Por minutos ouviu-se apenas o tilintar dos talheres da louça cara e importada, polida com muito cuidado e usada somente em ocasiões especiais. Todos naquela mesa sabiam que não havia motivos reais para comemorar, o nome Hoffman estava estampado em todas as revistas, de sua ascenção ao declínio, deixando meu pai mais ansioso do que o comum.
— Não dê ouvidos para esses abutres midiáticos, só querem um pouco de nossa atenção. — Thulia ressaltou, fazendo meu pai apenas assentir. — Seremos uma equipe imbatível, capaz de vencer qualquer pobretão de merda que brinca de ser empresário. — A beleza de sua pele negra estava evidenciada pelas gotículas de suor que passeavam por sua testa, todos estavam tensos demais essa noite.
— Será o melhor para todos, tenho certeza disso. — Sorrio sem mostrar os dentes. — Seremos imbatíveis. — Tento repetir a frase, somente para que eu comesse a acreditar nela.
— Bom pra quem, caralho? Não seja tão fria, você parece o papai. Talvez enfim a doce menina tenha se transformado na princesa gelada do império Hoffman. — Bryan se levanta rapidamente da mesa, despertando a atenção de Keller.
— William... Não é justo falar assim... — mamãe me defende pela primeira vez na vida e eu fico surpresa. — Essa briga é nossa, filho.
— Pelo menos estou tendo uma atitude além de chorar pelos cantos. — retruco, conquistando a atenção de nossos convidados. — Melhor ser a princesa de um império milionário, do que ser a princesa de um castelo de ilusões que você construiu, Bryan. Não somos mais adolescentes, não podemos apenas beber e nos divertir, temos um nome a zelar.
— Uau... O que fizeram com a Stelly que sentia o fardo de carregar o sobrenome Hoffman? Ela está aí em algum lugar? — Bryan sibila e seus olhos azuis estão repletos de fúria.
— Nosso nome sempre será um fardo, Bryan. Mas, você decide se vai reclamar disso sendo rico ou pobre. Bem, e pelo meu conhecimento vasto, você nem sequer lava as próprias cuecas e...
— Já chega! — papai bate na mesa com força, deixando todos em silêncio. — Sejam diplomatas ao menos uma única vez!
— Carregar o legado da minha família não é um fardo, respeito a história dos meus avós e perpétuo nosso reconhecimento e luta ao longo dos anos. Afinal, quantos homens negros ocupam grandes cargos em empresas de Ocean Bay? — Keller indaga, pegando todos de surpresa.
Silêncio e mais silêncio.
— Eu respeito sua história, para que você possa respeitar a minha. — Thulia citou um lema da família Zaphyra e todos os integrantes fazem o mesmo.
Meu pai por outro lado, mantinha-se alheio.
— Temos que agir o mais rápido possível, mantermos a postura de quem tem tudo sob controle, enquanto aquele maldito oferece uma boa recompensa pelas nossas cabeças em uma bandeja de ouro. — Gerald Hoffman massageia suas têmporas, internamente, desejando que isso acabe logo.
— Façam o que quiser, já estou cansado disso. Boa noite. — Bryan se retirou, enquanto Keller travava uma batalha pessoal, decidindo se iria ou não atrás dele.
— Na minha concepção, não há mais o que resolver. O casamento ocorrerá daqui a duas semanas. Exceto, se não estiver de acordo, Gerald. — Eles trocam um olhar que não identifico e apenas fico calada, assim como todas as mulheres.
— Está feito. Nossos filhos irão casar daqui a duas semanas e esse pesadelo irá finalmente acabar. — Thulia e papai apertam as mãos e sorriem satisfeitos. — Tudo irá dar certo.
E eu como noiva, não sabia do que ainda estava por vir...
[...]
A casa está silenciosa, passeio pela cozinha e verifico as mensagens do meu celular pela milionésima vez. Tenho medo que Dante não apareça, preciso contar antes que alguém faz isso no meu lugar. Suspiro fundo e caminho até o jardim, indo em direção à piscina que ninguém usa mais. Após alguns segundos, eu o vejo, com uma expressão exausta.
— Vim o mais rápido que pude. — Dante me abraça com força, como se tivesse tentando repor as forças que perdeu durante o dia. — Estava preparando tudo, iremos fugir, ele não vai me deixar em paz, nos encontrou novamente. O que você tem para me dizer?
Então, eu perco a coragem...
— Venha conosco, Stelly. Abandone esse império de merda, vamos construir algo nosso, o dinheiro deles só nos traz sofrimento. — com urgência ele segura meu rosto, olhando em meus olhos. — Por favor? Me perdoe por ter magoado você, tentei fugir do que sentia, mas não consegui. É mais forte do que eu.
— Dante, eu não posso... — sussurro, sentindo um nó se formar na minha garganta, lágrimas quentes brotam em meus olhos. — Não posso abandonar minha família, não posso deixar que percam o legado dos meus avós.
— O quê? — incrédulo, suas mãos vão se afastando do meu rosto, e a ausência de seu toque acelera as lágrimas que tentei segurar. — Stelly...
— Vou me casar com o Keller, daqui a duas semanas. Meu pai concordou que fosse de fachada, disse que protegeria você e sua mãe, podem ficar conosco, Dante isso é...
— Inacreditável! — ele vocifera, pegando-me de surpresa e pela sua expressão, sei que não vai aceitar, então apenas choro. — Gerald me prometeu segurança na empresa de vocês e hoje, meu pai tem mais de setenta por cento das ações totais da empresa. Ele te contou isso também?
Por isso o papai estava tão devastado...
— Vocês não podem nos proteger, meu pai é um monstro que tem como objetivo destruir nossas vidas. Ele sempre nos encontra, não importa o que façamos. — Dante começa a chorar descontroladamente e eu sequer imagino o que ele passou durante a infância.
— Desculpe se fui incapaz de protegê-lo, Daniel. — papai surge, pegando-nos de surpresa. — Eu fui traído dentro da minha própria empresa, alguém nos enfraqueceu para dar soberania ao Alejandro. Mas, se ele for o majoritário nas ações, você também tem direito, é o único filho, o império é seu.
— Eu não quero esse dinheiro sujo, só nos trouxe dor, passei metade da minha vida escondido, com medo que ele nos atingisse, temendo ser vigiado. Eu tinha pesadelos todos os dias, eu fechava meus olhos e o via... — O choro de Dante se torna audível, doloroso, como se ele estivesse guardado aquela dor por anos, somente agora, pondo tudo para fora.
Tento me aproximar, mas o meu pai me impede, eu precisava dar espaço para que ele compartilhasse suas dores. Então, apenas abracei o meu próprio corpo.
— Por essa razão, não consigo olhar para ele, permanecer no mesmo espaço que aquele monstro, me sufoca. Não consigo, não posso. — Dante passa as mãos no cabelo e leva alguns segundos para se recompor, depois me encara. — Adeus, Stelly. Espero que faça a escolha de seu coração.
Dante se afasta gradativamente, enquanto meu pai segura-me pela cintura. Mamãe aparece e Bryan também, deixo que as lágrimas manchem meu rosto, sinto uma dor enorme por vê-lo partir, mas cada um de nós fez a própria escolha.
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Stelly | COMPLETO
Roman d'amourStelly Hoffman costuma internalizar seus pensamentos, ocultando suas emoções para satisfazer os desejos de outras pessoas. Nascida em uma família rica, tradicional e influente, a garota está decidindo qual faculdade irá escolher, mas para seu pai, o...