Stelly | COMPLETO

Capítulo 30 - Batalha Internalizada ❀

   Às vezes não há nada melhor do que assistir filmes clichês românticos e comer guloseimas para lidar com o término de algo que nem sequer havia começado. Mas, eu estaria mentindo se não confessasse o quanto sofri com aquela despedida; pela primeira vez na vida, alguém partiu o meu coração.

    Só que eu deveria escolher entre permanecer na minha bolha confortável ou seguir em frente, tenho algo para fazer, salvar a minha própria felicidade, e eu assim o faria. Por isso, tomei um banho rápido e busquei no closet uma roupa que representasse meu estado de espírito nessa gloriosa segunda-feira. Tentei sem sucesso fazer cachos nas pontas do meu cabelo, mas só consegui algumas ondulações, optei por um sapato confortável e finalmente resolvi enfrentar a minha família perfeita.

     Papai e Bryan conversavam animadamente sobre negócios, dinheiro e bens, mamãe estava acompanhada de sua revista de moda, essa é a composição diária de nossa mesa, estamos tão habituados com o mesmo ritual, que ninguém percebeu a minha mudança de roupa.

— Com a alta do dólar, todos os setores são prejudicados, em Ocean Bay, o maior deles é o imobiliário, as pessoas buscam preços baixos que são impossíveis de negociar. — Adentro na conversa animada deles, mas sou recebida com um silêncio mortal. — Tendo em vista que, o nosso padrão de qualidade também está ligado ao preço.

— Para onde você vai desse jeito, Beatrice? — Mamãe quebra o silêncio, enquanto pela primeira vez na vida, papai se interessa o bastante na nossa conversa matinal, ao ponto de deixar seu jornal de lado.

— Irei para o trabalho com o papai e o Bryan, não era isso que esperavam de mim?  — bebo meu café preto, tendo cuidado para não sujar o meu terninho. — Antes que perguntem, andei estudando economia durante esses dias, nebulosos, vamos dizer assim. Andei pesquisando mais sobre o ramo imobiliário local.

   Papai ainda parece surpreso, não fala nada, apenas observa minhas atitudes, Bryan permanece indiferente, porém, Emma Hoffman traz no semblante a insatisfação que eu não esperava dela. Como um pãozinho e passo a manteiga de forma delicada, estou ansiosa e minhas pernas tremem, mas jamais irei demonstrar. Estou juntando toda a força que jamais imaginei que pudesse ter.

— E as nossas aulas de dança? O que você irá fazer na empresa, não tem tantas mulheres em postos altos por lá, vai ser uma secretária, Stelly? — Ela desdenha, enquanto os homens na mesa estão focado no desfecho de nosso diálogo, mamãe está tentando me diminuir, mas não irá conseguir.

— Posso cuidar muito bem do corpo e da carreira, mas não acredito que aprender a rebolar para o Keller irá mudar alguma coisa na minha vida. — Encaro mamãe sem acreditar no que ela está dizendo. — Se há poucos cargos, está na hora disso mudar, a respeito de ser uma secretária, não haveria problema nenhum, qualquer coisa é melhor do que ser sustentada por um homem, mamãe. E começar de baixo, seria um enorme prazer, quero ter minhas próprias conquistas.

— Está se achando independente por ter feito dezoito anos, Stelly? Você ainda depende de nós, para tudo. — Ela sorri, negando com a cabeça, papai permanece quieto e isso está começando a me incomodar. — Gerald, não irá aprovar essa atitude de nossa filha, o que pensarão de nós? — Ela está exigindo algum posicionamento dele, sei que está, toda a atenção da mesa está no patriarca neste momento.

— Creio que esse conversa já está encerrada, não há nada mais justo do que uma Hoffman que exige seus direitos na empresa, ter esses direitos. Seu avó ficaria orgulhoso, Stelly. Nossa empresa sempre foi a paixão dele, e se quiser compartilhar isso conosco, eu jamais poderia negar. — Para a surpresa de todos, papai concorda e acaba fazendo mamãe sair da mesa furiosa. — Mas não ache que irá trabalhar menos por ser da família.

— Eu jamais pediria isso, papai. — Sorrio confiante e percebo algo em seu semblante, fico desconcertada e ajusto minha postura de forma teatral. — Quer dizer, obrigada pela oportunidade, Sr. Hoffman.

Vejo um meio sorriso em seus lábios e o observo sair da mesa e pedir para o motorista preparar o carro, sinto uma vontade descontrolada de chorar, eu havia vencido uma batalha, mas não a guerra. Bryan fica por último e come seu creme de mamão papaia sem pressa alguma.

— Você não está fazendo isso pelo Dante, está? Sabe como essa empresa é importante para o papai. — Ele ajusta o terno e por segundos, vejo a mesma frieza de nosso pai.

— Não parece muito feliz, Bryan. — Deixo a minha xícara um pouco de lado, suspiro fundo e o observo. — Não vou roubar seu lugar na empresa, não seja egoísta, às vezes me trata como se nem fôssemos irmãos...

— Isso não me preocupa, Beatrice. Mas trabalhar com o papai não é um capricho, significa muito para mim. — Bryan levanta e deixa de lado o guardanapo, parece hesitante em dizer algo, mas finalmente diz. — Você já roubou a coisa mais importante do mundo para mim, só que estava ocupada demais com os seus dramas pessoais e com o Dante. Totalmente alheia aos outros, o seu umbigo não é o centro do universo. Então, não me chame de egoísta.

— Está confessando sua paixão de infância para a pessoa errada, Bryan William. Você o entregou de bandeja quando não lutou por ele, não pode me culpar por isso. — Bryan parece surpreso e afetado, mas não irá demonstrar isso.

— Para você é bem mais fácil falar, não seria tratada como uma doente pelas pessoas que te amam, não seria tratada como um erro. E não venha me falar sobre lutar por quem eu quero, se tivesse lutado pelo Dante, ele não teria ido embora.

— Eu lutei por ele! — Todo meu autocontrole vai embora e começo a chorar.

— Eu também lutei pelo Keller, mas não foi o bastante. — Observo Bryan chorar.

— Voltei, crianças... Desculpem pela demora, estava esperando... — Papai observa que chegou num momento inoportuno e fica sem entender. — Está tudo bem por aqui?

— Está tudo bem, pai. Só estava dando boas-vindas à Stelly. - Bryan sai na frente e limpo o meu rosto na manga da camisa, teríamos um longo dia pela frente.