviam discutido. Isso explicava por quê o quarto estava vazio quando acordara.

–O que ela fez foi assim tão ruim?

–Foi. –Admitiu, olhando para o teto. –Mori é egoísta, mesquinha e egocêntrica. Uma pessoa horrível em todos os sentidos.

–Mas ainda é sua irmã, não é?

Deko ficou pensativa.

–É... ela é, sim. Talvez tenha sido muito dura com ela.

–Por que não tentam conversar quando ela voltar? Tenho certeza de que vão se entender.

–Você acha?

Violeta sorriu. –Tenho certeza.

Deko parecia mais tranquila agora. Suas pernas balançavam livres, seu rabo de cavalo dançava de um lado para o outro com o balançar do corpo. Nem parecia a garota fria que há poucos dias conseguiu lutar de igual para igual com uma Gigante e ganhou. Parecia só o que era: uma criança.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora