Eu Não Vou Te Deixar (ShikaTema)

Capítulo 26

Aviso: o capítulo pode ser considerado gatilho para algumas pessoas pois trata de abuso sexual. Não é nada explícito e nem pesado demais, mas fica o alerta mesmo assim.

SHIKAMARU

Temari deve ter ficado pelo menos uma hora chorando no meu colo, sem dizer uma única palavra, apenas com aquele choro que só cessou quando ela dormiu. Todas as tentativas de acalmá-la foram fracassadas. 

Enquanto tentava confortar Temari, ao menos um pouco, fiquei pensando no que poderia ter acontecido. Tudo o que sabia era que aconteceu algo em relação à um tal de Ren. Quem seria esse cara que seria tão importante na vida dela para fazê-la ficar nesse estado? 

Meu celular, que estava na cabeceira da cama, começou a tocar. Eu o peguei para desligar e vi que a ligação era do Kankuro. Eu tentei levantar sem que Temari acordasse e desci para a sala para atender a ligação. 

- Shikamaru? Meu Kami-sama, estou tentando falar com você e a Temari há horas! Você está com ela aí?

- A-ahn, oi Kankuro. O que aconteceu? A Temari tá lá no meu quarto. Ela recebeu uma ligação e do nada começou a chorar e não conta o que aconteceu. 

- A Temari... - a voz de Kankuro vacilou - a Temari foi abusada. 

- Abusada?! - Gritei incrédulo - Abusada? Como assim? Por quem? 

- Eu não sei explicar com certeza como tudo aconteceu, mas tem um abusador à solta, ele estuprou diversas mulheres e a Temari foi uma delas. Você acha que consegue trazê-la pra cá? Precisamos do depoimento dela, entendermos o que aconteceu direito, entende?

Abusada? A Temari foi estuprada por um cara? Fiquei alguns segundos sem dizer nada ao Kankuro, ainda tentando processar aquela informação. 

- Shikamaru? Tá aí ainda?

- Como... Como vocês deixaram isso acontecer? Quem fez isso?

- Ren Namida. Shikamaru, traga a Temari de volta, nós precisamos dela pra fazer justi...

- Quando? - Falei com um voz trêmula que soava tão baixa que duvidei que Kankuro tinha ouvido ou não. Pensar que a Temari tenha sofrido tanto, ser violentada era atordoante, uma dor crescente no meu peito. - Quando aconteceu? Ela não contou pra vocês? Vocês não perceberam nada?

- Foi há alguns anos. Nós não sabíamos, nem a Matsuri, uma amiga dela, sabia. Se tiver acontecido com a Temari assim como aconteceu com as outras, ela foi drogada e não consegue se lembrar de nada. Só a traga de volta. 

Eu desliguei o telefone e caí com um baque surdo. As lágrimas brotaram nos meus olhos e desciam como uma cachoeira, mesmo eu tentando resistir a elas as mesmas não cessaram. Se a dor que eu sentia naquele momento só crescia, cada vez mais insuportável, como a Temari estaria? Como foi guardar essa dor por tanto tempo?

 Minha mãe, que estava fora, entrou e se deparou comigo chorando sem parar. Ela correu até a mim, se ajoelhou e me abraçou. 

- Filho? Por kami-sama, o que aconteceu?

- A Temari mãe. - Disse entre soluços, a voz em ambargada pelo choro. - A Temari foi violentada. 

Minha mãe se afastou um pouco de mim e me olhava incrédula.

- Me explica isso, Shikamaru.

- Isso foi há alguns anos mas só descobriram agora. Ela chorou tanto, mãe! Eu não sabia o que fazer, eu não sei. 

Minha mãe me fez parar de chorar. Disse que ela era vítima da situação, ela que precisava de apoio, não eu. "Se você quer descente para ela, ao menos fique ao lado dela quando ela precisar." Minha mãe disse enquanto subia para o meu quarto convensar com a Temari. 

A porta estava fechada, mas ainda dava para ouvir um choro baixinho vindo do quarto. Minha mãe bateu na porta devagar.

- Temari, querida, posso entrar? - Sem resposta, minha mãe sinalizou para que eu descesse e entrou no quarto mesmo sem a permissão.

TEMARI

Eu voltei a chorar logo que acordei. Na verdade, acordei com uma dor crescente no peito e as lágrimas descendo pelo rosto. Eu ouvi Yoshino  abrir a porta e sequei as lágrimas rapidamente. Ela entrou com um sorriso gentil e sentou ereta na cadeira da escrivaninha. 

- Eu fiquei sabendo do que aconteceu, Temari. Seu irmão pediu para que você voltasse para depor e, obviamente, os dois querem ficar perto de você nesse momento dificil. 

Eu não disse nada, fiquei apenas a olhando, segurando ao máximo as lágrimas. Ela deu um longo suspiro, apoiou-se no encosto da cadeira e encarou o teto. 

- Eu tinha uma amiga na sua idade, ela era linda, chamava  atenção por onde passava. - Yoshino deu um leve sorriso. - Uma vez fomos em uma festival, ela encontrou um cara, eles começaram a flertar e resolveram andar um pouco sozinhos. Eu fiquei receosa em deixar ela sozinha com um desconhecido, mas ela disse que não tinha problema, que não iam fazer nada, só queriam ficar a sós, então os deixei. 

Yoshino deu um longo suspiro e continuou olhando fixamente para o teto.

- Ela desapareceu por dois dias. Quando finalmente foi encontrada estava inteiramente machucada. Ela disse que se recusou a relacionar com ele, que tinha acabado de conhecê-lo mas ele enlouqueceu, espancou ela e a estuprou. Ele a prendeu por mais de um dia, sendo espancada, violentada. Sabe o que disseram pra ela quando descobriram o que tinha acontecido? "Você que pediu", "andando com um desconhecido queria o que?", "Quis sim, mas depois que não gostou quis dar uma de vitima", "com aquela roupa tava pedindo por algo assim". Ela ouviu tantas coisas horriveis, até mesmo vindo da própria familia. Ela não aguentou tanto julgamento e acabou se suicidando. E o cara? Continuou livre, sabe-se lá quantas outras vítimas ele fez depois. 

Ela finalmente olhou para mim. Seu olhos marejados.

- Eu não quero que isso aconteça com você. Eu não vou deixar que isso aconteça. Você tem que fazer um depoimento contra esse canalha, deixem que entrem na sua mente  para ver o que aconteceu de verdade. 

- Dona Yoshino, eu não consigo me lembrar de nada. Eu estava completamente bêbada naquela noite. O Ren disse que eu quis, que nós estavamos bêbados, eu permeti mesmo assim. Não tem como ser estupro se eu pedi, não é? Isso não aconteceu uma vez só.

- Meu Kami-sama, Temari, ele te drogou! E mesmo se não tivesse feito, foi estupro do mesmo jeito! Você não tinha condições de permitir ou negar nada. Se acha que foi cossentido por quê as lágrimas não param? Por quê elas continuam a descer sem parar?

O choro soluçante se iniciou mas uma vez, ainda pior que antes. Yoshino sentou ao meu lado e abraçou, não foi um abraço comum ou um simplismente acolhedor, foi um abraço de mãe. Aquele abraço casa, que te faz sentir como seu coração juntasse novamente, que aquesse a alma, aquele que eu nunca tive. 

- Nada disso foi culpa sua. Você foi vítima assim como tantas outras foram. Você tem que denuciá-lo se não o fizer mais pessoas vão sentir o que você está sentindo. 

Yoshino ficou ao meu lado até que eu melhorasse. Mesmo que antes nós nunca tivemos uma conversa realmente descente, ela foi incrível, acolhedora, amorosa e carinhosa. O conforto que ela dava não era algo que já tinha sentido antes, era algo que só mãe sabia oferecer.

- Eu vou preparar algo para comermos, estarei lá embaixo se precisar de algo. - Disse Yoshino.

- Eu vou - Yoshino me olhou com uma expressão confusa -. Eu vou denunciá-lo.

- Melhor escolha que poderia ter feito.

Yoshino me deu um sorriso gentil e desceu para a cozinha.