Capítulo 28

11 1 0
                                    

Mark diz que vai me esperar na praia enquanto levo minha mala para o quarto, torcendo para que Emily Grant não tenha visto meu bilhete, nem pego meu dinheiro. Observo Mark se distanciar e aperto no botão do elevador. Penso se ficar ali realmente é a coisa certa a se fazer. Penso se não deveria simplesmente ter entrado no carro e ter deixado tudo isso para trás. Teria sido muito mais fácil, mas eu estaria fugindo dos meus problemas.

Preciso pedir desculpas para Zoe e Chaz. Preciso consertar a amizade deles, se é que realmente a destruí. Mordo o lábio. A porta se abre à minha frente. Zoe Black está prestes a sair do elevador, mas franze o cenho ao encarar minha mala. Depois, vira os olhos para mim, arqueando as sobrancelhas.

– Você estava indo embora?

Assinto com a cabeça. Não adianta mentir.

– Eu estava decidida em ir embora, mas terminei desistindo – respondo, entrando no elevador com minha mala. As portas se fecham. Zoe continua lá dentro, agora comigo ao seu lado. Aperto no botão do meu andar. Olho para Black. – Sinto muito mais uma vez.

– Você estava indo embora por ter contado meu segredo para Chaz? – pergunta, depois de respirar fundo.

Sinto um aperto no peito. Sua voz não soou grossa. Aparentemente, ela não quis me alfinetar, mas o que Zoe me diz me faz encolher os ombros. Contei o segredo dela, o segredo que ela passou tantos anos escondendo do melhor amigo.

– Mais uma vez, sinto muito – digo, olhando-a nos olhos.

– Em algum momento, você vai ter que parar de dizer isso – retruca com um breve sorriso. Franzo o cenho. Zoe suspira. – Sei que o que você fez foi errado. Sei que não deveria ter contado meu segredo para Chaz, mas talvez isso não seja algo inteiramente ruim.

As portas do elevador se abrem. Zoe sai primeiro do que eu. Sigo-a pelo corredor até o meu quarto.

– Não foi? – ergo uma sobrancelha.

Ela balança a cabeça em negativa. Abro a porta.

– Talvez estivesse na hora de Chaz ficar sabendo sobre isso. Acho que eu já deveria ter contado há muito tempo, mas tinha medo de destruir a nossa amizade...

– Me desculpe por ter contado. Você tinha o total direito de não querer que ele soubesse. Você tinha o total direito de contar para ele. Isso era algo que pertencia a você, e não a mim, e eu... – minha voz falha. Entro no quarto. Zoe vem atrás de mim e fecha a porta. – Eu não tinha esse direito.

– Você está certa – concorda Zoe, sentando-se na beira da cama de Emily. Vou até a cabeceira e tento pegar o bilhete e o dinheiro discretamente. – Você não deveria ter roubado o que era meu de direito. Você não deveria ter contado um segredo que confiei a você. Mas preciso pensar nisso de maneira positiva. Já passei por muita coisa, e sei que ficar pensando no pior das situações só piorará tudo.

Zoe se deita na cama, como se um vento forte tivesse soprado e a derrubado. Suspira. Olho para ela e vejo que seus olhos estão marejados. Coloco o bilhete e o dinheiro no bolso.

– Acho que não contar a verdade para Chaz teve mais consequências do que eu imaginava – diz ela, colocando os pés na cama e dobrando os joelhos. Seus olhos estão fixos no teto. Quero perguntar o que ela quis dizer com isso, mas ela prossegue sem que eu faça qualquer pergunta. – Sabe quando constatei que amava Chaz mais do que como amigo?

Ela vira o rosto para o lado, para mim. Sento-me na beira da minha cama, balançando a cabeça em negativa. Zoe faz uma careta ao se lembrar de algo. Acho que sei exatamente o que é.

– Na noite em que Carter Bowman tentou me violentar. Ou quando ele me violentou. Como queira dizer – lágrimas escorrem silenciosamente por seu rosto.

Percebo o quanto aquilo ainda a abala. Sinto um aperto no peito. Não sei o que dizer, ou o que fazer. Zoe Black está completamente vulnerável. Parece um copo de cristal prestes a se quebrar. Sei que já devo ter parecido assim em algum momento, depois do que me aconteceu com Chaz.

– Ele estava lá para me ajudar – prossegue, sentando-se e cruzando as pernas. – Foi Chaz quem impediu Carter de ir além. Foi Chaz quem estava lá quando acordei. Todos os meus amigos me ajudaram, exceto Emily, porque, naquela época, ela ainda não era nossa amiga... o que não vem ao caso agora. Mas Chaz e eu conversamos, ele me contou sobre você e me abraçou. Foi quando eu soube. Foi quando eu senti... que o amava.

Fico em silêncio, apenas olhando para ela. Não sei se ela espera que eu diga algo, ou se quer que eu espere que termine de falar. Não sei se ela ainda vai continuar falando. Espero que sim. Eu devo isso a ela, apesar de não saber como Zoe ainda confia em mim. Aparentemente, ela confia mais em mim do que eu mesma. Ou talvez ela só precise desabafar. Primeiro com alguém, depois, com Chaz.

– Naquele mesmo dia, decidi que não contaria para ele o que estava sentindo. Se eu não contasse, talvez o que eu estava sentindo simplesmente sumisse. Tentei negar meus sentimentos por ele. Tentei escondê-los. Ninguém nunca percebeu. Ninguém, além da minha terapeuta, ficou sabendo. Até agora.

– Sinto muito – murmuro, e não sei se me ouviu, porque Zoe continua a falar. Ou talvez ela tenha apenas ignorado minhas palavras.

– Por anos, depois do que Carter fez, tentei seguir em frente. Tentei me relacionar com outras pessoas. – Vejo-a fungar e passar a mão no nariz. – Derek foi o primeiro garoto que deixei que realmente se aproximasse de mim. E acho que tenho uma ideia do motivo.

Mordo o lábio. Não sei se devo entrar nesse assunto, porque é do meu melhor amigo que estamos falando. Mas não digo nada, apenas a escuto.

– Sei que Chaz sente algo por você. Não sei se é real, ou se é algum resquício do acampamento. Acho que nem você nem ele sabem realmente o que sentem um pelo outro.

Balanço a cabeça em afirmativa. Preciso concordar com ela quanto a isso. Não sei o que sinto. Ou talvez não queira saber. Ela respira fundo.

– Mas ver os dois interagindo... isso me fez perceber que preciso seguir em frente. Não era apenas por Carter que eu estava deixando de aproveitar a vida. Claro que o ocorrido tem sua parcela de culpa em algumas situações, mas não em todas. Recusei vários garotos por causa de Chaz. Inconscientemente, é claro. Agora, percebo isso. Por mais que soubesse que nós não aconteceríamos, algo dentro de mim ainda tinha esperança. Então... eu estava simplesmente esperando. Por ele.

Zoe passa as mãos nos olhos vermelhos, de onde várias lágrimas escapam. Quero abraçá-la, mas não sei se devo. Meus olhos estão marejados. Não posso chorar. Não posso. Não agora.

– Ver você com Chaz me fez perceber que não tenho nenhuma chance. Eu já sabia disso, há muito tempo, mas não queria acreditar. Chaz nunca ficou a fim de uma garota como ele é, ou foi, a fim de você. Você é a primeira e única garota que já o fez chorar, que já o deixou vulnerável. Você desperta vários sentimentos nele. Eu quero algo real. Algo além de um sonho, porque ficar com Chaz é exatamente isso. Um sonho. Pelo menos, para mim.

Ela olha para as mãos entrelaçadas sobre as pernas cruzadas. Suspira. Depois, ergue os olhos e volta a me encarar.

– Depois do que percebi, Derek surgiu. Eu sabia que precisava seguir em frente. Sabia que precisava deixar aqueles sentimentos para trás. Então... – dá de ombros. – Passei anos fugindo do que sentia, passei anos tentando evitar mais sofrimento, exatamente como uma pessoa que conheço – dá uma breve risada, encarando-me. Sorrio. – Agora está na hora de parar de fugir. Agora preciso lidar com isso. Antes tarde do que nunca.

Levanto-me e me acomodo ao lado de Zoe Black. Passo o braço por seus ombros e a abraço fortemente enquanto permito que chore, seus ombros tremendo sob meus braços. Sinto um aperto no peito. Sei o quanto deve doer. Sei o quando ela deve estar sofrendo.

– Antes tarde do que nunca – murmuro, derramando algumas lágrimas pelo que estou lhe causando.

Um verão na minha vida [COMPLETO TEMPORARIAMENTE]Onde histórias criam vida. Descubra agora