Minha penitência acabou, assim como aquele jantar estranho que tivemos. Tudo ocorreu em suas formalidades, papai lançava para Dante um olhar analisador o tempo todo. Mas, ele saiu da minha casa com vida, da mesma forma que chegou.
— Stelly? — Escuto a voz da minha mãe pelo quarto, enquanto ainda estou trocando de roupa para a aula de dança. — Só um instante, estou quase acabando.
Ela sai rapidamente, deixando-me sozinha, se queria falar algo importante comigo, havia desistido.
— Vamos. — Sorrio e nós duas seguimos em silêncio até a garagem. Uma das poucas coisas que deixava Emma Hoffman feliz era dirigir. Mesmo com um motorista à nossa disposição, ela ainda era adepta de ir sozinha aos lugares.
Talvez essa seja a única situação em que se sente no controle de sua própria vida.
Continuo em silêncio, o clima está calmo e eu simplesmente amo os fins de tarde. Não sei até quando ficaremos nesse horário, talvez minhas férias acabarem.
— Chegamos. — Mamãe anuncia, enquanto fico surpresa, não havia percebido o quão rápido tínhamos chegado. — Vamos lá, estou ansiosa para mexer os glúteos.
Sorrio e caminhamos lado a lado, cumprimentando as pessoas que falavam conosco. E pela primeira vez, pude observar o local com mais clareza.
Dance Glow era repleto de salas, com os mais variados professores e níveis de dança. Era dividido em pisos para manter uma hierarquia, o andar mais alto era considerado da elite. Crianças carentes estão no primeiro andar, idosos no segundo, estudantes no terceiro, artistas no quarto e e nós ficamos no último andar.
Mamãe começa a falar sobre assuntos aleatórios, subimos as escadas até o quinto piso — sim, ela gosta de subir escadas só para se exercitar. E confesso, é a última vez que subirei com ela.
Estamos no piso da elite e posso ver claramente as mudanças de níveis sociais. Madeira é substituído por vidro, ventiladores por ar condicionado, fora toda a decoração luxuosa. Suspiro fundo e observo uma porta estreita, recém alocada, vermelha e com uma placa escrita "privada".
— Mamãe, o que tem nessa sala? — ponho uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e observo algo mudar em sua expressão.
— É um lugar que boas meninas não frequentam, querida. — Ela passa a mão no meu cabelo e sorri. — É uma sala usada para fins que questionam a moral e os bons costumes.
— Entendi. — Digo por fim, incapaz de dizer qualquer coisa, uma sala privada? Que interessante! — Devo imaginar, mamãe.
Adentramos na sala em silêncio que logo foi substituído por vozes femininas e muitas risadas. A professora de dança ainda não estava na sala, então, tivemos que bater um papo e pela primeira vez observo que há outras mães com suas filhas. Uma garota acena para mim, ela tem um sorriso cativante, aceno de volta e mantemos a distância.
— Stelly, em breve teremos uma aula para casais, você poderia trazer o Keller, seria divertido. — Mamãe bebe água e espera pela minha resposta, como se eu simplesmente fosse concordar.
— Seria uma ótima ideia, se fôssemos um casal. — Sorrio forçado e antes que ela pudesse responder, uma voz animada invade a sala.
— Olá queridas, estou de volta. Vamos alongar o corpo e mexer essas bundas gostosas! — Erica surge sorrindo, acabo sorrindo também, tem algo tão cativante nela. — Hoje temos um convidado especial, que não é mais uma novidade.
A expectativa toma conta da sala, juntamente com risadinhas. Estou tão curiosa, finalmente irei conhecer o filho dela. Ela bate palminhas e as luzes se apagam, despertando curiosidade e surpresa, enquanto o filho da minha professora de dança surge entre a pouca luz do ambiente.
Então, eu o vejo.
Prendo a respiração, incapaz de dizer qualquer coisa. Dante está aqui, estamos no mesmo lugar. Novamente. Por que a mamãe não me contou quem ele era?!
— Vamos começar uma semana com músicas mais lentas e sensuais. Dei uma mexidinha nas luzes, só para espantar a timidez de vocês. Mas não se acostumem com isso. — Erica sorri e todas as alunas começam a se alongar.
Ainda estou digerindo a informação de que o garoto da conveniência é amigo do meu irmão e filho da minha professora de dança. Poderia ficar pior?
Claro que sim! Ele acabou de me notar. E está caminhando na minha direção, aquele mesmo sorriso despretensioso de sempre.
— Senhorita Hoffman, nos encontramos novamente. O quão alegre fica o meu coração, imensurável tal felicidade em vê-la aqui. Como é que a minha mãe gosta de falar? "Mexendo a bunda gostosa". — Ele dá um sorriso de canto, como se estivesse fingindo me orientar no alongamento.
Minha mãe está conversando com Erica, ambas super envolvidas em um assunto particular. Estou incapaz de responder, sentindo vergonha e raiva ao mesmo tempo. Esse garoto está obstinado em me fazer desistir da aula de dança? Não mesmo! Se ele gosta de desafio, serei um.
— Dante, que desprazer em vê-lo. Achei que meu pai havia pedido para algum segurança dar um "jeitinho" em você. — Semicerro os olhos e tento dar uma espiada na expressão dele. Não consigo ver muita coisa.
— Não sabia que garotos bonitos estavam incluídos no cardápio da sua família. — Ele sorri, alongando os braços e esperando que eu faça o mesmo. — É isso que te faz ficar tão bonita? Garotos inocentes na sua dieta?
Mamãe retorna e ele simplesmente some, deixando sua provocação no ar. Ele me acha bonita? Como assim?! Por que não ligam essas luzes? Essa baixa iluminação está quase me permitindo vez apenas silhuetas. Quero vê-lo melhor.
— Mexam-se no escuro, meninas. Ninguém está vendo, soltem essas leoas que estão aprisionadas. — A voz de Erica comanda, não sei se elas realmente estão fazendo o que a loura pede.
— Vamos, Stelly. Ninguém está vendo. — Mamãe sorri e parece ofegante, provavelmente está "soltando a leoa", ela sabe bem que eu continuo parada.
— Mexa-se Stelly, você precisa trabalhar melhor esse quadril. — Sinto uma voz masculina soprar em meu ouvido, fazendo meus pelos ficarem eriçados. — Vai ser um enorme prazer acompanhar o seu progresso nas aulas de dança.
E desde esse dia, nada mais foi como antes...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Stelly | COMPLETO
RomansaStelly Hoffman costuma internalizar seus pensamentos, ocultando suas emoções para satisfazer os desejos de outras pessoas. Nascida em uma família rica, tradicional e influente, a garota está decidindo qual faculdade irá escolher, mas para seu pai, o...