Remember is not live

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Eu podia sentir minhas mãos presas em uma corrente. Os meus pés estavam da mesma forma, eu era incapaz de senti-los, mas cada vez que eu tentava mexe-los o barulho irritante do aço corria pelo mármore me dando certeza que eu estava presa a horas. Minha boca estava seca e eu sentia o pano que a amarrava cortar meus lábios. Um pano preto tampava meus olhos, impedindo que eu enxergasse se estava dia ou ainda era noite. A única certeza que eu ainda tinha naquele momento era que Mike O' Hanoly não estava por perto.

Eu não sentia seu toque, tão pouco era capaz de ouvir sua respiração. Eu tinha certeza que meus sentidos estavam se perdendo por eu estar fraca o suficiente, mas o seu cheiro horrível era algo que eu conseguia notar quando ele estivesse chegando perto do quarto.

Tentei mais uma vez me soltar daquelas correntes, ouvindo o rugindo que elas causavam no chão. Rugi com o pano na boca, mas era tão falha a tentativa de me liberar ou de alguém me ouvir.

A única pessoa naquela mansão que estava desde a hora que eu cheguei era a empregada. Eu não sabia o nome dela, nunca se quer tive algum contato a não ser visual. Ela sempre me olhava com piedade, talvez, ela tivesse a noção do quanto eu sofria quando entrava na porta do maldito quarto, ela não sabia o que rolava dentro do mesmo, mas ela nunca pareceu sair daquela mansão, então, ela tinha noção de que eu entrava uma hora e saia apenas dois dias depois.

Eu sentia minha garganta seca e suplicava em pensamento por um gole de água. Eu poderia desejar uma cama quentinha já que eu estava nua e a janela do quarto estava aberta, o vento batia com certa intensidade no meu corpo e eu sentia um arrepio tremendo me causar da cabeça aos pés, mas eu só queria um copo de água, aquele pano preso em meus lábios me sufocava mesmo que ainda eu conseguisse respirar.

Então, eu consegui escutar seus passos se aproximando. Mesmo de longe eu conseguia sentir o toque duro de seus pés batendo contra a madeira do chão enquanto ele se aproximava da onde eu estava. Eu parei de me mover, tentando de alguma forma não fazer barulho com as correntes, até escutar os passos se cessarem. A porta não foi aberta e eu tinha certeza que ele não estava dentro do quarto porque assim que ele saiu, ele fechou a porta com a chave. Comecei então a procurar pelo olfato e assim que eu respirei profundamente, inalando todo o cheiro do ambiente, tive certeza que ele estava por perto.

Ele estava, mesmo que eu não fosse capaz de escutar, ele estava.

Senti meu corpo todo se enrijecer, meu corpo todo se arrepiar e meu coração disparar ainda mais. Eu estava cansada de não ter feito nada, porque até então, absolutamente nada ele havia feito comigo além de ter me prendido naquelas correntes de pé com os olhos vendados e a boca tampada, além das suas mãos imundas que me tocaram por completa, mas não houve penetração, não houve oral, não houve nada que me fizesse cansar de tal forma.

Eu estava cansada pelo simples fato de sentir a corrente cortar meus pulsos. De sentir o pano cortar meus lábios. De sentir vontade de sentar por estar mais de 20 horas de pé sem um gole de agua e um pingo de comida se quer.

E a porta foi aberta.

Eu consegui escutar a chave rodando dentro da maçaneta e a mesma sendo aberta. O rugido irritante da porta me torturava como nunca, então, seus passos voltaram a serem dados e eu tinha certeza que agora ele estava novamente no mesmo ambiente que o meu. E a porta foi fechada. Trancada com a chave. E novamente eu estava na companhia de Mike O' Hanoly.

- Sentiu saudades, docinho? - Ele perguntou, colando seus lábios em meu pescoço.

Mexi meu braço na tentativa de soltar a corrente e rugi entre o pano presente na minha boca. Sua risada era notável, mesmo que eu não lhe enxergasse eu tinha certeza do sorriso divertido presente em seus lábios a me ver naquela situação.

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