Os dias na Cidadela foram passando, e com eles Mori ia aprendendo a arte da forja. Começou pelo básico, aprendendo a derreter e moldar ferro e aço. O primeiro dia foi mais difícil que o segundo, que por sua vez foi mais difícil que o terceiro, até o ponto em que já dobrava o aço e mantinha o calor da forja com um excelente grau de perfeição.
–Não, está errado. Faça de novo. –O artesão a orientava sempre, guiando suas marteladas, corrigindo a temperatura da forja, ajustando a proporção dos ingredientes.
Como uma das Princesas do Valhalla, Mori recebera a melhor educação possível. Estudara com o próprio Corvo de Odin, a Memória dos Deuses. Mesmo que agora fosse um traidor, ele lhe ensinou sobre os Anões e contou várias histórias sobre os itens que criavam. O colar de sua mãe, uma relíquia de família passada aos Herdeiros de Thor, foi criado com inspiração no próprio Mjölnir e podia se transformar em uma arma ao simples desejo. Outros membros do Valhalla tinham sua própria coleção de artefatos mágicos criados pelos pequeninos. Mas nenhum deles poderia dizer que fizera sua própria arma, e isso enchia o peito de Mori com um orgulho diferente do que sentia até então.
Trabalhar com as mãos e forjar metais não era motivo de vergonha.
Era uma honra.
Continuou a se esforçar. A cada objeto que fazia, ficava um pouco melhor e mais próximo da perfeição que o anterior. O aço era uma receita de duas partes, ferro e carbono, mas poderia receber mais insumos para que assim assumisse propriedades distintas. Seu último trabalho foi uma espada de Aço de Osso, uma combinação rudimentar entre ferro e ossos para criar um aço com propriedades místicas, segundo alguns diziam. Não era tão diferente do aço comum, mas, segundo Ricardo Altoforno, isso era porque apenas os ossos de seres mágicos possuíam poder suficiente para fazer diferença no final.
–Muito bom trabalho, garota. –Elogiou Ricardo, analisando a espada recém forjada. –Para uma iniciante, claro. Ainda vai demorar décadas para que fique em um nível adequado aos Anões e outros clientes mais exigentes.
–Vindo de você é um elogio, Sr. Altoforno.
–Sim, sim. –Ricardo colocou a peça sobre a bancada, fazendo uma pausa para tossir. A oficina parecia uma sauna e era incrível como aquela garota estava aguentando aquilo sem nem suar. –Deve estar pronta para tentar forjar algo mágico. Vamos começar amanhã pela manhã. Vou reunir um bom pedaço de minério e ver o que você consegue extrair dele.
* * *
Naquela noite, durante o jantar no salão do hotel, Mori chamou a atenção da irmã.
–Por que não vem comigo até a oficina amanhã?
–Vai me usar assim de cara lavada? –Brincou Deko, abraçando a irmã. –Por que isso assim de repente? Não estava indo bem?
–Sim. –Disse Mori. –Só pode ser que eu precise copiar a sua força para forjar metais mágicos.
–Tentador. E já pensou em quem ficará de olho na mortal?
Mori remexeu a comida com o garfo, pensando. De fato a mortal era um problema naquele caso.
–Podemos arriscar. Ela praticamente vive naquela biblioteca agora, e os funcionários do hotel podem cuidar do que ela precisar.
–Pode funcionar. –Deko bebericou seu refrigerante. –Você ganhou. Vou amanhã bater bigorna com você
* * *
Deko e Mori chegaram cedo na oficina de Ricardo Altoforno. O Anão ficou surpreso em ver as duas novamente juntas, mas também sentiu uma pontada de orgulho.
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A Última Cria
FantasíaAyla é uma noviça que pouco viu além dos muros do Convento de Santa Alice. Apesar de gostar da ideia de tornar-se freira, a garota anseia por desbravar o mundo e conhecer seus mistérios. Ela só não imaginava que esses mistérios viriam atrás dela, at...