Meus pais foram chamados na escola na mesma semana em que usei lingerie pela primeira vez. Infringi as regras de vestimenta várias vezes. Meus pais brigaram comigo e discutiram entre si. Meu pai queria me obrigar a voltar à psicóloga, Annie, e, no início, ele me obrigou. Ele me deixava na clínica e ia trabalhar. Mas eu fugia assim que meu pai virava a esquina.
Então, Annie entrou em contato com o meu pai depois da terceira vez que fiz isso. A partir de então, meu pai ficava comigo na recepção, esperando minha vez chegar. Eu entrava na sala dela e ficava em silêncio por uma hora, apenas olhando para o rosto da pessoa que me ouvia há anos. Em um dia, quase que soltei o que me incomodava, mas isso não chegou a acontecer.
Estava treinando meu autocontrole.
Meu pai desistiu de pagar pelas consultas e de me obrigar. Ele e minha mãe já não sabiam mais o que fazer comigo. Enquanto isso, havia mais coisas que eles não sabiam.
Os garotos vinham cada vez mais até mim, e achei que fosse me sentir a garota mais importante da escola, mas, lá no fundo, me sentia como uma idiota, porque eles poderiam estar me usando, assim como Chaz – a maioria deles realmente só queria algo físico.
Eu escolhia com quem ficar. Olhava para os garotos e percebia o que menos tinha interesse em mim, na pessoa que sou. Era com ele que eu ficaria, porque eu não iria me apaixonar e não iria me sentir idiota de novo.
Tinha um lugar em que as pessoas costumavam ficar. Eu abominava esse lugar, até que passei a usá-lo. Beijei vários meninos no cantinho embaixo da arquibancada. Mas, quando tentavam algo mais – como apalpar meus seios –, eu me afastava, pegava minha mochila e ia embora, deixando o garoto chamar meu nome repetidas vezes. Fiz sexo com alguns garotos que mal conhecia, que não tinha trocado mais do que três palavras.
Quando eu acabava ficando com um garoto que dizia querer me conhecer melhor, quando alguém vinha até mim para me conhecer, isso me tirava do eixo. Sentia falta de ar, suava excessivamente ou sentia calafrios, meu coração acelerava, sentia-me nauseada ou com dor no peito, ou me sentia tonta. Era uma sensação horrível, e eu a senti mais de uma vez, sempre que algum garoto tentava me conhecer, ser meu amigo.
Fui me acostumando com isso. Ou tentando me acostumar. Até que decidi que tentaria controlar isso. Fui a um jogo da escola, em uma sexta-feira, esperando ansiosamente pela festa que teria em seguida, na casa de Derek.
Os pais dele estariam fora durante o final de semana, e ele decidiu fazer a festa de comemoração na casa dele, mesmo sem saber se o time realmente venceria a partida – talvez essa informação seja inútil, mas o time da minha escola venceu.
Todo mundo foi para a casa de Derek. Todo mundo bebia e dançava e se divertia seguindo os ritmos das músicas. Fui, apesar de não conhecer ninguém de verdade. Decidi dar uns goles em uma cerveja, mesmo nunca tendo bebido antes. O primeiro gole foi péssimo, mas fui me acostumando com aquele gosto e, em determinado momento, estava amando. Dancei e me diverti com Derek.
O mundo pareceu girar ao meu redor. Poderia ser efeito da bebida, mas percebi que não. Tentei respirar, mas parecia não haver ar. Senti algo apertando meu peito. Minhas mãos tremiam. Derek arregalou os olhos e soltou um palavrão ao perceber que eu estava passando mal.
Ele pediu licença para as pessoas e me puxou pelo braço, guiando-me por um corredor e por uma escada, até chegar a um quarto – o quarto dele. A porta fechou atrás de nós dois. Continuei tentando respirar, em vão. Ele foi até a janela de vidro e a abriu. Coloquei a cabeça para fora e continuei tentando respirar. Levei as mãos ao coração, que parecia estar sendo esmagado.
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Um verão na minha vida [COMPLETO TEMPORARIAMENTE]
RomanceQuanto um verão é capaz de impactar a vida de uma pessoa? É possível que uma paixão determine o futuro de uma pessoa? Spencer Abrams talvez tenha suas respostas para essas perguntas. Após concluir seu último ano escolar, em meados de junho, Spencer...