Capítulo 1: Família Wisconti

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Inglaterra, 1784

Não importasse o quanto Liana tentasse, não conseguia parar de ver as mesmas cenas sempre que fechava os seus olhos. Sempre que adormecia ou simplesmente deixava sua mente divagar, sua mente era preenchida de imagens do Barão Preston Scott a assassinando friamente. Cenas que não pareciam frutos de sua imaginação, pelo contrário, ela sentia que tudo era real. Que tudo havia sido real. Essas imagens começaram no dia de seu aniversário de dezoito anos e sempre a faziam se sentir indefesa e tola. Contudo, quanto mais ela pensava sobre tudo, se sentia incomodada. Começou a prestar atenção nas noticias, surpreendendo-se ao ver que já conhecia tudo sobre o que falavam.

Todas as noticias que lia, os rumores que escutava eram os mesmos que ela via nas imagens quando fechava seus olhos. Em seu intimo, deu a si mesma um ultimato: caso chegasse um convite para o baile da família Wiscoti iria acreditar em tudo, não importando se fosse um sonho que continha o seu futuro ou se aquela fosse a sua segunda vida. Liana não se importava com nada disso, se pudesse impedir a sua própria morte e o seu noivado com o Barão.

Sua determinação persistiu até o momento em que despertou no dia em que supostamente receberia o convite. Um grito escapou dos lábios da jovem de cabelos castanhos, olhar assustado e suor em sua testa. Ela olhou para o local onde estava deparando-se com o seu quarto. Olhou para si mesma, suas mãos e tocou em seu peito em seguida. Tocou no lugar que havia sido ferida, não encontrando nada. Aquele era um ritual que se tornara comum sempre que despertava.

Sua respiração tornava-se ofegante a cada instante, fazendo-a acreditar que tudo fora apenas um sonho. Um pesadelo.

Um sonho, um pesado ou realidade?

Perguntou-se incerta ao se recordar de cada sensação que tivera desde o entusiasmo pela presença no baile até o medo ao sentir a lamina fria da adaga penetrar em seu corpo. Mesmo sabendo ser impossível voltar no tempo ainda sentia como se tudo tivesse realmente acontecido consigo. Olhou para as suas mãos, confusa sobre o que deveria fazer ou no que deveria acreditar.

Sorriu de si mesma tentando não demonstrar o horror que acumulava em seu interior assim que avistou uma empregada de confiança de seu pai adentrar assustada. A senhora Rollins avançou pelo quarto, abraçando-a.

― Um pesadelo? – Rollins perguntou acariciar as costas de Liana, a qual assentiu ao aconchegar-se ao corpo dela. Para ela, todo o seu sonho foi real ao ponto de sentir a dor de ser esfaqueada e traída. Somente a recordação fazia se sentir sufocada e amedrontada. – Coloque um sorriso em seu rosto lindo. Tenho novidades – Avisou ao afastar-se levemente, o suficiente para ver o rosto de Liana – Hoje chegou um convite muito especial. Um convite para o baile da família Wiscoti – Sua animação não contagiou a jovem, a qual a olhou assustada. – Imaginei que fosse ficar feliz. – Rollins estranhou a expressão da jovem senhorita, pois Liana sempre desejou participar de um baile da família Wiscoti.

Liana meneou a cabeça ao pensar na possibilidade de ter adivinhado algo como aquilo, e possuía plena consciência de ser baixa. Em seus dezoitos anos jamais tivera sorte ou uma boa intuição. E começou a perceber que tudo o que surgia em sua mente era o futuro.

Mais quais eram as possibilidades para uma coincidência como aquela acontecer? Questionou-se antes de perguntar algo que poderia tirar todas suas duvidas e fazê-la seguir em frente. Ainda que soasse uma insanidade, ela tentaria descobrir se tudo com o que havia sonhado ou vivido realmente era verdade.

― Eu tenho um prometido? – Questionou alarmada para Rollins, a qual a olhou com horror ao assentir. Poucas pessoas sabiam do compromisso entre ela e o Barão. Liana levou a mão até seus lábios, chorou desesperada e gritou demonstrando toda a sua raiva. Ignorou as palavras da senhora Rollins e suas tentativas para acalmá-la. Abraçou suas próprias pernas, não escutando nada que ela dizia, permanecendo daquela forma durante um longo tempo. – Então eu vou morrer? – Indagou-se antes de erguer a cabeça. – Não. Não vou. – Determinou ao se levantar da cama.

Liana [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora