Stelly | COMPLETO

Capítulo 16 - Química Perigosa ❀

  Não sei apontar os fatores que aquele beijo mudou, aqueles beijos mudaram. Mas eu não conseguia pensar em mais nada além disso. Desta vez, havia uma maior motivação em ir às aulas de dança. E Dante que era só um substituto de sua mãe, também estava indo bastante.

   No carro, o silêncio do trajeto não incomodava mais, usava o meu tempo livre para me perder em pensamentos. A aula de dança era a única boa coisa do meu dia chato, meus pais não saíam, Bryan estava distante e não tenho amigas. Minha vida é tão solitária, só pude perceber isso agora, quando alguém finalmente prestou atenção em mim.

— ... Então eles disseram que irão comparecer hoje, vai ser bastante divertido. — Mamãe sorri e apenas faço um aceno de cabeça, imaginando que seja apenas mais um dos compromissos chatos do papai.

Quando enfim chegamos, minha vontade é de quase correr até a sala, estou ansiosa para vê-lo, assim como em todos os dias que vamos nos encontrar. Mas, Dante ainda não chegou.

— Tudo pronto, querida? — Erica cumprimenta a minha mãe com um beijo no rosto e parece notar minha busca visual por seu filho.

— O Dante não vem, creio que ele não seja necessário na aula de hoje. — Erica parece séria, usa um tom diferente para falar comigo. — Sua mãe já me disse que você tem um par.

— Mas... — tento argumentar, mas sinto que ela não vai me ouvir. Por que a mãe dele não gosta de mim? — Achei que o Dante fosse o meu par...

— Não, isso não é possível. Veja bem, sua mãe me disse que você já tem um par. E olha que engraçado, ele acabou de chegar. — Erica aponta para a entrada da sala e quando vejo, sinto uma raiva descomunal.

Papai, Keller e Dante estão entrando na sala, bem como outros homens que são esposos e namorados das dançarinas. Não acredito que eles estão fazendo isso aqui.

— Stelly, eu te falei no carro. Você não escuta o que eu digo? — Mamãe caminha até o meu pai e juntos, eles começam a encenação de casal perfeito.

Keller se aproxima e coça a nuca, tímido e sendo coagido a compactuar com isso. Cruzo os braços e observo Bryan que deixa nítido o seu descontentamento.

— Oi, Stelly. Seus pais me disseram que você não tinha um par, então, me ofereci para dançar com você. Eu não levo muito jeito mas posso tentar. — Ele sorri sem jeito e acabo sorrindo também, sei que não quer forçar um relacionamento que jamais vai existir.

— Na verdade, eu até tinha. Minha mãe só ignorou o meu par. Estava dançando com o....

— Dante! — Bryan exclama, parecendo animado pela primeira vez em semanas. — Finalmente um rosto conhecido.

Ele me observa por alguns e dá um sorriso discreto, seu cabelo úmido caindo nos olhos é tudo que eu gostaria de tocar agora.

— Sua mãe me disse que você não viria mais. — Mantenho meus braços cruzados, só para disfarçar por estar nervosa com os dois no mesmo ambiente que meu pai.

— Ela também me disse para não vir hoje, mas, vocês sabem como eu sou. Adoro quebrar regras. — Ele dá uma piscadela após falar com o meu irmão, vai falar com Erica, que parece descontente em vê-lo.

— Tá rolando alguma coisa entre vocês? — Keller questiona enquanto tento passar o pouco da coreografia que estava ensaiando com o Dante.

— Claro que não! — respondo rápido demais, deixando-o curioso. — Somos apenas amigos, assim como eu e você.

— Você não me olha da mesma forma, Stelly. — A resposta dele faz meu estômago se contrair. É tão perceptível assim?

— Oi, me desculpe pelo atraso, realmente não me queriam aqui. — Dante sorri e percebe nosso clima diferente por causa da conversa anterior. — Estou atrapalhando?

— Não. Só estamos ressaltando que eu sou um desastre. — Keller sorri e me observa, apenas fico quieta, não consigo focar em nada, estou confusa.

— Você parece nervosa, Stelly. Nossos pais estão nos observando o tempo todo. Como eu queria te beijar agora, só para provocar o seu pai. — Dante fala baixinho no meu ouvido, enquanto finge que está me ensinando. — Entre no jogo deles.

Acabo concordando e Dante se distancia, estou evitando não procurá-lo pelo salão. Meu pai não viria sem segundas intenções. E conheço as dele.

Bryan permanece no celular o tempo todo, ignora algumas meninas chamando a atenção dele. Mas, sinto que ele nos observa. O que será que eu fiz? Está com ciúmes de irmão mais velho? Só gostaria que me contasse tudo que está sentindo.

— Me empresta ela um pouquinho, Keller. — O louro surge, chamando nossa atenção e tirando-me dos meus pensamentos. — Bem, hoje podemos ver que todos estão um pouco tímidos. Mas é importante deixar claro que além de ter bons movimentos, é necessário ter química. — Dante anuncia e todos prestam atenção, não entendo o que ele está fazendo, até que me conduza para o centro. — Stelly é uma aluna nova, mas que apesar disso, mantém uma boa desenvoltura, sempre carrega uma boa energia enquanto dança.

Ele passa a mão por minha cintura, minhas mãos automaticamente vão para a curvatura de seu pescoço e percebo o que está fazendo. Provocando o meu pai, bem ali, diante dos olhos dele.
Arrisco alguns passos que saem tímidos, mas sei que todos estão olhando, não posso errar. Não desta vez. Uma música qualquer começa a tocar, então deixo Dante conduzir o meu corpo, com sua proximidade, sua sensualidade.

Céus, como estou envolvida por ele...

Ouço alguns gritinhos de animação e seguimos com a coreografia boba que fizemos — e que eu jamais admitiria que estou treinando no chuveiro —, apesar de ser algo fácil e bobo. Sinto como se fosse a protagonista de um filme de dança.

Quando enfim Dante me faz dar um rodopio e no final colar nossos rostos. Sinto a vontade incontrolável de beijá-lo ali mesmo. Enquanto ainda recupero meu fôlego.

— É sobre isso... Química. — Dante se afasta e me parabeniza, como se eu fosse apenas uma aluna se dando bem na matéria. Mas sei o que ele queria, e conseguiu, meu pai saiu da sala alguns segundos depois.

Dante havia travado uma guerra silenciosa, mas ainda não conhecia o tipo de adversário que o meu pai poderia ser.

Mas em breve, nós dois iremos descobrir.