Stelly Hoffman costuma internalizar seus pensamentos, ocultando suas emoções para satisfazer os desejos de outras pessoas. Nascida em uma família rica, tradicional e influente, a garota está decidindo qual faculdade irá escolher, mas para seu pai, o...
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Bryan desce as escadas e eu suspiro fundo, vendo pela primeira vez um rosto familiar e seguro. Não costumávamos jantar fora, sempre fomos caseiros. De início, mamãe cogitou ser ou não uma boa ideia, mas como sempre, aceitou a "sugestão".
— Está bem. Nos dê um tempo para que possamos ficar bem apresentadas. Mulheres da alta sociedade não podem ser vistas com roupas de ginástica. — Todos sorriem e por segundos consigo enxergar a aura da minha mãe. Uma mulher que vai além do padrão de socialite. Alguém que parece esconder toda a sua diversão por trás da sofisticação exigida para a mulher de um magnata.
Volto para o meu quarto e observo a familiar decoração cor de rosa, os quadros, minha prateleira de livros, a escrivaninha, a cama que é grande demais para mim. Suspiro fundo e tento ser breve, talvez eu demore mais do que o esperado, afinal, tenho que ficar apresentável para meu "noivo".
Resolvo demorar um pouco, após tomar banho, escolho um vestido simples e meus sapatos de mesma tonalidade. Ponho brincos delicados, e termino meu visual "não quero casar com alguém que eu não amo".
Desço as escadas e noto todos olhando na minha direção, seguro o corrimão com força e percebo que mamãe já está lá em baixo. Isso indica que demorei mais do que o esperado. E não foi por vaidade, nem pela tentativa de ficar bonita para Keller. Apenas passei mais tempo na tentativa de ignorar que iríamos jantar. Mamãe está me observando e seu olhar transborda admiração e sinto-me segura por ela estar aqui e agora.
— Podemos? — Meu pai sorri pondo a mão nas minhas costas, quando finalmente desço as escadas. Ele está conduzindo sua garotinha para o "abate".
Keller sussurra que estou linda, e apenas dou um sorriso para ele. Meu pretendente é filho de um dos empresários mais ricos da cidade. Sua família veio da África na busca de uma vida melhor; seus avós eram refugiados, eles trabalharam num restaurante e durante anos juntaram dinheiro. Após todo o investimento e o trabalho árduo, eles montaram o próprio negócio, hoje, a família Zaphyra é dona da maior redes de restaurantes de nossa cidade. Sem esquecer do fato de que, Thulia Zaphyra é o melhor amigo do meu pai.
Seguimos em carros separados, enquanto Bryan tira selfies e arruma seu impecável cabelo loiro. Keller e sua família — seu pai, mãe e duas irmãs gêmeas mais novas —, seguem a direção que papai está tomando.
Suspiro fundo e observo a cidade se tornar um borrão de luzes e faróis de carros. Bryan parece distraído e pensativo ao meu lado. Às vezes percebo que não somos tão íntimos, não sei muita coisa sobre ele, tampouco ele sabe sobre mim. Mas o que eu poderia ter para contar de novo a uma pessoa que mora comigo?
— Anime-se, irmãzinha. Pelo menos o Keller não é um velhote de 65 anos. — Ele sorri desdenhoso e consigo ver as covinhas e as sardas que marcam seu rosto.
— Você não parece muito interessado no jantar, está tudo bem? — Nossos pais estão ouvindo música dos anos 70 e não escutam nossa conversa.
— Por que eu deveria estar? Mamãe não deixou que eu fosse para a festa do Tyler só por causa desse jantar. Você deveria estar animada, mas parece que está indo para um enterro.
— Keller é um cara bacana? Quer dizer, não vou querer matá-lo à noite para ficar com a herança do meu marido? — Um sorriso travesso surge no rosto do meu irmão, enquanto eu sorrio de sua reação.
— Ele é o meu melhor amigo, então, sim. Keller é um cara legal. Mas acho que você deveria matá-lo durante o sexo, seria mais interessante. — Nós sorrimos novamente e quando percebo, chegamos ao restaurante.
Nossos pais se encontram novamente e iniciam um "papo de adultos", as irmãs de Keller são mais novas, portanto, permanecem no universo particular delas. Se eu tivesse uma irmã gêmea, tenho certeza de que ela acharia Keller mais interessante do que eu.
Sentamo-nos e discretamente observo o cardápio, nossos pais conversam o tempo todo. E de uma forma, fico feliz por não ser o centro das atenções — como sempre. Keller está conversando com Bryan, as gêmeas estão mexendo nos celulares e a única pessoa que poderia falar comigo nessa mesa também está distraída. Tudo que me resta é observar os traços do meu pretendente. Sua pele é negra, num tom de caramelo, os olhos são castanhos, seus dreads são medianos e as roupas descoladas. Claramente ele parece um modelo famoso do Instagram. Imagino nós dois juntos, e não vejo a mesma química, sou muito sem graça em comparação com o estilo dele.
E como se estivesse observando minha inspeção, Keller encara-me por alguns segundos e sorri. Eu odeio o sorriso fofo dele, sempre acabo retribuindo.
— ... Então, acho que esse jantar também é para falarmos de uma experiência nova para a Stelly. — Meu pai inicia, chamando a atenção de todos na mesa.
Ai não, é agora...
— Ela começou a fazer aulas de dança e está adorando. — Todos sorriem ao ouvir meu suspiro de alívio.
— Isso é muito bom, Stelly. Gosto de dançar e cozinhar. Não há nada melhor do que isso. — Thulia sorri e todos fazem o mesmo, sua risada transmite paz.
— É mesmo, querido? — A senhora Zaphyra questiona com um sorriso encantador, e todos os adultos sorriem. Eu entendi seu questionamento, mas certamente, ainda tenho que fingir uma inocência quase infantil.
Eles são um belo casal, será que um dia terei alguém assim? Que entenda minhas risadas, minhas confusões e ciúmes bobos? Madeleine e Thulia são o casal mais bonito que conheço, parecem recém retirados de uma capa de revista Vogue. Meu pai e minha mãe não são um casal bonito, eles vivem de aparência, e nada mais.
Após o jantar regado por iguarias, champanhe e muito vinho, Bryan e Keller levantam da mesa e dizem que irão pegar um ar. Aproveito para escapar também. Suspiro fundo e caminho até eles, que estão fumando na parte de trás do restaurante.
— Quer um? — Keller me oferece um cigarro de menta, e Bryan nos deixa sozinhos quando me vê se aproximando. Talvez ele já nos veja como um casal em potencial.
— Sim. Obrigada. Mas nunca fumei. — Keller dá uma aula básica e ensina-me rapidamente, como sou um fracasso nisso, simplesmente desisto e o observo fumando.
— Eu preciso te perguntar — Keller suga a fumaça de uma forma sexy enquanto semicerra os olhos — Você quer mesmo casar comigo?