Capítulo 32: A Catedral do Fogo

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A primeira providência foi arrumar roupas para o garoto. Noor foi a primeira a oferecer seu casaco, mas o Espírito de Aegir recusou-se a vesti-lo, flutuando e fugindo dela. Depois de vários minutos disso, Marlon resolveu deixar sua própria camisa com ele e pegar o casaco para si.

–Assim ficamos quites. –Disse a Memória dos Deuses, fechando o zíper do agasalho preto. –Mesmo sendo um espírito, os Gigantes do Mar e do Fogo não são conhecidos pela amizade.

Kráka pareceu gostar da camisa, que lhe caiu como um vestido branco no corpo diminuto. Ele voou em círculos ao redor do mastro, rindo e se divertindo.

–Ouro do Mar! Ouro do Mar! –Repetia em meio aos risos. –Mamãe deu Ouro do Mar!

Ayla trocou olhares com os dois.

–Ele acabou de me chamar de mãe?

–Acho que sim. –Respondeu a Jötunn. –Não é assim tão estranho. Consigo ver certa semelhança.

–Ei! Eu não pareço uma nuvem de chuva!

–Podemos parar com as discussões inúteis? –Pediu Marlon, começando a se irritar com tudo aquilo. –Já consertamos o navio. Podemos continuar a viagem.

Ninguém discordou da decisão. Marlon dirigiu-se ao leme novamente e o navio alçou voo rumo à capital dos Gigantes de Fogo.

–Tem certeza de que é uma boa ideia levá-lo conosco? –Perguntou Noor em tom soturno, tomando cuidado para que Ayla não ouvisse. –A Tribo dos Gigantes do Mar está morta desde o período das Grandes Navegações. Ninguém sabe o que pode acontecer se deixarmos que ele vá ao mundo real.

–É um risco que precisamos correr. Kráka é só uma criança. –Rebateu o rapaz. –E outra, ele ajudou ela a voltar. Ainda quero saber onde a Ayla conseguiu aquele Ouro do Mar.

–Mesmo assim... –A Jötunn desviou o olhar para o garoto, que voava junto ao navio enquanto fazia piruetas no ar. –Saiba que pode estar colocando nossa missão em risco ao fazer isso. Conheci crianças que fariam grandes ditadores chorarem como bebezinhos.

–Já estamos seguindo para o covil das pessoas que tentaram matar a Ayla duas vezes. O que de pior pode acontecer?

* * *

A viagem durou menos de uma hora. O navio aportou em uma área relativamente segura e firme, e, como prometido, Noor os levaria na condição de prisioneiros.

–Vou amarrar vocês agora. –Disse ela, preparando sua magia. –Seria estranho se eu chegasse com dois prisioneiros de mãos abanando.

Com um estalo de dedos, Noor fez as raízes da Yggdrasill se enroscarem ao redor do tronco dos dois, como antes fizera quando tentara capturar Ayla. Como medida adicional, ela ficou com a faca de Marlon e o escudo de Ayla, deixando o resto da bagagem segura numa das cabines do navio.

–E quanto ao pestinha? –Perguntou Marlon, preocupado.

–Não posso levar ele até o Tetraedro. Seria loucura.

–Kráka vai ficar bem. –Disse Ayla. –Espera a gente aqui, está bem?

O garoto fez um biquinho, pousando e sentando no convés de madeira. Pegou a moeda dourada e ficou olhando para ela.

Noor al-Saqqaf tratou de então girar a realidade e trazer a dupla de volta ao mundo real. A primeira mudança foi o calor, um bafo escaldante e um sol forte sobre suas cabeças. Pisavam em areia, com vegetação morta e seca ao redor, um verdadeiro deserto sem uma vivalma a vista.

–Erramos o caminho? –Perguntou, piscando para se acostumar à intensa luz. –Isso aqui fica no meio do nada.

–É o que queremos que pensem, Cria de Fenrir. –Disse Noor. –Venham, não vamos precisar andar muito daqui.

A Última CriaOnde histórias criam vida. Descubra agora