Capítulo 2 - Compromisso Inevitável ❀

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"...Andar dentro dos limites
Faria minha vida tão chata
Eu quero saber que eu cheguei
No extremo
Então, me sacuda pra valer
Venha, dê para mim
Qualquer coisa que me faça sentir viva..."

Avril Lavigne, Anything But Ordinary

Tentativa 2 - Quase lá...

Quando estava na fase da pré adolescência, costumava ouvir músicas que ajudassem a transformar meus fones de ouvido em um teletransporte mágico. Na maioria das vezes, eu usava preto e ouvia Avril Lavigne. Afinal, qual garota nunca passou por uma fase de rebeldia? Às vezes desconfio que a minha está durando até hoje. Mamãe concorda com isso, mas onde há rebeldia em não acatar as coisas que seu pai decidiu fazer de sua vida? Não vemos isso da mesma forma, mas prefiro ser a garota de fones rosa que não conversa com ninguém na escola, do que ser a popular medíocre com pessoas falsas ao redor.

Lá estávamos nós, adentrando no ambiente repleto de luzes, espelhos e cores

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estávamos nós, adentrando no ambiente repleto de luzes, espelhos e cores. Algumas mulheres já iniciavam o alongamento e isso causou um certo desconforto em mim, odeio chegar atrasada ou ter os olhares em minha direção, e isso estava acontecendo agora.

— Perdão pelo atraso, garotas. Eu trouxe companhia. Essa é a Stelly. A minha filha mais nova. — As mulheres se entreolharam admiradas e parabenizaram a minha mãe por ter "uma filha tão linda".

Sorrio sem jeito e falo casualmente com algumas delas, ao notar uma mulher de pele clara e cabelo tingidos de loiro, observo que ela é a professora de dança. Seu corpo estava em uma ótima forma. Cheio de curvas que lhe deixava mais jovem. Sem dúvidas era invejado pelas outras mulheres. Sinceramente, senti-me desconfortável por parecer um palito de dentes usando roupa de ginástica.

— Seja bem vinda, querida. Meu nome é Erica, sou a professora dessa turma e estamos aprendendo a dançar tango. Sei que parece um pouco difícil, mas com muita prática poderemos chegar à perfeição. — Ela sorriu e apertou a minha mão, logo voltando a dar continuidade a seu alongamento.

Na outra extremidade, minha mãe parecia feliz e conversava com as suas amigas. Fora do nosso ambiente opressivo, ela parecia diferente. Mais nova, mais feliz. Será que papai já pensou nisso alguma vez?

— Vamos lá, meninas. Não quero ninguém com dores. Vamos nos alongar para que enfim possamos começar com a nossa dancinha sensual. Hoje eu não vou pegar pesado com vocês. — As garotas deram uma risadinha em concordância. — Seus maridos irão adorar esses quadris movimentando, vamos lá. Mexam tudo, mexam, mexam. — Erica induzia as mulheres a fazerem o que sua voz calma pedia e antes que pudesse notar, também estava fazendo o mesmo.

[...]


Após sairmos de lá, minha mãe sorria com empolgação e suas bochechas estavam rosadas por causa da euforia ocasionada pela dança.

— Então, o que achou? — ela sorri enquanto põe a chave na ignição e coloco o cinto de segurança.

— Eu gostei. Parece ser uma boa vantagem aprender a rebolar para o meu marido falso. — dou sorriso sarcástico, e em reprovação isso acaba fazendo a minha mãe suspirar fundo.

— De novo com isso? Keller é da família, não tem problema algum em conhecê-lo melhor. Seria muito bom para os negócios, mas ninguém está te obrigando a nada, Stelly. — Ela começa a dirigir e liga o som.

— Se isso é um jogo de poder, dinheiro e "conhecer melhor o Keller", por que o Bryan não casa com ele? Eles são melhores amigos. — Neste momento, mamãe dá uma freada tão brusca que se eu não estivesse de cinto, iria voar pela janela.

— O quê? — Ela pergunta exasperada, observo sua reação inusitada. — Stelly Beatrice, o que você está querendo insinuar? — Seus olhos contém uma ira que eu jamais tinha visto.

— Nada. — Dou de ombros. — Ninguém naquela casa conhece mais o Keller do que o meu irmão, eles são melhores amigos, então, não diga que é "para conhecer ele melhor". Eu sei bem quem ele é, e não estou interessada. — Cruzo os braços e suspiro fundo, olhando para a janela.

Minha mãe volta a dirigir e resolve aumentar o som do carro somente para ignorar que estou ali. Bem, acho que nossos segundos no paraíso não passaram disso, segundos.

Observo um carro esportivo que não é da coleção do meu pai estacionado em nossa garagem, não pode ser. Isso é uma emboscada. Suspiro fundo quando minha mãe estaciona e ela tira a chave de ignição, mas não antes de olhar para mim.

— Nós iremos jantar com a família do Keller, então, trate de se comportar e ter bons modos que sempre te ensinei. — Ela sai do carro e me espera fazer o mesmo.

— Isso não é justo. — cruzo os braços, sem tirar o cinto, pareço uma criança mimada. — Bryan é o mais velho, por que ele não se casa? Ah, entendi. Ele pode transar com quem quiser porque é homem, eu tenho que casar com um cara que nem conheço.

— Stelly, se você acha que promiscuidade combina com esta família, está morando na casa errada. — Seu olhar analisador me fuzila, saio do carro e ajusto minha roupa para que não fique amarrotada.

— Na verdade, há muito tempo eu penso nisso. — Falo baixinho, mas tenho certeza de que ela escutou, mas resolveu ignorar minhas palavras.

Emma Hoffman é uma mulher implacável, e quando julga ser necessário, pode ser mais difícil do que o meu pai. Por isso, não tardei em seguí-la, somente para acabar logo com isso. Suspiro fundo e com um clique a porta é aberta, ao adentrar, contabilizo as pessoas na sala, e se não estava conseguindo lidar somente com os meus pais, quem dirá com mais uma família que está forçando um casamento entre dois jovens. E eu sei o objetivo desse jantar, é um jantar de noivado. Não há escapatória.

— Boa noite. — Anuncio ao perceber o olhar de meu pai, como se exigisse o mínimo da minha educação.

— Boa noite. — Todos respondem em uníssono, tive vontade de rir pelo nariz com a sincronia deles, mas farei isso em outra oportunidade.

— Pensei que poderíamos estender o nosso jantar para os Zaphyra, já que eles são da nossa família também. — Meu pai e Thulia Zaphyra trocam um olhar cúmplice de melhores amigos.

Suspiro fundo, sem ter noção de quanto tempo estou ali parada, com uma expressão de insatisfação em meu rosto. Mas acho que tempo o bastante. Não tenho como fugir, e eu que adoro ler sobre romances, estou presa em um maldito livro do século XIII, quando o meu grande amor de época surgirá para me resgatar desse destino selado?

Ao que tudo indica, nunca. Mas enquanto isso não acontece, terei que vestir uma roupa adequada para este jantar. E eu definitivamente, gostaria de estar em qualquer lugar agora, menos aqui.

Stelly | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora