Peacock

What that fuck?

''Ninguém te contou ainda? A vida não é justa!''

Eu nunca pensei que em toda a minha vida eu passaria por um momento como esse. Quando a boate pegou fogo, eu pensei que fosse o fim do pesadelo, que Scott havia ficado pra trás junto com Mike e todos os demônios que um dia causaram sofrimento em Abbie, mas esqueci que nós, seres humanos, também somos feitos de cicatrizes e que talvez não sejamos fortes o suficiente pra supera-los tão fácil.

Faziam três dias que eu havia tido a conversa com a doutora Mendez e ela pediu que eu ficasse de olho em Abbie, e por mais que aquilo fosse necessário - o que era as minhas palavras contra alguém especialista no assunto? - eu me sentia mal por estar fazendo isso com a mulher que eu amo. Eu sentia como se estivesse a traindo, mas todas as vezes que esses pensamentos não tão bons invadiam a minha mente, eu tentava mentalizar que aquilo era para o bem dela.

- Baby, o Bernard não te ligou pra falar sobre a viagem? - Abbie perguntou enquanto fazia panquecas. Eu estava sentado em cima do balcão de mármore ao lado do fogão vendo-a mexer na panela.

- Não - respondi, desviando os nossos olhares. Eu odiava mentir. - Eu vou telefonar pra ele, acho que ele acabou se esquecendo...

- É, ele deve ter várias coisas pra fazer... - ela disse sem tirar os olhos da panela. - Você quer viajar mesmo, né? Não estou te forçando ou...

- Relaxa amor, eu quero sim! - falei, sorrindo de lado. - E você?

Ela me fitou, abrindo um sorriso ainda maior.

- É lógico que sim, quem negaria Dubai?

Eu ri, balançando a cabeça positivamente enquanto Abbie voltava a sua atenção para as panquecas. Havia um prato do seu lado lotado com panquecas já prontas, e logo ela rechearia.

Eu continuei a observar, não pra notar algum comportamento estranho, mas sim por eu gostar disso. Ela parecia mais calma e desde o surto que teve na cozinha, aquilo não se repetiu mais. Eu estava feliz, mas receoso por ela ter outro surto, então eu tentava sempre medir o que eu falava pra não acarretar algo.

Ajudei Abbie a rechear as panquecas, algumas colocamos presunto e queijo, outras chocolate, e teve a de frutas, com banana e morango. Eu estava tentando criar uma rotina movimentada com Abbie, não saiamos tanto de casa por conta do frio - que não cessava. Mas talvez, passar o dia todo de baixo da coberta assistindo filme não era uma boa solução. Então, cozinhávamos bastante, brincávamos de tênis de mesa ou até mesmo apostávamos no vídeo game.

Quando terminamos as panquecas, eu mesmo fiz a mesa. Coloquei dois pratos e dois copos, junto com os talheres. Deixei a cadeira de Abbie ao lado da minha e ela trouxe um prato grande com todas as panquecas, colocando sob a mesa.

Abbie se sentou do meu lado e eu fiquei de lado, olhando pra ela que estava de frente a mesa. Ela degustava aquelas panquecas de um jeito tão bom que dava vontade de rir, e eu logo a acompanhei.

- E sua mãe, baby? Tem notícias? - perguntei, vendo a boca de Abbie cheia de chocolate. Comecei a rir, me aproximando dela afim de lamber seus lábios, mas assim que ela sentiu meu rosto colado no dela, ela deu um pulo pra fora da cadeira de olhos arregalados. - O que foi isso Abbie? - perguntei, também assustado pela sua reação.

Ela soltou um suspiro, fechando os olhos e levando a mão até o peito, logo, voltando a se sentar na cadeira.

- Me desculpa eu... eu me assustei - ela sussurrou.

- Tudo bem - falei, desconfiado. Não limpei a sua boca com os meus lábios, e, sim com os meus dedos. Ela me olhou e eu sorri, tentando disfarçar.