What do you mean?

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''No fundo, os jovens estão mais a sós que do que os velhos. É difícil viver neste mundo louco.''

Eu queria poder dizer que tudo estava bem, que agora o meu coração estava mais aliviado por eu ter feito algo de bom para Abbie, mas, não estava. Eu não conseguia mais pregar os olhos, e toda vez que eu ficava sozinho naquela casa, eu só sabia chorar e pensar como Abbie estava naquele hospital. Sempre que eu podia, eu estava com ela, e sua implicância de não aceitar o tratamento continuava firme e forte, o que tornava tudo ainda mais complicado.

A casa nunca esteve tão vazia desde quando ela partiu. Esther não come, não bebe água e fica olhando para a porta de entrada da casa como se estivesse esperando Abbie voltar. A dor que eu sinto é tão forte que eu me dopo de remédios pra poder dormir e me desligar um pouco, mas quando eu acordo parece que o mundo desabou sob eu.

Eu estava sentado no sofá, olhando para o nada. O silêncio propagava pela casa inteira, o que já se tornou diário pra mim. A neve ainda não havia cessado, e o natal se aproximava cada vez mais. O barulho irritante do meu celular ecoou pela sala e eu dei um pulo, fitando o aparelho em cima de uma das mesinhas ao lado do sofá. Estiquei o meu corpo, vendo que na tela marcava o nome da minha mãe. Atendi:

- Oi mãe.

- Querido, como você está? Está melhor?

Desde quando Abbie foi internada, a minha mãe telefonava pra mim pelo menos umas dez vezes ao dia. Eu havia contado a ela como eu me sentia, e, eu sabia que no fundo ela estava com medo de eu fazer alguma bobagem. Eu já havia passado pra uma crise depressiva quando sai da prisão, e talvez o medo dela é que essa crise voltasse.

- Não - murmurei, soltando um suspiro.

- Justin, eu estava pensando... o que você acha de eu passar uns dias com você? Você não pode ficar sozinho.

- Mãe, não precisa. Eu não quero! - murmurei.

- Filho, você sabe que quanto mais sozinho você fica, pior é - ela tentava manter a calma.

- Eu sei, mas eu não quero que você pare sua vida aí pra vim me ajudar. Eu vou saber me virar.

Minha mãe riu fraco.

- Eu não vou parar a minha vida aqui, Justin. Eu estou tentando poupar mais problemas.

- Não precisa, mãe. Não precisa vim aqui.

- Você é tão complicado! - ela sussurrou, soltando um suspiro derrotada.

- Mãe... - a chamei, pensativo. - Será que o que eu fiz para Abbie é o certo? Toda vez que eu saio daquele hospital, a vejo mal, rejeitando o tratamento... será que o certo não seria ela ao meu lado?

- Justin, eu não posso te responder isso. Você é quem convivia com ela, e deveria de alguma forma fazer essa pergunta pra si mesmo. Tenta pensar como seria se você a tirasse do hospital, ou, se ela continuasse lá. Coloca na balança. Vê o que pesa mais.

- Eu me sinto derrotado - sussurrei, encostando a minha cabeça no sofá e fechando os olhos.

- Me corta o coração te ver assim, Justin. Queria que você fosse menos cabeça dura.

- Mãe... por favor.

- Tudo bem - eu não conseguia a ver, mas tinha certeza que ela acabava de revirar os olhos.

- Eu vou desligar, tudo bem? Qualquer novidade eu te ligo.

- Estarei aguardando. Se precisar de companhia, me liga também que eu pego o primeiro voo e vou até aí. Eu te amo!

- Obrigado mãe, eu também te amo - falei, finalizando a ligação em seguida.

Joguei o celular no sofá e tentei relaxar o meu corpo. Aquela casa estava um tédio. Puxei o controle da TV, ligando-a. O primeiro canal era um noticiário de famosos, e o mesmo passava algumas fotos minhas chegando ao hospital onde Abbie estava internada. Na manchete, dizia:

''Namorada de Justin Bieber para em clínica de reabilitação''.

A mulher que narrava, dizia palavras pesadas e sem compaixão.

''Além de Justin Bieber se afundar, parece que agora ele quer afundar as pessoas ao seu redor também. Há exatos cinco dias, a ex prostituta Abbie Liesel, namorada do astro Justin Bieber foi internada em uma clínica de reabilitação por estar usando drogas. Justin não parece tão feliz ao ir visita-la, não é mesmo? Mas parece que quando ele a apresentou as drogas, não pensou nas consequências.''

Desliguei a TV antes que aquela mulher terminasse de falar. A mídia estava me culpando por tudo, como se já não bastasse o que estivesse acontecendo. A minha cabeça doía, o meu corpo doía, a minha consciência doía.

Senti uma lágrima escorrer dos meus olhos, e eu a sequei rapidamente. Queria que Abbie me perdoasse por isso. Queria que ela sentisse orgulho de mim, queria realmente salva-la do modo que ela sempre desejou.

Mas eu não era capaz. Eu era um fracassado, eu sempre fui.

Apoiei meu cotovelo na perna, afundando meu rosto em minhas mãos. Soltei um suspiro, levantando meu rosto novamente e olhando para frente. Havia um caderno em cima da mesa de centro da sala, e eu me recordei de te-lo pegado a dois dias atrás. Lá estava escrito algumas músicas que eu colocaria no meu novo disco, então, comecei a folhea-lo.

Tinha uma caneta presa no meio dele, e eu a tirei. Fui para a última folha em branco e comecei a escrever algumas frases, eu sabia que aquilo era quase uma terapia.

Minha mente começou a viajar e as palavras começaram a fluir. Eu escrevia sem parar, tentando capturar todas as ideias que vinham na minha mente, formando frases bem postas que formariam, mais pra frente, uma música. Parei na metade, lendo o que eu já tinha escrito, e, após isso, continuei a escrever mais um pouco, até finaliza-la. Comecei a ler desde o começo, e quando eu cheguei ao final, perguntei a mim mesmo:

- Que maldito nome eu poderia dar pra essa canção?

Com a perna balançando por me sentir ansioso e com o papel cheio de rasuras e rabiscos, eu sorri ao pensar em um bom título para a canção.

What Do You Mean?

[...]

Eu sentia a água bater nas minhas costas enquanto o meu corpo inteiro estava relaxado. Eu estava com os olhos fechados, de baixo do chuveiro quente, tentando de alguma forma esvaziar toda a minha mente. O meu celular estava no quarto e eu o ouvia tocar, soltei um suspiro, ouvindo-o parar de tocar logo em seguida. Continuei em baixo da água, escutando o celular voltando a tocar.

Desliguei a ducha, me enrolando na toalha rapidamente e saindo do banheiro. O celular não parava de tocar, e quando eu o peguei em mãos, o nome do Doutor Carlos marcava na tela. O meu corpo inteiro estremeceu, e eu atendi em seguida:

- Alô?

- Justin? Boa noite! Me desculpa telefonar essa hora...

- O que aconteceu, Doutor? A Abbie está bem?

- Então, você me pediu pra eu telefonar assim que os resultados dos exames saíssem, né? Pois bem, eu iria te telefonar só amanhã por agora ser tarde, mas... ocorreu algo em um dos exames dela, e eu queria pedir pra você vim para o hospital imediatamente. Tudo bem?

Eu sentia o meu coração bater tão rápido e a minha voz falhar. Parecia ter um caroço no meio da minha garganta. Pisquei diversas vezes, sentindo uma lágrima quente escorrendo.

- Eu estou indo - a minha voz mal saiu, e foi a única coisa que eu consegui dizer, até escutar a resposta do Doutor:

- Ok, estou lhe esperando - e em seguida, eu finalizei a ligação.

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