Liana [Degustação]

Capítulo 33: Caça [9]

O silencio na floresta trazia uma sensação de paz e tranquilidade para Liana, a qual se mantinha alheia aos olhos de Noah e Daniel em si. Sua única preocupação encontrava-se em segurar o arco com firmeza ao buscar algum alvo. A paciência havia sido algo que aprendera quando começou a caçar com seu pai. Seu pai sempre lhe dissera que para conseguir atacar era necessário ter paciência para que a presa abaixasse a guarda, e por isso, aprendera a manter uma face tranquila quando seu interior encontrava-se tumultuado.

Yulia mantinha uma distancia considerável ao olhar para as costas de Liana e em seguida encarar Daniel com frieza. Ela já tinha trabalho em tentar afastar o Duque de sua senhorita e agora surgia outro homem que a olhava com desejo.

― Esse trabalho é mais cansativo que matar mercenários ― Sussurrou lamentando-se pela sua própria sorte antes de afastar tais reclamações.

A atenção do Duque não estava no suposto alvo que deveria matar, mas sim na jovem em cima da égua. Ele não conseguia desviar seus olhos dela e nem desejava afastar-se ao se recordar da presença do outro homem.

― Se não me engano estava acompanhado por um nobre ― Noah disse ao encarar Daniel, fazendo o homem assentir, envergonhado. ― Estou curioso sobre o motivo de não escolhido permanecer com ele na caça.

― É um pouco vergonhoso em falar sobre isso, mas o meu amigo deseja se aproximar de um jovem. Ele esta apaixonado pela sua irmã e acredita que esta seja uma oportunidade de ouro para fazer uma boa impressão.

― Então escolheu qualquer grupo? ― Perguntou sem acreditar nas palavras de Daniel ao manter sua expressão indiferente. Assim que retornassem a Londres iria descobrir tudo sobre Daniel Smith.

― Não ―Negou-se ―Imaginei que seria divertido fazer parte do grupo da senhorita Van Turner ―Confessou ao sentir seu rosto avermelhar-se ligeiramente ― Sempre ouvi falar de suas habilidades para caçar. Eu estava curioso.

― Sim, a minha mulher é excelente em tudo o que faz ― Respondeu antes de desviar o olhar e puxar as rédeas do cavalo, aproximando-se de Liana.

A jovem ignorou a conversa entre os homens ao manter sua atenção nos barulhos a sua volta e quando finalmente avistou uma raposa, sorriu largamente ao colocar uma flecha no arco e disparar após alguns instantes. Os olhares dos homens eram de admiração assim que encararam Liana.

Ela havia acertado a raposa com um único golpe.

―Eu preciso ganhar ― Sussurrou determinada antes de fazer a sua égua avançar pela floresta sendo seguida pelo Duque, o qual sorria orgulhosamente. Horas depois, Liana carregava em sua égua mais três raposas, quatro coelhos e um javali. A felicidade estampava a sua face. Optaram por descer em uma clareira, acender uma fogueira e comerem algo antes de continuar a caçada, e foi quando a jovem finalmente se deu conta de algo. O Duque que todos comentavam ser exímio em caça não havia usado seu arco uma única vez e Daniel somente tinha conseguido um coelho. ― Não estão tentando por minha causa? ― Perguntou diretamente ao olhar para os dois com o cenho franzido. Ela queria ganhar honestamente.

― Como poderia ganhar da minha esposa? Sou um marido realmente obediente ― Noah disse sorridente ― Se deseja a pintura, o que mais posso fazer além de apoiá-la? ― O argumento dele realmente soava razoável, se ela realmente fosse a esposa dele.

― Ao menos deveria tentar. Não quero que digam que ganhei porque você me ajudou ― Confessou. Ela queria ser vista como alguém capaz e não apenas uma pessoa que dependia de um homem para obter o que desejava.

― O que importa as outras pessoas? ―Noah indagou ao dar de ombros. ― Se permanecer preocupada com a opinião alheia não será feliz. ― Pela primeira vez, Liana olhou com seriedade para o homem ao seu lado. Ela sempre escutara inúmeros rumores maléficos sobre ele e quando finalmente a verdade foi revelada todos se aproximaram do Duque buscando obter alguma vantagem. Ele sempre agiu como desejava ou em algum momento preocupou-se com o que falavam sobre ele? Indagou-se ao mordiscar seu lábio.

― Alguma vez se preocupou com o que falavam sobre você? ― Ela perguntou sinceramente curiosa sobre o tipo de expressão que ele faria, mas nunca esperou enxergar solidão em seus olhos ao responder.

― Sim. Sempre me preocupei com o Duque, meu pai, pensava sobre mim. ― Algo em seu tom deixou a jovem com anseio de abraça-lo e acariciar seus cabelos, contudo ela se restringiu ao olhar para trás do Duque e vislumbrar o olhar curioso de Daniel. ― E por algum motivo, começo a me preocupar sobre o que você pode pensar sobre mim ― Revelou em um tom de voz baixo ao encará-la com intensidade.

Sua intensidade foi o suficiente para que Liana permanecesse sem palavras diante do seu olhar. Ela desejou responder de inúmeras formas sem sucesso. Continuaram se encarando por alguns minutos até o som de um galho seco ser partido, chamar suas atenções. Noah olhou para trás com raiva ao ver Daniel desculpar-se.

― Eu deveria enviá-lo de volta ―Noah resmungou sem humor ao estralar a língua. Yulia mantinha seu olhar no casal sem poder desviar sua atenção, pois sentia que se o fizesse, sua senhorita poderia perder sua virtude rapidamente.

Espero que eles se casem logo. Yulia pensou seriamente ao menear a cabeça invejando o trabalho de Simon, o qual era manter o homem capturado longe de todos até o momento certo.

Horas depois, o grupo seguia para uma área mais afastada quando se depararam com dois nobres. A primeira coisa que Liana olhou foi para o numero de animais, sorrindo ao ver que ela tinha conseguido obter mais.

― Parece que o Duque é realmente gentil com a sua noiva ― O nobre com olhos astutos disse sorridente ― Todos os animais abatidos foram entregues a ela. Assim ela ficará realmente mimada. ― Sorriu largamente sem perceber a expressão assassina de Noah ao encará-lo. O outro nobre continuou em silencio temendo pela sua vida. Ninguém em sã consciência tentaria fazer algum comentário sobre o Duque em frente a ele se desejasse viver.

― Insinua que a minha mulher não tem capacidade para a caça ― A aterrorizante voz do Duque fez os dois nobres se arrependerem por terem seguido pelo mesmo caminho. ― O que acha de fazer uma aposta?

Os olhos de Liana brilharam ao imaginar que tipos de bens poderiam ser apostados.

Se eu ganhar será justo que eu fique com tudo, certo? Pensou gananciosa ao sorrir timidamente, fingindo debilidade para os dois nobres.

― Que tipo de aposta? ― O nobre com olhar astuto indagou, interessado.

― Uma propriedade ― Noah informou ao dar de ombros. Ele tinha inúmeras e por isso, apostar uma delas não seria um problema, ainda mais se fosse para ganhar uma propriedade de um nobre qualquer para oferecer a Liana não seria uma má ideia.

― Apostarei minha propriedade no campo.

― E eu uma das minhas casas na cidade. Pelo preço precisará igualar. ―O segundo nobre sentiu que algo não estava bem, mas não conseguiu pensar em uma forma para avisar ao seu amigo.

― Apostarei duas pinturas que tenho e minha casa no campo. ― Disse finalmente.

― Maravilhoso. Quem acertar o primeiro animal ganha.

O nobre assentiu determinado sem ver o brilho no olhar de Liana. Um brilho repleto de ganancia ao imaginar quanto poderia ganhar ao vender tudo. 

CONTINUA...