Peacock

On fire

POV. Abbie Liesel

Eu já podia ver tudo rodar e sabia que Justin já estava bêbado tanto quanto eu, porque aquele copo que ele segurava em mãos era o mesmo de quando ele foi me atender na porta a 3 horas atrás. Ele enchia o nosso copo de whisky a todo instante, passando já pra segunda garrafa. Eu tentava de todos os jeitos, mesmo lutando contra a minha boca pra não responder algumas perguntas. O que mudaria em falar que a minha mãe era uma prostituta que me abandonou pra continuar seu trabalho em outro país? Ele não buscaria por ela e traria pra que eu pudesse conhece-la.

- Você não respondeu aquela pergunta. - Justin disse, relaxando o seu corpo no sofá de frente pra mim.

- Qual? - Perguntei, franzindo a testa. Fechei os meus olhos por alguns instantes por ver tudo rodar e os abri, fitando Justin na minha frente.

- Sobre você já ter se envolvido com algum cliente. - Ele disse.

- Hum... - Dei um gole do whisky pra ser um modo fugitivo de pensar na minha resposta. - Uma das regras da boate é essa: não me envolver.

Justin riu, balançando a cabeça negativamente.

- Não estou perguntando das regras, doce Abbie! - Ele disse com uma voz suave. - Estou perguntando se você já se envolveu.

- Não. - Falei, soltando um suspiro em seguida.

- Você está mentindo. - Ele disse com toda certeza, tomando mais um gole do whisky.

- Como assim? Estou mentindo?

Mais uma risadinha fraca escapou dos seus lábios.

- É obvio que está. Você já se envolveu sim.

- Claro que não!

- Sim, Abbie. Não precisa me contar, apenas me diga se envolveu.

- Não necessariamente. - Falei. - Mas quando eu estava começando a me entregar o Scott cortou a minha relação com esse cliente. Ele nunca mais deixou que... que eu transasse com a pessoa.

Justin pareceu pensativo por alguns segundos, tendo o seu olhar em mim e logo, assentindo. O silencio se propagou no ar e pela primeira vez aquilo me incomodou. Notei que todos os instantes que eu fiquei ao lado de Justin só falamos de nós, e ele parecia incrivelmente bem mesmo estando a base de álcool.

- Você não vai falar sobre você? - Perguntei, quebrando o silencio.

Justin riu, passando a ponta do seu dedo na boca do copo e me fitando.

- Tudo o que você quiser saber pode procurar na Google. - Ele falou e eu notei um ar de arrogância na sua voz. Não pra mim, mas sim pela pergunta. - Desculpa, eu não quis falar assim, mas é que...

- Tudo bem! - Eu disse, esticando o meu braço e colocando na sua perna. Justin parou tudo o que estava fazendo e olhou pra minha mão, então notei que talvez foi um ato ridículo da minha parte e logo a recolhi.

- Está tudo uma merda, é só isso. - Ele disse frustrado. - Por isso em todos os instantes eu preferi falar de você, mesmo que a sua vida seja algo difícil em relação a falta dos seus pais, a ter vivido em uma casa noturna desde pequena e ter começado nesse ramo tão cedo, mas acredite: o inferno sou eu, não você.

Ou eu estava bêbada demais, ou aquilo havia me tocado realmente porque eu sentia o choro na minha garganta. Engoli o mesmo, impedindo de fazer papel de ridícula na frente do Justin Bieber. Merda!

- Eu já repeti milhares de vezes que eu não sou a sua psicóloga, sabe? - Falei. - Mas se quiser conversar, de qualquer forma...

- Não quero falar sobre eu. - Ele disse, convicto disso. - Eu não tenho nada de bom pra oferecer pra você falando sobre os meus problemas, você vai ficar atordoada e querer até se afastar. - Ele riu fraco. - É o que todos fazem. Por isso pedi que você contasse sobre você, foi bom Abbie. - Ele sorriu com sinceridade dessa vez. - Eu pude esquecer um pouco do que levo nos ombros e ser uma pessoa normal e menos problemática por algumas horas.