Capítulo 49

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Aproveito o voo para dormir.

Fico sentada ao lado de Derek, dividindo o fone de ouvido com ele. E, enquanto ouço a música Stigmatized, da banda The Calling, adormeço com a cabeça no ombro dele. E a cabeça dele na minha.

Quando acordo, o avião já está parado. Derek e eu não dizemos nada um para o outro. Ficamos em silêncio enquanto descemos e pegamos nossas malas. São umas dez da noite, então, consegui recuperar um pouco do sono. Por um lado, espero que minha mãe esteja acordada para me receber. Mas, por outro, espero que esteja dormindo para que eu possa dormir também.

Quando chego na porta de casa, vejo que a luz da sala está acesa, então, sei que ela está acordada. Despeço-me de Derek, que veio no mesmo táxi que eu para me ver chegar em casa, acenando para ele. O veículo ganha velocidade e segue pela rua na direção da casa do meu melhor amigo.

Sinto um aperto no peito. Estou em casa, mas sinto um vazio no coração. É como se algo – ou alguém – estivesse faltando. Respiro fundo e abro a porta. Assim que o faço, arregalo os olhos, porque minha mãe não está sozinha, meu pai está com ela, e os dois correm na minha direção e me abraçam, fazendo-me derrubar minha bolsa no chão.

Quando nos afastamos, não sei quantos minutos depois, minha mãe passa a mão no meu rosto e me encara.

– Nós precisamos conversar.

– Agora? – quase gaguejo, boquiaberta.

– Agora – responde meu pai, fazendo-me olhar para ele.

Assinto com a cabeça e os sigo até a mesa da sala de jantar. Minha mãe preparou algo para comermos. Juntos. Nós não comemos juntos há anos. Sento-me no meu lugar de sempre, na cabeceira da mesa, enquanto meus pais se sentam um de frente para o outro. Nós nos servimos em silêncio do macarrão e da carne.

– Quando estiver pronta – começa meu pai, levando uma garfada à boca –, pode começar.

– Isso pode levar a noite toda – digo com um suspiro, esperando que desistam, que deixem para amanhã.

– Isso pode levar a semana toda – retruca minha mãe, colocando a mão na minha. Olho para ela. – Temos todo o tempo do mundo para você, Spencer.

Mordo o lábio. Meus olhos ficam marejados. Não posso chorar. Não agora.

– Não vamos deixar para amanhã o que podemos fazer hoje – diz meu pai, fazendo-me olhar para ele. – Já deixamos para amanhã coisas demais.

Ele tem razão. Sei que tem, mas não me sinto pronta para conversar com eles sobre isso. Mas acho que nunca vou me sentir pronta para ter essa conversa com eles. Como contar para os seus pais sobre a sua primeira vez? Nunca tive aula sobre isso. Ninguém nunca me ensinou.

Respiro fundo e como um pouco do macarrão. Está uma delícia, como sempre. Minha mãe cozinha muito bem, mas não tão bem quanto meu pai. Remexo-me na cadeira até encontrar uma posição confortável, mas sei que não é a posição que me deixa desconfortável, é o assunto que iremos tratar.

Preciso acabar logo com isso.

Então, começo a contar o que aconteceu no acampamento, por mais que eles já saibam de algumas coisas. Eles sabem o que Chaz contou no programa. Sabem o que circula por aí. Agora vão saber o que aquilo significou para mim.

Conto tudo e, à medida que falo, seus olhos se enchem de lágrimas, mas nenhum dos dois as derrama, porque querem ser fortes por mim. Em determinado momento, paro de comer e me concentro na minha história. Fito meu prato, enquanto relembro tudo que aconteceu no acampamento. Meus ombros tremem. Lágrimas escorrem.

Um verão na minha vida [COMPLETO TEMPORARIAMENTE]Onde histórias criam vida. Descubra agora